Jornal de Notícias
O maestro Claudio
Hochman apresentou, este sábado, como "uma manifestação cultural,
suprapartidária, suprassindical" o protesto que juntou milhares na Praça
de Espanha, em Lisboa, contra a austeridade. O cenário repetiu-se em várias
cidades de norte a sul do país.
Alguns milhares de
manifestantes que ocupam quase na totalidade a Praça de Espanha, em Lisboa,
assistiram a uma orquestra sinfónica a interpretar a quinta sinfonia de
Beethoven, no âmbito da manifestação cultural que se associa ao apelo "Que
se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!"
Entre a
assistência, estava o músico Luís Varatojo, fundador de A Naifa, que disse à
agência Lusa que participará no protesto para "correr com os incompetentes
que governam cá dentro e lá fora". E acrescentou: "nunca fomos
dependentes de subsídios do Estado e o que o Governo está a fazer é a
destruição total da economia e a matar a iniciativa provada".
Ana Bacalhau e José
Pedro Leitão, dos Deolinda, afirmaram à Lusa que sentiram necessidade de
mostrar o descontentamento, tal como qualquer outro cidadão. "O que o
Governo está a fazer é mais um golpe à criação. Para tomar atitudes é preciso
ter ideias e criatividade e magoar o menos possível as pessoas", disse a
vocalista do grupo.
Pedro Gonçalves,
contrabaixista dos Dead Combo, alertou para o facto de a situação estar a
tornar-se "insustentável". "Eu não vejo isto hoje como uma
manifestação de artistas. É um projeto e é essa a maneira de nos expressarmos,
disse o músico dos Dead Combo, que irá interpretar hoje com o fadista Camané os
temas "Inquietação", de José Mário Branco, e "Vendaval", de
Tony de Matos.
Artistas
portugueses saíram à rua, este sábado, em Lisboa e em mais de duas dezenas de
localidades no país para protestar contra as medidas de austeridade.
No Porto,
centenas de manifestantes juntaram-se na Praça D. João I, no Porto, entre os
quais apoiantes do movimento internacional "Global Noise", com
recurso a tachos e panelas para tornar o protesto mais ruidoso.
Em Braga,
cerca de 600 pessoas estiveram na manifestação contra os cortes na Cultura que
teve início com a voz de Adolfo Luxúria Canibal a dar o alerta, "sem
cultura o homem transforma-se em cão".
Em Viseu,
mais de 150 pessoas, através da música, poesia, ou de megafone em punho,
manifestaram a indignação para com os "Robins do século XXI, que roubam
aos pobres".
No Algarve, cerca
de 300 pessoas juntaram-se na Doca de Faro, depois de uma concentração no
Jardim da Alameda e marcha por várias artérias da cidade. O palco está montado
na Doca para atores, cantores e músicos protestarem contra as medidas de
austeridade.
"Chega de
desemprego, queremos as nossas vidas" foram algumas das palavras de ordem
entoadas pelos manifestantes, alguns dos quais munidos de tachos, panelas e
caçarolas.
Em Viana dos
Castelo, a iniciativa teve a adesão de cerca de 350 pessoas. Na Praça da
República ouviram-se várias intervenções e discursos de trabalhadores,
desempregados e jovens que subiram ao "palco", improvisado no secular
chafariz que ali existe, também para declamar poesia e cantar.
O protesto foi
organizado pelo "Movimento cívico Vianense - Manif. com vassoura na
mão!", que simbolicamente afirma querer dar uma "vassourada no
Governo", o que levou várias pessoas a participarem empunhando vassouras.
As críticas às
medidas de austeridade e gritos de ordem exigindo a saída do Governo e contra a
'troika' foram a tónica dominante, mas as declarações do cardeal patriarca de
Lisboa, que afirmou que "não se resolve nada contestando", tiveram
forte eco na principal praça de Viana do Castelo. "Fez-me lembrar o senhor
cardeal Cerejeira, que na ditadura benzia navios com jovens que partiam para a
guerra", afirmou José Carlos Barbosa, numa das intervenções mais
ovacionadas da tarde.
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