A aposta excessiva
nos recursos naturais é perniciosa para Moçambique. O alerta é dado por
economistas e políticos moçambicanos, preocupados com a negligência do setor
agrícola pelo Governo de Maputo.
Em Moçambique,
economistas e políticos lançaram o alerta: o Governo não pode cometer o erro de
preterir o desenvolvimento da agricultura a favor dos recursos naturais. Os
especialistas são da opinião não obstante a descoberta recente de enormes
reservas destes recursos, a agricultura tem que continuar a ser o esteio do
desenvolvimento. Sugerem que haja mais investimentos na mecanização da
agricultura. Mas a realidade é outra, salientam: o investimento para o setor é
pouco quando comparado com outras áreas.
Não é a opinião do
ministro da agricultura, José Pacheco, que considera que o executivo está a
tratar o setor de forma prioritária. Assim, de entre várias apostas, há planos
para produzir 300 mil toneladas de arroz na presente campanha agrícola, diz
este governante: “Estamos no bom caminho para reduzir o défice alimentar na
importação do arroz. Iremos contratar mais 380 extensionistas para assistir os
nossos produtores na luta contra a pobreza”.
Planos do Governo
deparam com ceticismo
Os planos não estão
a convencer os políticos da oposição. O deputado do Movimento Democrático de
Moçambique, Arnaldo Chalaua, sugere que se deve aplicar critérios científicos
no desenvolvimento da agricultura: “Se Moçambique elege a agricultura como base
de desenvolvimento, não pode fazê-lo com o uso da enxada de cabo curto. É tão
importante como necessário apostar na agricultura mecanizada”. Chalaua defende
que há que elaborar uma nova estratégia de política agrária e que o país deve
finalmente começar a apostar nesta área “que é de extrema importância para
combater a pobreza, a fome”..
Por seu lado, o
deputado da Renamo, James Marcos, considera o orçamento para agricultura
insuficiente: “A agricultura tem sido um falhanço em Moçambique por falta de
dinheiro. Sendo base de desenvolvimento, tinha que ter prioridade de topo na alocação
dos fundos”. Marcos exige, por isso, mais fundos para concretizar os planos
anunciados pelo Governo: “Esse é que é o problema. Se não tivermos dinheiro,
não teremos uma agricultura mecanizada.”
Economistas definem
prioridades
O economista
moçambicano, António Tibane, diz ser urgente investir no regadio de Chókwe, na
província de Gaza, para dinamizar a produção do arroz: “O primeiro ponto é uma
questão de engenharia. Porque de há um tempo para cá, infelizmente, ocorre uma
situação em que um gigante, que é o regadio de Chókwe, começa perder água das
valas, simplesmente por não haver manutenção. Não é possível termos um gigante
daqueles sem nenhum plano de manutenção.”
Também o economista, António Cumbana, faz
sugestões práticas que podiam ser levadas a cabo de imediato. Cumbana defende
que se pode tirar proveito dos resíduos dos recursos minerais para servirem de
fertilizantes, e desenvolver desta forma a agricultura: “Quando fazemos o
processamento e refinação do gás, naturalmente temos os subprodutos, que podem
ser usados para, por exemplo, para alimentar a indústria do plástico e poderão
também ser usado para a indústria dos adubos.”
Recorde-se que o
governo, num passado recente, incentivou a produção da jatrofa e alguns
camponeses chegaram a abandonar a produção da mandioca, do milho, do feijão a
favor daquele biocombustível.
Autor: Romeu da
Silva (Maputo) - Edição: Cristina Krippahl/António Rocha
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