Martinho Júnior, Luanda
7 – O apogeu dos
relacionamentos durante a 1ª fase após o reconhecimento do governo angolano
entre Angola e os Estados Unidos, ocorreu na era do republicano George W. Bush,
levando à consolidação das poderosas corporações multinacionais norte
americanas, aquelas que exerciam actividades em Angola.
George W. Bush iria
ainda mais longe em relação a África: criou o AFRICOM (Africa Command) do
Pentágono, tornando pública a iniciativa em Fevereiro de 2007, para o activar
oficialmente a 1 de Outubro de 2008, já no fim do seu exercício, realinhando as
forças com métodos inovadores:
Integrou para além
da capacidade militar, “capacidade civil” de ingerência, por via da integração
dos serviços de inteligência e até de agências tão “inocentes” como a USAID, de
forma a melhor articular os dispositivos e os instrumentos à disposição!
O democrata Barack
Hussein Obama já encontrou o AFRICOM funcional e “esmerou” no vigor das medidas
cujo curso se haviam iniciado no continente africano, introduzindo em larga
escala o uso dos “drones”, tirando partido por outro lado do CYBERCOMMAND…
Em 2010 as
estratégias de tensão implementaram-se em África, com afectações em cada uma
das cinco regiões em que o AFRICOM dividiu o continente.
O ataque ao regime
de Kadafi na Líbia em 2011, minuciosamente preparado, resultou de tal maneira
que nem no Conselho de Segurança da ONU houve qualquer espécie de entrave à
acção do AFRICOM, da NATO e dos aliados árabes de tendência sunita com a Arábia
Saudita à cabeça.
Alguns grupos de
combatentes líbios, que antes haviam estado “funcionais” no Afeganistão (“freedom
fighters” da década de 80) e no âmbito da Al Qaeda, incorporaram as fileiras
dos “rebeldes”, revelando a capacidade de manipulação estratégica dos Estados
Unidos, tirando partido de suas alianças com os sunitas árabes, apesar do 11 de
Setembro de 2001!
Os Estados Unidos
indiciam estar a recuperar os “freedom fighters” da era do republicano Ronald
Reagan, os fundamentalistas islâmicos e os fundamentalistas cristãos, para
melhor introduzirem capacidades neo conservadoras, a fim de melhor filtrar os
seus conceitos de “democracia representativa” adaptados aos termos capitalistas
neo liberais, em especial ali onde abunda o petróleo!
Se na Líbia
integraram o Libyan Islamic Fighting Group (LIFG) na estratégia, depois do
êxito da independência do Sudão do Sul começaram também em Angola a conceder um
apoio maior à UNITA, com Isaías Samakuva à cabeça, assim como a Abel
Chivukuvuku e ao CASA-CE; desse modo é a administração democrata de Barack
Hussein Obama que está a repescar gente apoiada pelo Conservative Caucus
durante a Guerra Fria, a fim de agora “recompor as fileiras” dos seus
interesses históricos tirando partido de vínculos tradicionais!
Barack Hussein
Obama, nos dois primeiros anos da sua administração, “herdou” um ambiente no
Pentágono extremamente “refinado”, numa altura em que Angola, sem
possibilidades dos países ocidentais sustentarem financeiramente amplos
créditos para a sua reconstrução e reconciliação nacional, estabeleceu melhores
ligações com o Brasil e a China, beneficiando dos acordos que com eles foi
realizando.
A China tem
garantido o grosso das iniciativas em curso relativos à reconstrução nacional,
coisa que nenhum país ocidental, Estados Unidos incluído, está em condições de
garantir em relação aos países do Sul, muito pelo contrário (em conformidade
com a crise)!
A reconciliação, a
reconstrução nacional e a paz são questões legítimas e incontornáveis para
Angola, que chegam com décadas de atraso substancialmente por que Angola,
fragilizada e vulnerável, teve de procurar ultrapassar todos os escolhos que se
foram colocando no caminho, os principais deles semeados pelos Estados Unidos,
ou incentivados pela sua estratégia de hegemonia, com toda a panóplia de
colaboração que vai detendo “no terreno”!
Agora que com todos
os vícios e defeitos o calar das armas vigora há pouco mais de 10 anos, as
estratégias de tensão em curso começam a colocar em risco os poucos ganhos
alcançados pelo povo angolano, na altura precisa em que o estado angolano pode
começar a tratar as questões sociais com mais acuidade e visando um maior
equilíbrio!
8 – A 2ª fase de
relacionamentos após o reconhecimento do governo angolano por parte dos Estados
Unidos, ganhou portanto corpo com a entrada em acção do democrata Barack
Hussein Obama em Novembro de 2008, resultando desde logo no alastramento de
acções em Angola no quadro da USAID, ou da NED, como da “Open Society”, uma
parte delas tendo que ver com o exercício da “democracia representativa” que se
tornou mais enfática a partir de 14 de Abril de 2002.
Tudo isso foi sendo
feito num quadro integrado de que a AFRICOM possui um papel director.
Em 2010
intensificaram-se as estratégias de tensão incentivadas pelos meios norte
americanos também em Angola, estratégias essas que estão em curso abrangendo os
factores sócio-políticos, procurando refinar o estado angolano em função dos
interesses de agentes identificáveis que têm sido disseminados ao longo do
processo histórico, evocando desde a necessidade de bom governo, de luta contra
a corrupção, até aos direitos humanos, ou à necessidade duma vigorosa “imprensa
independente”…
Os Estados Unidos
se levaram o processo angolano ao ponto de facilitar a introdução dum enorme
fosso de desigualdades no tecido social, algo nunca visto antes desde que
Angola se tornara independente, (com exemplos inequívocos de “apartheid”
social), a partir de 2010 passaram a insuflar dialecticamente essa “segunda
vaga” de contradições, explorando seus vínculos com sectores da oposição que
agora estão a surgir mobilizando precisamente os deserdados que foram criados
em função dos seus estímulos e impulsos durante os vinte e cinco anos da
formatação do quadro do capitalismo neo liberal!
Para esse efeito
estão mobilizados instrumentos importantes “no terreno” que vão operando um
leque muito variado de entidades, organizações políticas, organizações sociais
e cada vez mais “media independentes de referência”!
Através do “The
grant listings posted here are from the 2010 Annual Report, published in August
2011” por exemplo, constata-se que o NED, que tem sido apontado como uma das
instituições norte americanas que dá cobertura à CIA, financiou as seguintes
organizações em Angola:
- Acção de
Solidariedade & Desenvolvimento (ASD) – 30.895 USD;
- Associação dos
Naturais e Amigos da Cela (ASNAC) – 25.000 USD;
- Cooperação de
Iniciativas Locais (COOPIL) – 34.901 USD;
- Fórum dos Agentes
Eleitorais (FAE) – 28.000 USD;
- Instituto
Angolano de Sistemas Eleitorais e Democracia (IASED) – 40.773 USD;
- Nacional
Counseling Center (NCC) – 40.000 USD.
Em 2011 foram as
seguintes as entidades beneficiadas de acordo com o que ainda foi publicado
pela NED:
- Acção Angolana
Para O Melhoramento E Apoio Ao Meio Rural – 32.150 USD;
- Acção de
Solidariedade & Desenvolvimento (ASD) – 33.092 USD;
- Associação de Mulheres das Áreas Rurais (AMAR) – 29.000 USD;
- Associação para
Promoção do Desenvolvimento Endógeno das Comunidades de Base (APRODEC) – 29.600
USD;
- Fórum dos Agentes
Eleitorais (FAE) – 28.624 USD;
- Maka Angola –
64.000 USD;
- National
Counselling Center (NCC) – 40.000 USD.
O National
Endowment for Democracy (NED), é preciso lembrá-lo, é um dos instrumentos de
que se servem os Estados Unidos nas suas ingerências em muitas paragens do
mundo, entre eles Cuba, em relação aos processos sócio-políticos do país, na
tentativa de bloqueá-los a fim de, explorando os êxitos, fazer germinar e
crescer os processos sócio-políticos regidos por sua conveniência!
Se os Estados
Unidos experimentam dificuldades no “laboratório” de Cuba, sabem que esse tipo
de ementas trazem normalmente frutos em países sujeitos a décadas de choque,
países fragilizados e vulneráveis, entre os quais Angola!
Por outro lado, no
momento em que por exemplo a Rússia interditou a acção da USAID, no momento em
que os países progressistas da América vêm denunciando a actividade perniciosa
da USAID lembrando que a agência serve de cobertura aos serviços de
inteligência norte americanos, Angola “abriu-se” à agência que elabora acordos
bilaterais até com o Banco Nacional de Angola!
A denúncia da
colaboração da USAID com a CIA, foi feita já na década de 60 do século passado
por William Blum!
O Wikipedia
refere-se assim às críticas ao USAID no âmbito político:
“Some critics say
that the US government gives aid to reward political and military partners
rather than to advance genuine social or humanitarian causes abroad. William
Blum has said that in the 1960s and early 1970s USAID has maintained a close
working relationship with the CIA, and Agency officers often operated abroad
under USAID cover. The 1960s-era Office of Public Safety, a now-disbanded
division of USAID, has been mentioned as an example of this, having served as a
front for training foreign police in counterinsurgency methods.
Folha de São Paulo, Brazil's largest newspaper,
accused USAID of trying to influence political reform in Brazil in a way that
would have purposely benefited right-wing parties. USAID spent $95,000 US in
2005 on a seminar in the Brazilian Congress to promote a reform aimed at
pushing for legislation punishing party infidelity. According to USAID papers
acquired by Folha under the Freedom of Information Act,
the seminar was planned so as to coincide with the eve of talks in that
country's Congress on a broad political reform. The papers read that although
the pattern of weak party discipline is found across the political spectrum, it
is somewhat less true of parties on the liberal left, such as the [ruling] Worker's Party. The papers also expressed a
concern about the indigenization of the conference so that it is not viewed as
providing a U.S. perspective. The event's main sponsor was the International Republican Institute.
In December 2009,
Alan Gross, a contractor for USAID, was arrested in Cuba. He and US
government officials claim Gross was helping to deliver internet access to the
Jewish community on the island, however the head of the Jewish community in
Cuba, Adela Dworin, denies any knowledge of Gross and says that recognized
international Jewish organizations have provided them with legal Internet
connections. Cuban officials have said that Gross remains under investigation
on suspicion of espionage and importing prohibited satellite communications
equipment (known as a BGAN)
to Cuban dissidents.[ Gross was convicted by Cuban courts and sentenced to
fifteen years in prison for bringing communications equipment onto the island
nation.
In the summer of
2012, ALBA countries (Venezuela, Cuba, Ecuador, Bolivia, Nicaragua, San Vicente
y Las Granadinas, Dominica, Antigua y Barbuda) called on its members to expel
USAID from their countries”.
Entre os “parceiros”
da USAID em Angola, para a “Democracia e o Governo”, contam-se a Chevron e a
Lazare Kaplan International de Maurice Tempelsman!
A Voice of América
e a Multipress difundem os materiais de interesse da USAID de acordo com
padrões muito convenientes: “liberdade de imprensa e liberdade de informação”
ao estilo do Maka Angola, ou da “caixa de ressonância” que constitui a Voice of
America!
Pouco a pouco,
depois de procurarem a todo o transe esvaziar o movimento de libertação, os
Estados Unidos preparam “a alternância” política tendo agora como principal
alvo o próprio Presidente angolano, vencedor das últimas eleições, com “slogans”
e “logos” repescados no leste europeu: “32 anos de ditadura, basta!”
Os mesmos de sempre
concluem em relação às últimas eleições mais uma vez ter havido fraude, pelo
que as estratégias de tensão começam a indiciar a tendência no mínimo para um
aumento durante o próximo quinquénio!
Não seria de
admirar que essa estratégia de tensão viesse a desembocar numa nova guerra, uma
guerra cuja catástrofe poderia incluir cenários típicos de “revolução colorida”,
de “primavera árabe”, ou duma nova crise fratricida, à maneira da Líbia ou da
Síria!
Quantas “minas e
armadilhas” não semearam os “aprendizes de feiticeiro” debaixo dos seus
próprios pés e os Estados Unidos estão ansiosos: quanto para o império, agora
que o petróleo se evidencia como finito, não seria conveniente mais um outro
Kadafi?!
“Sinais
controversos” é o que há por demais!
Foto: O AFRICOM foi dado
a conhecer publicamente em Fevereiro de 2007; desde então as suas actividades
estão em crescendo, enquanto a evolução da situação no continente se vai
sintomaticamente degradando, fragilizando os estados que escapam à órbita
directa dos Estados Unidos e dos seus aliados. O neo colonialismo é cada vez
mais evidente!
A consultar:
- AFRICOM – http://www.africom.mil/research.asp
- Why AFRICOM –
Theresa Whelan, Adjunta do Secretário da Defesa para África – http://www.africom.mil/research/Why%20AFRICOM-Whelan-August2007.pdf
- Africa Command –
The first three years – http://www.africom.mil/research/USAfricaCommand-TheFirstThreeYears-March2011.pdf
- US in military
Misstep over African Oil – http://www.atimes.com/atimes/Global_Economy/JF19Dj05.html
- AFRICOM Command:
IS strategic interests and the role of the US in Africa – http://docsfiles.com/pdf_africa_command_u_s_strategic_interests_and_the_role_of_the_u_s.html;
http://docsfiles.com/pdf_africa_command_u_s_strategic_interests_and_the_role_of_the_u_s.html
- A CIA por trás da
rebelião – John Pilger – http://resistir.info/pilger/pilger_06abr11_p.html
- Who is Abdelhakim
Belhaj? – http://www.globaljihad.net/view_page.asp?id=2136
- Libyan Islamic
Fighting Group – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Libyan_Islamic_Fighting_Group
- Comment les homes
d’Al Qaeda sont arrives au pouvoir en Libye –Thierry Meyssan – http://www.voltairenet.org/Comment-les-hommes-d-Al-Qaida-sont
- National
Endowment for Democracy (NED) – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/National_Endowment_for_Democracy
- NED – The grant
listings posted here are from the 2010 Annual Report, published in August 2011
– http://www.ned.org/where-we-work/africa/angola
- NED – Where we
work – http://www.ned.org/where-we-work/africa/angola
- Relações Estados
Unidos – Cuba – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/category/relacoes-estados-unidos-cuba/
- USAID – Wikipedia
– http://en.wikipedia.org/wiki/USAID
- USAID Angola – http://transition.usaid.gov/ao/
- USAID and the
Central Bank of Angola Sign Bilateral Grant Agreement – http://transition.usaid.gov/ao/lsga_accord.html
- USAID Angola
Democracy & Governance – http://transition.usaid.gov/ao/governance.html
- USAID – Plano
Estratégico – 2005 – http://transition.usaid.gov/ao/strategic_statement_p.pdf
Relacionado
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2 comentários:
Descolonização portuguesa facilitou invasão indonésia de Timor - investigador
27 de Outubro de 2012, 02:28
Lisboa, 26 out (Lusa) - O investigador da história de Timor, Fernando Augusto de Figueiredo, disse hoje à agência Lusa que a forma como Portugal deixou Timor-Leste facilitou a invasão indonésia da antiga colónia portuguesa.
"O processo de descolonização, como sabemos, foi muito atribulado, não foi preparado (...) o próprio processo de descolonização não foi um processo normal, não foi um processo pacífico, não foi um processo preparado, embora houvessem algumas pressões internacionais, nomeadamente das Nações Unidas", disse Fernando Augusto de Figueiredo, que lança hoje o livro "Timor - A Presença Portuguesa", no Museu do Oriente, em Lisboa.
Essas pressões, que, diz o investigador, começaram "muito cedo, na década de 1960", tinham como objetivo levar a ditadura portuguesa a preparar o futuro de Timor-Leste, até porque os holandeses já tinham atribuído a independência à Indonésia, em 1948, num processo que mereceu críticas pela forma desordenada como decorreu.
"Eram pressões no sentido de preparar o futuro de Timor, de preparar a administração, inserir cada vez mais os locais nessa administração e preparar o futuro de Timor através da preparação de elites locais capazes de tomarem conta, elas mesmas, desse território", frisou.
"A verdade é que não foi esse o caminho seguido, de forma orientada e consequente, pelo governo de Salazar e depois de Marcelo Caetano", acrescentou Fernando Augusto de Figueiredo.
O investigador do Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa relaciona também a falta de quadros locais com a guerra civil que engoliu o território após a saída do governo colonial português, em 1975, ano em que a Indonésia invadiu Timor.
"Quando surge a descolonização, a gente que está preparada para esse tipo de tarefas administrativas é pouca, há todo o um movimento revolucionário e de violência que se gera a partir daí e que, de algum modo, justifica depois a intervenção da Indonésia, que aconteceria de qualquer modo mas que encontrou pretextos para o fazer daquela maneira", acrescentou.
O livro de Fernando Augusto de Figueiredo retrata a presença portuguesa numa perspetiva histórica entre 1769, quando os portugueses se fixam em Díli, a capital timorense, e 1945, quando acaba a ocupação de Timor pelos japoneses, na segunda Guerra Mundial.
RBV //JMR.
Lusa/fim
É POR ISSO QUE ELES SÃO DA NATO:
Portugal cedeu para Kissinger em Timor e em Angola!
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