domingo, 7 de outubro de 2012

UE: AS CENTRAIS ESTÃO ULTRAPASSADAS, FECHEMO-LAS!

 


Frankfurter Rundschau, Frankfurt – Presseurop – Imagem Vlahovic
 
Os resultados dos testes de resistência realizados pela UE fornecem mais razões do que as necessárias para encerrar os velhos reatores. Mas a Comissão não tem a coragem de seguir o exemplo da Alemanha e prefere apostar em modernizações dispendiosas, lamenta o Frankfurter Rundschau.
 
Faltam-lhe os airbags, o ESP [controlo eletrónico de estabilidade], o catalisador, os faróis de halogéneo, um sistema de ajuda ao estacionamento, os vidros elétricos. Ninguém se lembraria de fazer um lifting a um velho Carocha Volkswagen de 40 anos para o adaptar à circulação moderna, duas vezes mais intensa e muito mais rápida do que na época em que este veículo saiu. Quantos de nós estariam dispostos a ir todos os dias para o trabalho nesse velho chaço? O Carocha do começo dos anos 1970 não serve sequer para o passeio de domingo: não é suficientemente antigo nem suficientemente original.
 
Claro que uma central nuclear não é um carro. Uma central é muito mais complexa, tem uma duração de vida de 40 anos e será periodicamente modernizada, na medida do possível e se quem a explora for rigoroso em matéria de segurança. No entanto, as centrais que foram postas de pé nos anos 1960 e ligadas à rede nos anos 1970 – como acontece com os reatores de primeira geração na Europa – têm algumas semelhanças com o Carocha. As despesas de modernização necessárias para as pôr em conformidade com as normas atuais não se justificam. Há muito tempo que o Carocha foi mandado para a sucata e é preciso fazer o mesmo com as velhas centrais.
 
Mas, manifestamente, a estratégia da Comissão Europeia não consiste em fechá-las gradualmente mas em modernizá-las, para conservar o parque nuclear da União tal como está. A conclusão que o comissário europeu da Energia, Günther Oettinger, tira dos testes de resistência realizados nas centrais a seguir ao desastre de Fukushima é esta: o grau de segurança das instalações é "globalmente elevado" e um pacote de €30 a €200 milhões por reator deverá permitir fazer face às deficiências verificadas.
 
Cultura de segurança não vale grande coisa
 
Isto corresponde à bem conhecida linha da UE, que, desde a sua criação, se apresenta como acérrima defensora do átomo e que não fez marcha-atrás depois das catástrofes anunciadas ou ocorridas de Harrisburg, Chernobyl e Fukushima.
 
O facto poderá explicar a leitura que Günther Oettinger faz dos testes de resistência realizados pelos seus peritos em 132 reatores, mas não a justifica. Na quase totalidade das instalações, foram verificadas lacunas em matéria de segurança – sendo que o risco representado pelas novas ameaças como os atentados ou os ciberataques ainda não foi examinado e que alguns Estados-membros da UE resistiram a deixar os especialistas de Bruxelas aceder aos seus reatores e aos seus dados. Tratava-se apenas de um teste de resistência light – e, no entanto, pôs a claro numerosas deficiências.
 
Os testes de resistência efetuados mostram que a tão louvada cultura de segurança das explorações de centrais não vale grande coisa. Os peritos denunciam num tom inusitadamente forte o facto de, em alguns países, as linhas de conduta fixadas depois de Harrisburg, em 1979, e de Chernobyl, em 1986, nem sequer terem sido integralmente aplicadas – o que, diga-se de passagem, também é válido para a Alemanha.
 
Trabalhos de modernização dispendiosos
 
Por outro lado, é claro que muitas companhias de eletricidade adiam o mais possível os trabalhos de modernização que se revelam muito dispendiosos. Para os peritos de Bruxelas, os investimentos necessários poderão ascender a €25 mil milhões. Não é por acaso que o relatório dos testes de resistência sublinha que 111 dos 132 reatores se situam em aglomerados onde vivem mais de 100 mil pessoas, num raio de 30 quilómetros.
 
A Alemanha retirou bons ensinamentos de Fukushima, ao optar por não modernizar as velhas centrais, que foram e permanecem encerradas. No que se refere às instalações mais recentes, foi estabelecido um calendário de encerramento. O que não tem nada a ver com a apreensão dos alemães: é uma simples precaução.
 
E não se trata de caso único na Europa. A Bélgica e a Suíça pretendem abandonar o nuclear até 2025, os italianos disseram "não" ao regresso à energia atómica, o programa nuclear do Governo polaco enfrenta fortes resistências e, mesmo em França, o ceticismo relativamente ao átomo está a ganhar terreno. O renascimento anunciado do nuclear tarda a chegar. Na Finlândia e em França, os dois novos reatores atualmente em construção estão a ter problemas contínuos e irão custar duas vezes mais do que o previsto.
 
É verdade que Bruxelas não está habilitada a prescrever aos Estados-membros um plano de abandono do nuclear. No que se refere ao átomo, a política é sempre fixada a nível nacional. No entanto, um comissário europeu alemão deveria ter a coragem de avançar nessa direção. Fixar, finalmente, a responsabilidade civil das companhias de eletricidade, em caso de acidente, é uma coisa boa. Reduzir tão rapidamente quanto possível o risco de acidente é ainda melhor.
 
Visto de Bruxelas
 
Testes de esforço levam a um aumento da eletricidade
 
A maioria dos 134 reatores nucleares da UE necessita de atualizações que garantam a segurança dos reatores em caso de catástrofe, afirmou a Comissão Europeia na apresentação do seu relatório sobre segurança nuclear na UE, em Bruxelas, no dia 4 de outubro. O custo desta intervenção poderá oscilar entre os €10 e os €25 mil milhões – “uma fatura que irá provavelmente refletir-se nos preços ao consumidor, com um aumento do preço da eletricidade”, escreve o Daily Telegraph.
 
O diário londrino refere que a Comissão Europeia elaborou este relatório de acordo com os parâmetros do tremor de terra e do tsunami de março de 2011 no Japão, um país propenso a este tipo de cataclismos, que fez 16 mil vítimas e destruiu a central nuclear de Fukushima.
 
Guenther Oettinger, o comissário europeu da Energia, com uma interpretação controversa em relação ao desastre de Fukushima, – que não causou vítimas – a que chamou ‘apocalipse’, disse que os padrões de segurança na Europa eram ‘no geral, elevados’.
 
Mesmo assim, o comissário anunciou a sua intenção de criar uma nova legislação comunitária que obrigue a indústria nuclear a ter um seguro de responsabilidade baseado no risco teórico de acidente nuclear, ao afirmar que a obrigação de uma apólice de seguro irá provocar custos que se vão refletir nas faturas da eletricidade. De certeza que esta medida não irá fazer com que a energia nuclear se torne mais competitiva.
 

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