sábado, 13 de outubro de 2012

Portugal: Milhares em "manifestação cultural, suprapartidária, suprassindical"

 

Jornal de Notícias
 
O maestro Claudio Hochman apresentou, este sábado, como "uma manifestação cultural, suprapartidária, suprassindical" o protesto que juntou milhares na Praça de Espanha, em Lisboa, contra a austeridade. O cenário repetiu-se em várias cidades de norte a sul do país.
 
Alguns milhares de manifestantes que ocupam quase na totalidade a Praça de Espanha, em Lisboa, assistiram a uma orquestra sinfónica a interpretar a quinta sinfonia de Beethoven, no âmbito da manifestação cultural que se associa ao apelo "Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!"
 
Entre a assistência, estava o músico Luís Varatojo, fundador de A Naifa, que disse à agência Lusa que participará no protesto para "correr com os incompetentes que governam cá dentro e lá fora". E acrescentou: "nunca fomos dependentes de subsídios do Estado e o que o Governo está a fazer é a destruição total da economia e a matar a iniciativa provada".
 
Ana Bacalhau e José Pedro Leitão, dos Deolinda, afirmaram à Lusa que sentiram necessidade de mostrar o descontentamento, tal como qualquer outro cidadão. "O que o Governo está a fazer é mais um golpe à criação. Para tomar atitudes é preciso ter ideias e criatividade e magoar o menos possível as pessoas", disse a vocalista do grupo.
 
Pedro Gonçalves, contrabaixista dos Dead Combo, alertou para o facto de a situação estar a tornar-se "insustentável". "Eu não vejo isto hoje como uma manifestação de artistas. É um projeto e é essa a maneira de nos expressarmos, disse o músico dos Dead Combo, que irá interpretar hoje com o fadista Camané os temas "Inquietação", de José Mário Branco, e "Vendaval", de Tony de Matos.
 
Artistas portugueses saíram à rua, este sábado, em Lisboa e em mais de duas dezenas de localidades no país para protestar contra as medidas de austeridade.
 
No Porto, centenas de manifestantes juntaram-se na Praça D. João I, no Porto, entre os quais apoiantes do movimento internacional "Global Noise", com recurso a tachos e panelas para tornar o protesto mais ruidoso.
 
Em Braga, cerca de 600 pessoas estiveram na manifestação contra os cortes na Cultura que teve início com a voz de Adolfo Luxúria Canibal a dar o alerta, "sem cultura o homem transforma-se em cão".
 
Em Viseu, mais de 150 pessoas, através da música, poesia, ou de megafone em punho, manifestaram a indignação para com os "Robins do século XXI, que roubam aos pobres".
 
No Algarve, cerca de 300 pessoas juntaram-se na Doca de Faro, depois de uma concentração no Jardim da Alameda e marcha por várias artérias da cidade. O palco está montado na Doca para atores, cantores e músicos protestarem contra as medidas de austeridade.
 
"Chega de desemprego, queremos as nossas vidas" foram algumas das palavras de ordem entoadas pelos manifestantes, alguns dos quais munidos de tachos, panelas e caçarolas.
 
Em Viana dos Castelo, a iniciativa teve a adesão de cerca de 350 pessoas. Na Praça da República ouviram-se várias intervenções e discursos de trabalhadores, desempregados e jovens que subiram ao "palco", improvisado no secular chafariz que ali existe, também para declamar poesia e cantar.
 
O protesto foi organizado pelo "Movimento cívico Vianense - Manif. com vassoura na mão!", que simbolicamente afirma querer dar uma "vassourada no Governo", o que levou várias pessoas a participarem empunhando vassouras.
 
As críticas às medidas de austeridade e gritos de ordem exigindo a saída do Governo e contra a 'troika' foram a tónica dominante, mas as declarações do cardeal patriarca de Lisboa, que afirmou que "não se resolve nada contestando", tiveram forte eco na principal praça de Viana do Castelo. "Fez-me lembrar o senhor cardeal Cerejeira, que na ditadura benzia navios com jovens que partiam para a guerra", afirmou José Carlos Barbosa, numa das intervenções mais ovacionadas da tarde.
 

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