Martinho Júnior, Luanda
15 – A estratégia
de tensões inaugurada pela administração democrata de Barack Hussein Obama em
relação a Angola é apenas um sub-sub capítulo da geo estratégia fulcral que os
Estados Unidos, em defesa de sua hegemonia unipolar, estão a desenvolver em
relação à China e à Rússia, geo estratégia essa que vem sendo incrementada a
partir de 2010.
Para a aristocracia
financeira mundial não é a “casa comum” que deve ser gerida com sapiência e
amor, isso não dá lucro pelo que é pela sua supremacia, em função da lógica
capitalista, que concorrem, mesmo que isso signifique o recurso a ingerências,
manipulações, tensões, às armas, ou… ao fim do planeta!
Wim Dierckxsens, um
analista da globalização neo liberal, aponta:
…“Com a
globalização neoliberal tem dominado a política económica que promove a
liberalização dos mercados en geral e dos mercados financeiros em especial. O poder dos
Estados-nação para definir de forma independente a sua política económica
dentro de um marco nacional foi reduzido de forma drástica, primeiro nos países
periféricos como os latino-americanos, mas depois também na Europa e até nos
próprios EUA. Nas últimas duas décadas do século passado, o poder soberano do
Estado-nação diminuiu no plano económico como consequência do poder totalizador
alcançado pelas transnacionais no quadro da política de desregulação económica
a nível mundial. O poder totalizador que as transnacionais adquirem na
desregulação económica e na política dos estados, desenvolve-se nos termos da
eficiência para maximizar lucros como finalidade última, o que não é mais do
que a lei do mais forte no livre jogo do mercado (que obviamente não é livre).
As transnacionais, os grandes bancos, transformam-se a partir das megafusões e
grandes aquisições em Estados privados sem fronteiras nem cidadãos e actuam
juntos como um capital financeiro globalizado que não presta contas de nada a
ninguém para além dos seus accionistas principais.
É a destruição da
soberania, democracia, liberdade e do conceito de estado já mencionados, para
dar lugar à construção de um novo estado global total: O das transnacionais e
dos grandes capitais entrincheirados após a maior acumulação de armas que a
história conhece. Se o lucro na economia real tende a baixar, já nada importa
acerca da forma como se obtém o lucro, o que conduz à corrupção e à
criminalização das sociedades. Os estados convertem-se em garantes para toda a
modalidade de acumulação. Deste modo também o estado tradicional tem vindo a
ser substituído por um novo conceito: o de um Estado-corrupto-totalitário que é
aquele que oferece as melhores e mais rápidas oportunidades para acumular, mas
que a par disto desmantela todo o sistema anterior, e não apenas o social. Isto
não é sustentável por muito tempo sem que se afunde no caos”…
A China é tida como
a maior potência económica a partir da 2ª década do século XXI e os Estados
Unidos, ciosos da sua hegemonia unipolar, assumem por via da geo estratégia
global do Pentágono as medidas que visam contrariar essa “ascensão” que
necessariamente terá também repercussões militares, uma vez que a China,
dependente da importação de recursos energéticos e de matérias-primas, terá de
mover meios importantes nos relacionamentos que tem vindo e continuará a
encetar em todos os continentes.
A “doutrina Obama”
como é interpretada pelo Pentágono cerca a China pelo mar, num enorme “colar de
pérolas”!
A “concorrência”
implica um conjunto muito alargado de tensões para lá dos dispositivos
militares, tensões que se vão manifestar nas esferas políticas, económicas,
financeiras, sociais e culturais.
Com a finitude do
petróleo e do gás essas tensões podem facilmente degenerar em conflitos e
guerras!
O Presidente Obama
estabeleceu recentemente a linha geo estratégia da Ásia-Pacífico, assente no
Pentágono: ao promover a valorização dessa iniciativa, em paralelo desenha
outra que lhe é sincronizada, contornando a Rússia na imensidão Euro-Asiática a
fim de provocar a fragmentação da Federação e fazendo ao mesmo tempo proliferar
à escala global o conjunto de medidas subsidiárias dessas duas iniciativas tão
fulcrais nas direcções do Médio Oriente, Ásia Central, Europa, África e América
Latina.
Desse modo, todos
os Comandos regionais subordinados ao Pentágono e os acessórios como a NATO e o
ANZUS, nada mais fazem senão preencher ao seu nível e num enquadramento muito
alargado, os papéis previstos em reforço das iniciativas geo estratégicas
fulcrais: a Euro-Asiática (cercando a Rússia) e a Ásia-Pacífico (envolvendo a
China).
Isso explica o facto
dos Estados Unidos terem voltado a página em relação às contradições típicas da
“era Bush”, o que opunha os Estados Unidos ao mundo islâmico mais
fundamentalista; é possível observá-lo quando há a escolha de grupos de Al
Qaeda que se vão incorporando nas “forças amigas” e aqueles que são mantidos em
campo “inimigo” no quadro das “performances” com os sunitas ricos em petróleo e
petro-dólares!
Os grupos da Al
Qaeda na Líbia e na Síria, por exemplo, passaram para o campo da hegemonia
unipolar, por que sendo os xiitas aliados da Rússia e do Irão, as linhas de
ataque ficam definidas a partir da defesa da Arábia Saudita, do Qatar, dos
Emiratos, do Bahrein!...
Aqueles regimes
laicos que tenham cultivado opções fora das referências religiosas, como o caso
da Síria, em função de suas alianças estão a sofrer as consequências das geo
estratégias da “era Obama”!
16 – No continente
africano as medidas estruturadas a parir do concurso do AFRICOM e envolvendo
toda a extensão do continente, visam num plano prioritário aqueles países ricos
em petróleo: para a hegemonia é preciso afastar deles sobretudo a China, tendo
em conta que ela é dependente de fornecimentos de petróleo do exterior e o
petróleo é-lhe indispensável para atingir o patamar de desenvolvimento acima
daquele em que se encontra de momento os Estados Unidos.
Na África do Norte,
os Estados Unidos e seus aliados europeus têm-no conseguido, correspondendo a
evolução da situação na Líbia ao processo mais radical: dezenas de milhares de
chineses tiveram de abandonar o país e os interesses russos e chineses estão em
perda.
Os outros países da
África do Norte estão envolvidos nos programas comuns do Mediterrâneo (União do
Mediterrâneo) e estão mais vocacionados para o campo ocidental.
O petróleo e o gás
da Argélia e da Líbia são efectivamente muito importantes pois tal como
acontece com os similares produzidos na Arábia Saudita, no Iraque e nos espaços
das outras monarquias arábicas, têm um muito baixo custo de produção, o que
aumenta os lucros das corporações multi-nacionais!
No caso do Sudão, o
facto do Sudão do Sul ter alcançado a independência com o apoio histórico dos
Estados Unidos por via de alguns “lobbies” ultra conservadores (“Conservative
Caucus” formado por fundamentalistas cristãos que promovem “cruzadas” africanas
ao ponto de terem sido apoiantes de Savimbi), espelha um conjunto de ganhos
substanciais que procuram enfraquecer os relacionamentos da China agora com os
dois Sudão.
Na Nigéria o
espectro de conflitos de vária ordem, entre eles os que por via religiosa opõem
cristãos e muçulmanos e as tensões no delta do Níger, obrigam o governo federal
nigeriano a reforçar a sua aliança com a hegemonia unipolar facilitando as
corporações multinacionais ocidentais, principalmente as anglo-saxónicas.
No Golfo da Guiné,
o colar de pequenos produtores que compõem a “FrançAfrique” estão integrados em
sub-categorias no sistema AFRICOM, reforçando a ocidente de África o sistema de
alianças com os Estados Unidos e sobretudo a França.
Resta pois
referirmo-nos ao caso muito especial de Angola.
As corporações
multinacionais ocidentais do petróleo e do gás beneficiaram sempre de
entendimentos que lhes têm sido prodigamente favoráveis, tendo em conta que a
maior parte da produção de petróleo e de gás é feito no mar (“offshore”), com
custos muito superiores às produções “onshore” de outras paragens.
Esse favorecimento
teve implicações geo-políticas na deriva dos apoios norte americanos, em
benefício do governo angolano de 1993 a 2010, mas a administração de Barack
Hussein Obama, tendo em conta a presença chinesa com largas implicações na
reconstrução nacional angolana, assim como os fluxos de petróleo a gás angolano
na direcção da China como moeda de troca, enquadra Angola numa sub-sub
categoria em relação às duas geo estratégias fulcrais!
O que o Wikileaks
tem vindo a dar a conhecer em relação à diplomacia norte americana em Angola,
indicia uma particular atenção da Embaixada dos Estados Unidos: a Embaixada
acompanha de muito perto os relacionamentos de Angola sobretudo para com a China
e a Rússia!
Nesse quadro a
administração democrata de Barack Hussein Obama tende em relação a Angola em
romper de certo modo com o que se passava antes, na tentativa de aumentar os
obstáculos nos relacionamentos recíprocos de Angola para com a China e a
Rússia, daí a inscrição da crescente estratégia de tensões ilustrada nos Sinais
Controversos anteriores.
Se tivermos em
conta sobretudo os “timings” das eleições em Angola e das eleições nos Estados
Unidos, essa tendência da administração de Obama vai-se reflectir num aumento
cadenciado de apoio à oposição, incrementando a estratégia de tensões sempre
que se vierem a registar pleitos eleitorais (primeiro para as autarquias em
2014/2015, depois para as legislativas, estas em 2017), o que não exclui a viabilidade
dum “Dhlakama angolano”… é preciso lembrar que os Estados Unidos estão também
inclinados a redesenhar o mapa africano, alterando em pleno neo colonialismo
(século XXI), o que foi feito pelos impérios coloniais em Berlim (século XIX)!
Foto: O Presidente Barack
Hussein Obama esteve por diversas vezes reunido com o Presidente da China, Hu
Jintao; esta foto é de Janeiro de 2011.
A consultar:
- Economia de
guerra vs economia especulativa – a onze anos das Torres Gémeas – http://www.odiario.info/?p=2666
- Economia real vs
economia virtual – o ultraliberalismo global e a crise europeia – http://www.odiario.info/?p=2655
- A doutrina
Rumsfeld – alta tecnologia e a privatização da guerra – http://hablandorepublica.blogspot.com/2012/03/la-doctrina-rumsfeld-alta-tecnologia-y.html
– http://www.odiario.info/?p=2562
- A geo-política de Obama: a China na mira do Pentágono – http://www.odiario.info/b2-img/CHINANAMIRADOPENTGONOPOR.pdf
- Energia e
geo-política: a batalha pela Ásia Central – http://www.outraspalavras.net/2011/06/09/energia-e-geopolitica-a-batalha-pela-asia-central/
- Guinada
estratégica dos EUA: A SEGUNDA Guerra Fria e a América do Sul – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/guinada-estrategica-dos-eua-segunda.html
- War on all fronts
– http://www.spiegel.de/international/world/pew-study-finds-steep-declines-in-faith-in-politicians-and-capitalism-a-844127.html
- http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=31961
- El ocaso del
imperio – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=145903
- China y la crisis
– http://www.jornada.unam.mx/2012/01/22/index.php?section=opinion&article=024a2pol
- China e Estados
Unidos, bem além dos mitos – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/china-e-estados-unidos-bem-alem-dos.html
- China and Russia
are acquiring gold, dumping US dollars – http://www.globalresearch.ca/central-banks-are-acquiring-gold-dumping-us-dollars/22672
- Putin enloquece a
Washington – http://www.atimes.com/atimes/Central_Asia/NC09Ag01.html
- http://www.rebelion.org/noticia.php?id=146013
- Putin’s geopolitical chess game With Washington in Syria and Eurasia – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32019
- Concorrências
vulneráveis – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/concorrencias-vulneraveis.html
- O fardo da
hegemonia – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/10/05/o-fardo-da-hegemonia/
- Jogos africanos
do neo colonialismo norte americano em África – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/05/jogos-africanos-do-neocolonialismo.html
- A batalha por uma
Rússia multipolar – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/batalha-por-uma-russia-multipolar-i.html
- A batalha por uma
Rússia multipolar – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/batalha-por-uma-russia-multipolar-ii.html
- A batalha por uma
Rússia multipolar – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/batalha-por-uma-russia-multipolar-iii.html
- O Bilderberg e a
Rússia – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/05/o-bilderberg-e-russia.html
- China é o maior
parceiro de África – http://jornaldeangola.sapo.ao/15/27/china_e_o_maior_parceiro_de_africa
- China's Africa
Aid Aims To Achieve Political Goals – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09BEIJING1311&q=angola
- U.s.-china Africa
Sub-dialogue: A/s Frazer And Afm Zhai Jun Discuss Assistance, Conflicts And
Cooperation – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=08BEIJING3996&q=angola
- Chinese
Investment Deal May Weaken International Donor Efforts – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09CONAKRY470&q=angola
- China And Africa:
Shanghai Views On Expanding Trade And Investment Ties – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09SHANGHAI160&q=angola
- Request For
Information On Chinese Engagement In Angola And Potential Areas For Cooperation
– http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=10LUANDA84&q=angola
- Dos Santos's
China Visit Demonstrates Strong Bilateral Ties – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=08LUANDA1023&q=angola
- Russia's Return
To Africa – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09MOSCOW1825&q=angola
- Russian Business
Presence In Africa – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09STATE88241&q=angola
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3 000 soldats US en route pour l’Afrique - http://www.afrique-asie.fr/menu/afrique/4226-3-000-soldats-us-en-route-pour-l-afrique.html
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