Nuno Saraiva – Diário de Notícias, opinião
Definitivamente,
Portugal é um país de ingratos. O altruísta ministro das Finanças, cujo único
propósito na tarefa de destruir a economia portuguesa é retribuir "a
dádiva" que o País lhe deu ao investir na sua educação ao longo de décadas,
é um mal-amado e um incompreendido.
E vai daí, Vítor
Gaspar decidiu que a maneira de corresponder ao esforço nacional na sua
sabedoria é com um saque fiscal.
O País,
manifestamente, não entende a sua generosidade. Mal- -agradecido pela malfadada
reforma da TSU que poria os trabalhadores a financiar os patrões, e, não
satisfeito com a vingança brutal da sobretaxa e dos escalões do IRS que reduzem
de forma sanguinária os rendimentos das famílias, ainda tem a lata de desatar a
criticar e a insultar um ministro que quer apenas salvar a Pátria. Mesmo que o
FMI - que já assumiu que também se enganou nas previsões -, a Comissão
Europeia, o Presidente da República, a Universidade Católica ou um povo
inteiro, o tal que é "o melhor povo do mundo", desatem a gritar que
caminhamos para o abismo. Mesmo que o País se queixe que tem fome; que fique a
saber-se que não há dinheiro para uma escola do Algarve dar de comer a uma
criança de cinco anos, apenas porque os pais têm uma dívida de pouco mais de 30
euros; que há empresas a fechar todos os dias atirando milhares para o
desemprego; que um bando de comunistas perigosos - tipo Marques Mendes, Pacheco
Pereira, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix ou outros que tais - sejam
cúmplices ou instiguem à violência contra o roubo perpetrado através do aumento
dos impostos; e que, imagine-se, estamos perante um ministro, contavam os
jornais, que é "detestado pelo CDS e por setores do PSD", vá lá
saber-se porquê. Tudo gente desagradecida.
Vítor Gaspar pode
até ter sido um aluno brilhante. Pode, inclusive, ser um académico rico de
competência. Mas isso não faz dele, nem de ninguém, um governante de
excelência. A verdade, verdadinha, é que, até agora, o todo-poderoso ministro
das Finanças não acertou uma. Falharam todas as previsões macroeconómicas dos
últimos 15 meses. Da redução da dívida pública ao acerto do défice externo, da
taxa de desemprego às receitas fiscais arrecadadas pelo Estado, das promessas
de que 2013 seria o ano da recuperação - em que parte do Orçamento do Estado é
que ela está prevista? - à devastadora execução orçamental em curso, ou do
compromisso de que o ajustamento português se faria "dois terços do lado
da despesa e um terço do lado da receita". Isto para já não falar da perda
de legitimidade democrática e de representação de uma maioria parlamentar que
desonrou todas as promessas que a levaram ao poder. Tudo fracassou.
Na iniciativa
privada, tamanhos maus resultados seriam garantia de uma carta de despedimento.
Porém, no Governo da República, a pretexto da "credibilidade externa de
Portugal", é sinónimo de continuidade garantida no posto de trabalho.
Pudera! Continuamos a fazer a vontade à Alemanha da senhora Merkel - como a
Europa quase inteira - em vez de cuidarmos do interesse nacional. Ninguém advoga,
digo eu, que os compromissos com os nossos credores não devem ser honrados.
Ninguém defende, digo eu, que o memorando a que estamos sujeitos seja, pura e
simplesmente, rasgado. Não! Do que já ninguém parece ter dúvidas, à exceção do
primeiro-ministro "colonizado" pelo dogma de Vítor Gaspar, é que não
há salvação possível sem crescimento económico. E que este só será possível
quando a dívida monstruosa, que nos custa anualmente quase oito mil milhões de
euros, for renegociada.
A todas estas
evidências, Passos e Gaspar viram a cara. Em Bruxelas dizem até que se sentem
confortáveis com o que negociaram com a troika, mesmo que gregos e espanhóis
berrem que a austeridade do "custe o que custar" tem efeitos
devastadores.
De facto, o País
tolerante, pacífico, e que ao longo de ano e meio demonstrou estar disposto a
partilhar os sacrifícios e a ser compreensivo com a necessária austeridade, não
merece um ministro das Finanças tão competente assim.
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