Susana Charrua
O título era
exatamente igual ao constante na TSF Rádio Notícias. Dizia que o PR estava solidário
com algarvios. Só por ver o título disse cá para mim: “grande coisa, palavras
de circunstância e de conveniência”. Foi então que ao ler em diagonal a notícia
fiquei muito feliz e surpreendidissima. Um brutal, enorme, colossal, sentimento
de autoreprovação me assolou. Passo a explicar:
Naquela tão curta
peça jornalistica residia a confirmação de como milhões de portugueses e portuguesas
(incluindo eu) têm sido injustos e ingratos para com o PR Cavaco Silva.
Envergonhada sorvi tim-tim por tim-tim a prosa. Cavaco Silva, algarvio, estava
solidário com os algarvios vítimas do temporal de ontem. Um tornado que destruiu
casas, virou automóveis, fez voar auto-caravanas, feriu com gravidade cidadãos
estrangeiros e algarvios, causou duas centenas de desalojados… Uma tragédia ali
no fim de Portugal, no sul, no Algarve – último bastião dos mouros, das
alcagoitas e das bocarras de Pinto da Costa.
O inimaginável
ocorreu. A solidariedade de Cavaco para com os seus conterraneos, compatriotas
e turistas estranjeiros foi manifestada no maior exemplo da sua bondade e
entrega aos seus semelhantes, aos seus concidadãos. Perdulário, solidário com o
Algarve, Cavaco disponibilizou por tempo indeterminado a sua casa na Aldeia da
Coelha aos desalojados pelo malvado Tornado e levou por arrasto a que seus
amigos e vizinhos fizessem o mesmo. A luxuosa Aldeia da Coelha está agora repleta
de plebeus que usufruem do luxo e das mordomias a que só uns quantos
privilegiados tinham acesso. Os amigos e vizinhos de Cavaco – Oliveira e Costa,
Eduardo Catroga, Fernando Fantasia, Teófilo Carapeto e outros - estão
igualmente solidários com os desgraçados que ficaram quase sem nada, sem carros
que os possam transportar e sem casas que os possam abrigar. Tal pesadelo foi
abalado pela solidariedade descomunal e imprevista de Cavaco e amigos. Temos
assim parte dos desalojados com o problema resolvido e a beneficiar do luxo a
que se julgaram sempre arredios por não terem as ascendências que permitissem
economizar um bom pé-de-meia de milhões, como Cavaco, como os seus amigos
políticos e passantes nas ilhargas.
Podem os detratores
dizer o que mal acharem sobre Cavaco e a sua gula desvairada pelos euros, os
milhares e milhões, que tal não é para acreditar. Podem os detratores mal dizer em
epitetos parceiros do egoísmo, da avaresa, dos sevandijas, porque sabemos que
nada disso corresponde à verdade. O que ali está naqueles bons cidadãos e
cristãos é a bondade repleta de ações que certamente têm sido ocultas, não
fosse agora aqui serem tornadas públicas fazendo eco da notícia. Malvados sejam os que em páginas
constantes na pesquisa do Goggle se permitem lançar execráveis prosas e vídeos
bem falantes que só pretendem denegrir a bondade dos supra citados. Que Deus os
abençoe, a eles, tão cristãos e bondosos…
E foi aí que
acordei. Afinal estava a sair de um sonho. Corri para a web e constatei que
notícia não dizia nada disso sobre Cavaco solidário
com algarvios. Nem falam da Aldeia da Coelha, dos luxos partilhados com os
desalojados… Que desilusão. E eu que ia atrever-me a pensar que o casal Cavaco
tinha partido para a Cimeira Ibero-Americana, em Cádiz, muito mais feliz devido
à sua boa ação… Foi só um sonho. O pesadelo, esse, é daqueles que vivem
desalojados, mais pobres, mais delapidados pela natureza, pelos amigos de
Cavaco e de outros sevandijas apostados no confisco aos portugueses, apostados
em viverem por cima dos que espezinham e empurram para o abismo, para a
pobreza, para a miséria inconsolável que bate à porta ou nas caixas de cartão
dos sem-abrigo de Portugal.
Não. Pode ter sido
um sonho, mas já não é. Afinal Cavaco não partilhou as suas riquezas,
conseguidas porque os portugueses ingenuamente confiaram nele. Assim, a
realidade é um pesadelo.
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