Martinho Júnior,
Luanda
3 – Antes era o “complexo
de Kissinger” que prevaleceu durante praticamente 18 anos, desde a batalha pela
independência que viria a ser proclamada pelo MPLA a 11 de Novembro de 1975,
até 19 de Maio de 1993, data em que o Presidente Bill Clinton, aferido ao “lobby”
dos minerais e às novas elites sul africanas, (ele é um identificado “rhodes
schollarship”) reconheceu formalmente o governo angolano saído da independência
e que havia acabado de estrear eleições com carácter multipartidário no país.
Foram 18 anos de
anacronismos em que em função da Guerra Fria os Estados Unidos deram velada
cobertura ao regime racista sul africano, fazendo prolongar o sofrimento e os
conflitos em cadeia na África Austral, com sobrecargas terríveis para Angola e
para o movimento de libertação.
A manutenção dum
regime fascista residual e anacrónico garantiu na África do Sul, entre muitas
outras “vantagens”, possibilidade às corporações mineiras, em especial aquelas
que exploravam o ouro, a platina e os diamantes, uma imensa reserva de
mão-de-obra submissa e barata, uma mão-de-obra praticamente escrava, conforme o
testemunho da antropóloga Janine Farrell Roberts.
A Declaração do
Presidente Bill Clinton, a 19 de Maio de 1993, iniciava assim:
“É um prazer para
mim dar as boas-vindas ao arcebispo Tutu.
Como todos os
americanos sabem, ele tem sido um verdadeiro líder na luta pela democracia e
para o fim do apartheid na África do Sul.
Há quase uma década
ele recebeu o Prémio Nobel da Paz pelos seus esforços e gostaria de lhe
assegurar que os Estados Unidos da América continuam empenhados para a criação
de uma democracia não racial na África do Sul.
Gostaria também de
discutir uma decisão que sei que é muito importante para o arcebispo Tutu e
outros líderes, para a democracia e os direitos humanos em África.
Tenho o prazer de
anunciar o reconhecimento pelos Estados Unidos da América do Governo de Angola.
Esta decisão
reflecte a grande prioridade que a nossa administração dá à democracia.
Em 1992, depois de
anos duma amarga guerra civil, o povo de Angola viveu eleições multipartidárias
que os Estados Unidos, as Nações Unidas e outros fiscalizaram e consideraram
livres e justas”…
4 – Os Estados
Unidos jamais deixaram de acompanhar atentamente os primeiros passos da “democracia
representativa” em Angola, avaliando e optando, fazendo sentir no terreno o
peso de sua influência, senão mesmo ingerência, muito para lá das corporações
que lhe são afins.
Esse peso foi-se
fazendo sentir na sucessão de conversações em prol da procura dos caminhos em
direcção à paz, pelo que os Estados Unidos aproveitaram para fazer prevalecer a
moldagem de sua conveniência: “democracia representativa”, capitalismo e neo
liberalismo!
A administração
democrata de Bill Clinton foi a que mais abertura havia concedido aos
afro-americanos, em estreita sintonia com a emergência das novas elites sul
africanas durante os primeiros anos da era post “apartheid” na África do Sul
(tandem Nelson Mandela – Thabo M’Beki), o que reflectia a densidade do “lobby”
dos minerais simultaneamente nos Estados Unidos, na África do Sul e na África
Austral, com reflexos importantes em Angola.
Essa via foi
decisiva para a deriva de Angola na direcção duma “economia de mercado” de
tendência neo liberal, apostada na formação duma nova elite política, económica
e financeira em Angola, uma nova elite aferida aos desígnios dum processo de
globalização que correspondia aos interesses de sua hegemonia uni-polar, mesmo
não tornando possível o arranque dum “plano Marshall” para Angola.
Com tanta riqueza
natural por explorar, com um sector de prospecção e exploração petróleo (e gás)
funcional e um sector de diamantes já tradicional, a síntese entre contrários
tornava-se proverbial.
Foi uma via
caracterizada pois por um processo dialéctico: entre a contradição tornada
antagónica das posições do governo angolano e de Savimbi inicialmente
projectado pelo “lobby” dos minerais, produziu sobre os escombros da guerra, a
síntese de conveniência que deu início à formação dessa nova elite, uma nova
elite capaz de traduzir os interesses e as conveniências corporativas,
inclusive do poderoso cartel de diamantes que de há um século havia sido um dos
motores da revolução industrial na África do Sul e na África Austral, como um
dos dinamizadores do império britânico em África na ponta final de sua
manifestação colonialista e mais tarde, um dos “insuspeitos” promotores do “apartheid”
(Harry Oippenheimer haveria mesmo de fazer parte da “oposição branca liberal”
no Parlamento do regime do “apartheid”)!
Os Estados Unidos
jogaram com tudo em Angola para, de escombro em escombro fazer prevalecer a
linha que melhor correspondia aos seus interesses e conveniências de império!
Foto: Visita de
Bill Clinton à África do Sul e encontro com Nelson Mandela a 19 de Julho de
1997; esse encontro é uma evidência das políticas universais do “lobby” dos
minerais.
Livros a consultar:
- Angola – EUA: os
caminhos do bom senso de José Patrício, o primeiro Embaixador de Abgola nos
Estados Unidos.
- Jogos Africanos
de Jaime Nogueira Pinto
A consultar na
Internet:
- In conversation
with Bill Clinton –
- Mandela Rhodes
Foundation – http://www.rhodeshouse.ox.ac.uk/page/mandela-rhodes-foundation
- Harry Oppenheimer
– http://en.wikipedia.org/wiki/Harry_Frederick_Oppenheimer;
http://www.thesouthafricaguide.com/famous-south-africans-and-history/south-african-history-%E2%80%93-famous-people-of-south-africa-harry-oppenheimer/
- 25 anos depois – http://paginaglobal.blogspot.com/p/25-anos-depois.html
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