quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Portugal: QUEM É ANTÓNIO BORGES? E OS “IGNORANTES” QUE LHE RESPONDERAM

 

Mafalda Ganhão - Expresso
 
Do percurso académico às recentes polémicas, que valeram ao atual consultor do Governo para as privatizações as críticas e a indignação de vários setores. Veja também as reações a António Borges, que surgem todos os dias.
 
Em tempos difíceis para o Governo - e assumindo o protagonismo que justifica ser conhecido como o 12º ministro de Pedro Passos Coelho - o consultor para as privatizações, António Borges, tem revelado particular habilidade para provocar polémicas.
 
Tem sido assim cada vez que se pronuncia sobre uma matéria, seja o anúncio da privatização da RTP, sejam as afirmações que lhe valeram ser acusado de defender a redução dos salários em Portugal para fazer crescer a economia, ou a mais recente tirada classificando de "ignorantes" os "empresários que se apresentaram contra" a medida da TSU.
 
Nascido em 1949, no Porto, António Borges licenciou-se em Economia, na Universidade Técnica de Lisboa, tendo feito mestrado e doutoramento na Universidade de Stanford, EUA.
 
Vice-governador do Banco de Portugal entre 1990 e 1993, cargo do qual se demitiu, na sequência de um duro braço de ferro com o então ministro das Finanças, Braga de Macedo, deixou depois o país, rumo a França, onde se tornou reitor da INSEAD, uma das mais prestigiadas escolas de negócios da Europa.
 
Para trás deixava um período de convivência difícil com Braga de Macedo, uma etapa que deixou marcas na relação entre os dois sociais-democratas - agora, curiosamente, ambos consultores do Governo.
 
Saída do Banco de Portugal em conflito com o ministro
 
É preciso recuar a 1993 para o entender. Com a economia portuguesa em recessão, o desemprego e a inflação a subirem, António Borges e o antigo ministro de Cavaco Silva não se entendiam quanto à execução da política monetária e cambial. Braga de Macedo acaba por criticar duramente a atuação do Banco de Portugal, num discurso que muitos responsabilizaram por provocar a subida das taxas de juro, o que acelerou a desvalorização do escudo e provocou um terramoto na bolsa.
 
António Borges resolve demitir-se. Retira-se inicialmente para a sua propriedade alentejana em Alter do Chão, dedicando-se à agricultura, até partir para França, remetendo-se por alguns anos à vida académica.
 
Em 2000 assumiu a vice-presidência da Goldman Sachs, em Londres (o jornalista do "Le Monde" escreveu no livro "O Banco - Como o Goldman Sachs dirige o mundo" que o trabalho de Borges na instituição "é um mistério"), para mais tarde se tornar director do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional, de onde se demitiu em 2011, alegando "razões pessoais".
 
Regressa então a Portugal e, ao assumir as funções de consultor, opta por um desempenho (muito criticado por alegado excesso de poder) em que o lema, em bom português, parece ser o de "partir a louça toda".
 
Como administrador, passou ainda por várias empresas, entre as quais a Sonae, Petrogal, Jerónimo Martins (para onde voltou recentemente), Cimpor, Vista Alegre, além do Citibank e BNP Paribas.
 
Otimista em relação ao programa de reajustamento
 
O sector banqueiro foi outro dos que manifestou desconforto pelas posições de António Borges, não só pelo modelo por ele defendido para a capitalização da banca, como na sequência da ida do consultor à Assembleia da República, em Maio deste ano, onde defendeu (e explicou porquê) a venda das acções da CGD na Cimpor à brasileira Camargo Corrêa, ao preço "correto" de 5,5 euros por ação.
 
António Borges é, ainda assim, um optimista, que em agosto surpreendeu pelo entusiasmo que levou à Universidade de Verão da JSD. Em Castelo de Vide o ex vice-presidente do PSD considerou que "a situação de bancarrota desapareceu" e, garantindo que "o programa de reajustamento português está a correr melhor do que se pensava", elogiou-o como aquele que será "um dos ajustamentos mais rápidos dos últimos tempos em caso de intervenção externa".
 
Esperam-se novos capítulos.
 

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