Eduardo Lobão, da agência Lusa
Luanda, 24 nov
(Lusa) - Angola não é um país fácil para quem quer emigrar e o conselho de
Nélia Araújo, há três anos a viver em Luanda, é não o fazer com a justificação
de que se está a fugir da crise.
"Acho que quem
queira fugir de um problema, fugir de Portugal porque há crise não torna fácil
mais nada. Até porque isso faz com que as pessoas venham contrariadas. Não é
uma opção de vida", frisa.
Nélia Araújo, 39
anos, confessa-se finalmente integrada e adaptada em Luanda, curiosamente a
cidade onde nasceu, mas à qual não se imaginava a voltar, depois de ter saído
para Portugal com apenas 18 meses.
O marido aceitou o
desafio de um novo projeto profissional e a família, mulher e filho de 10 anos,
veio com ele.
Dos três, a
adaptação de Nélia foi a mais complicada.
"A minha
adaptação aqui foi a mais difícil dos três. O meu filho amou Angola desde o
primeiro dia que aterrou. O meu marido também. Para mim foi muito mais
complicado. Nunca me tinha ocorrido sair de Portugal e nos primeiros meses -
cheguei em agosto e só fui a Portugal em dezembro -, senti falta de muitas
coisas, de muita gente", recorda.
"Agora não!
Tenho os meus amigos, tenho um núcleo muito forte, muito importante para a
nossa estabilidade e voltar agora para Portugal seria impensável (...) A minha
vida agora é aqui. Não me vou embora. Só se acontecesse alguma desgraça que me
obrigasse a ir para outro país, mas Angola é efetivamente a minha casa, a nossa
casa, da família toda, estamos todos perfeitamente integrados", assegura.
Para essa
integração ajudou ter lançado em junho o que designa como "projeto de
vida", uma agência de comunicação.
"Passei por
duas agências de publicidade em Angola, desde a chegada, e agora achei que
estava na altura de marcar um bocadinho a diferença e que já tinha um
conhecimento do mercado que permitia aventurar a um desafio meu", diz.
Mas Nélia continua
a acreditar que Angola não é um "país fácil" e aconselha a quem
emigra que vá para aquele país "com otimismo, com vontade, e não para
fugir de um problema, porque todos os dias são desafios".
"Reconhecimento
profissional? Consegue-se ter. Mas temos que ser muito dedicados, porque é essa
dedicação que faz a diferença dentro de cada uma das áreas. Todos os dias são
um desafio, todos os dias temos de arranjar uma solução para o problema que
vamos enfrentar. Aqui sinto-me muito valorizada profissionalmente. Cresci
imenso profissionalmente em Angola", admite.
Nélia Araújo
critica os preconceitos de quem acha que em Angola se "trabalha pouco, se
ganha muito e que a vida é fácil".
"Não é! Angola
é um país muito difícil, quer para portugueses quer para angolanos, porque
temos uma série de dificuldades e há uma série de situações que quem vive na
Europa não tem a mínima noção", acentua.
Nélia dá como
exemplo as comunicações, com as dificuldades que se sentem no envio e receção
de emails.
Para quem vem
trabalhar para Angola, Nélia dá outro conselho: "a aceitação e a forma de
quem está e nunca saiu daqui e recebe quem vem de fora, depende muito da
perspetiva de quem vem e da postura como vem e como aqui está, porque temos
muitos garimpeiros, que são as pessoas que vêm aqui e estão um ano, dois meses
ou semanas, que vêm fazer um negócio muito pontual e depois vão-se
embora".
"E essa
perspetiva aqui não é bem aceite. Os estrangeiros garimpeiros vêm aqui porque
acham que isto é uma mina de outro e vão embora", acrescenta.
Quanto a saudades,
foram mais no início. Agora, com o aproximar da época das festas do Natal e Ano
Novo, Nélia prepara-se para passar o Natal em Luanda e entrar em 2013
"algures em África".
"As idas a
Portugal são agora cada vez menos. Por questões profissionais, no ano passado,
ia com muita frequência. Praticamente de dois em dois meses. Este ano fui em
junho e não vou passar o Natal. Talvez (regresse) lá no verão, até porque agora
com o meu desafio profissional, tenho de gerir melhor as minhas idas,
normalmente duas vezes por ano", conclui.
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