Antonio Tozzi, Miami
– Direto da Redação
São Paulo (SP) -
Depois de dez dias de Brasil, mais exatamente em São Paulo , após longo
período sem colocar os pés aqui, deu para constatar alguns progressos e
retrocessos. Na verdade, nem diria retrocessos, apenas a manutenção do velho
descaso com os cidadãos que muita gente prefere chamar de “jeitinho brasileiro”
e o incremento da violência urbana, tema deste artigo, sobretudo na capital
paulista, onde os líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) ordenam mortes
de policiais e incêndios em ônibus para se vingar da transferência dos seus
chefes para presídios de segurança máxima.
Essa semana o que
se viu foi uma contabilidade macabra, com os programas policiais registrando
mortes e mais mortes de inocentes, policiais e bandidos na periferia da cidade
mais rica da América do Sul, como se os indivíduos sem nome quisessem ser
protagonistas do teatro do absurdo, clamando para si a atenção que a sociedade
teima em não lhes dar.
Os mais românticos
podem achar bonito que os eternos coadjuvantes da sociedade humana assumam
finalmente uma posição de destaque para que as autoridades voltem os olhos para
eles e para a (feia) realidade em que vivem.
Mas isto não passa
de um sentimento de culpa de intelectuais que procuram ver nos rejeitados pela
sociedade os artífices da mudança para um mundo novo. Entretanto, isto não
resiste a um exame mais acurado para se perceber que os “Robin Hoods da
periferia paulistana” não passam, na realidade, de bandidos cruéis e desumanos
que querem instituir uma nova ordem social para se beneficiarem dela.
O que se vê em São Paulo , Rio de
Janeiro e outras grandes cidades brasileiras são hordas de vidas perdidas a
serem consumidas nos cachimbos e nas pedras de crack, nos canos dos revólveres
e na obediência cega aos barões do tráfico e aos grupos organizados que
controlam esta sociedade paralela e se tornam ao mesmo tempo protetores e
algozes deste exército de párias que vaga sem presente e sem futuro.
Eles somente são
usados como buchas de canhão e podem servir os poderosos ao avisar sobre a
chegada da polícia e como mulas do tráfico de drogas. Mas suas vidas valem
muito pouco. Aliás, a vida no Brasil de hoje está muito barata, infelizmente. É
comum ver cenas em que bandidos em motocicletas e em automóveis passam atirando
nas pessoas ou ateando fogo em ônibus sem serem importunados, apesar das
câmeras flagrarem os momentos dos extermínios.
Os policiais, por
sua vez, cada vez mais atemorizados, reagem da maneira que sabem: atirando.
Muitas vezes matam inocentes, pelo simples fato de não seguirem a regra número
um de qualquer agente da segurança pública, exigir a identificação do suspeito.
Aqui, ainda prevalece a regra de atirar primeiro e perguntar depois, o que serve
apenas para aumentar a estatística dos assassinatos. Para completar, há maus
policiais que atuam dos dois lados, dizendo proteger os cidadãos, mas
extorquindo dinheiro de criminosos e forçando os comerciantes a lhes pagar
dinheiro por uma proteção que já deveria estar sendo paga através dos impostos
arrecadados.
A fim de tentar
conter o poder cada vez mais expressivo do PCC no sistema presidiário de São
Paulo – e que já vem estendendo-se para outros estados -, o governo federal e o
governo paulista acertaram os ponteiros para fazer uma ação conjunta para
isolar os líderes desta facção criminosa e impede-los de continuar emanando
ordens para seus comandados, mesmo de dentro das prisões.
A onda de violência
é uma reação a esta tentativa de conter a influência do PCC, num primeiro
momento, e de eliminá-la, numa segunda etapa. Se isto será conseguido, apenas o
tempo dirá, mas trata-se de uma parceria válida, apesar de esconder uma manobra
política.
Pelo que os jornais
paulistas publicaram, o secretário de Segurança Pública, Ferreira Pinto,
desmantelou alguns focos de corrupção nas polícias civil e militar e isto
provocou a revolta do PCC que possuía livre trânsito nestes setores. O ministro
da Justiça, José Eduardo Cardoso, ofereceu ajuda, e isto é importante. Porém,
alguns politicos interpretaram esta atitude como o primeiro lance dele para uma
possível candidatura ao governo de São Paulo.
Explica-se: Cardoso
é do PT, e o partido não esconde de ninguém que deseja conquistar a “jóia da
coroa”, ou seja, o governo do estado de São Paulo, enquanto Ferreira Pinto é
secretário do governo de Geraldo Alckmin, do PSDB, partido que controla o
estado mais rico da federação há muito tempo. Analisando friamente, foi um
golpe de mestre de Cardoso: se der certo, ele cobrará a fatura política; se der
errado, quem pagará a conta serão Alckmin e Ferreira Pinto, que poderão ser
acusados de ineptos por não terem sabido aproveitar a oportunidade. Até a morte
de cidadãos acaba virando lance de xadrez politico. Quem diria, hein?
* Foi repórter do
Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996,
onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da
revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA
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