domingo, 18 de novembro de 2012

SINAIS CONTROVERSOS – XI (conclusão)

 

Martinho Júnior, Luanda
 
15 – A estratégia de tensões inaugurada pela administração democrata de Barack Hussein Obama em relação a Angola é apenas um sub-sub capítulo da geo estratégia fulcral que os Estados Unidos, em defesa de sua hegemonia unipolar, estão a desenvolver em relação à China e à Rússia, geo estratégia essa que vem sendo incrementada a partir de 2010.
 
Para a aristocracia financeira mundial não é a “casa comum” que deve ser gerida com sapiência e amor, isso não dá lucro pelo que é pela sua supremacia, em função da lógica capitalista, que concorrem, mesmo que isso signifique o recurso a ingerências, manipulações, tensões, às armas, ou… ao fim do planeta!
 
Wim Dierckxsens, um analista da globalização neo liberal, aponta:
 
…“Com a globalização neoliberal tem dominado a política económica que promove a liberalização dos mercados en geral e dos mercados financeiros em especial. O poder dos Estados-nação para definir de forma independente a sua política económica dentro de um marco nacional foi reduzido de forma drástica, primeiro nos países periféricos como os latino-americanos, mas depois também na Europa e até nos próprios EUA. Nas últimas duas décadas do século passado, o poder soberano do Estado-nação diminuiu no plano económico como consequência do poder totalizador alcançado pelas transnacionais no quadro da política de desregulação económica a nível mundial. O poder totalizador que as transnacionais adquirem na desregulação económica e na política dos estados, desenvolve-se nos termos da eficiência para maximizar lucros como finalidade última, o que não é mais do que a lei do mais forte no livre jogo do mercado (que obviamente não é livre). As transnacionais, os grandes bancos, transformam-se a partir das megafusões e grandes aquisições em Estados privados sem fronteiras nem cidadãos e actuam juntos como um capital financeiro globalizado que não presta contas de nada a ninguém para além dos seus accionistas principais.
 
É a destruição da soberania, democracia, liberdade e do conceito de estado já mencionados, para dar lugar à construção de um novo estado global total: O das transnacionais e dos grandes capitais entrincheirados após a maior acumulação de armas que a história conhece. Se o lucro na economia real tende a baixar, já nada importa acerca da forma como se obtém o lucro, o que conduz à corrupção e à criminalização das sociedades. Os estados convertem-se em garantes para toda a modalidade de acumulação. Deste modo também o estado tradicional tem vindo a ser substituído por um novo conceito: o de um Estado-corrupto-totalitário que é aquele que oferece as melhores e mais rápidas oportunidades para acumular, mas que a par disto desmantela todo o sistema anterior, e não apenas o social. Isto não é sustentável por muito tempo sem que se afunde no caos”…
 
A China é tida como a maior potência económica a partir da 2ª década do século XXI e os Estados Unidos, ciosos da sua hegemonia unipolar, assumem por via da geo estratégia global do Pentágono as medidas que visam contrariar essa “ascensão” que necessariamente terá também repercussões militares, uma vez que a China, dependente da importação de recursos energéticos e de matérias-primas, terá de mover meios importantes nos relacionamentos que tem vindo e continuará a encetar em todos os continentes.
 
A “doutrina Obama” como é interpretada pelo Pentágono cerca a China pelo mar, num enorme “colar de pérolas”!
 
A “concorrência” implica um conjunto muito alargado de tensões para lá dos dispositivos militares, tensões que se vão manifestar nas esferas políticas, económicas, financeiras, sociais e culturais.
 
Com a finitude do petróleo e do gás essas tensões podem facilmente degenerar em conflitos e guerras!
 
O Presidente Obama estabeleceu recentemente a linha geo estratégia da Ásia-Pacífico, assente no Pentágono: ao promover a valorização dessa iniciativa, em paralelo desenha outra que lhe é sincronizada, contornando a Rússia na imensidão Euro-Asiática a fim de provocar a fragmentação da Federação e fazendo ao mesmo tempo proliferar à escala global o conjunto de medidas subsidiárias dessas duas iniciativas tão fulcrais nas direcções do Médio Oriente, Ásia Central, Europa, África e América Latina.
 
Desse modo, todos os Comandos regionais subordinados ao Pentágono e os acessórios como a NATO e o ANZUS, nada mais fazem senão preencher ao seu nível e num enquadramento muito alargado, os papéis previstos em reforço das iniciativas geo estratégicas fulcrais: a Euro-Asiática (cercando a Rússia) e a Ásia-Pacífico (envolvendo a China).
 
Isso explica o facto dos Estados Unidos terem voltado a página em relação às contradições típicas da “era Bush”, o que opunha os Estados Unidos ao mundo islâmico mais fundamentalista; é possível observá-lo quando há a escolha de grupos de Al Qaeda que se vão incorporando nas “forças amigas” e aqueles que são mantidos em campo “inimigo” no quadro das “performances” com os sunitas ricos em petróleo e petro-dólares!
 
Os grupos da Al Qaeda na Líbia e na Síria, por exemplo, passaram para o campo da hegemonia unipolar, por que sendo os xiitas aliados da Rússia e do Irão, as linhas de ataque ficam definidas a partir da defesa da Arábia Saudita, do Qatar, dos Emiratos, do Bahrein!...
 
Aqueles regimes laicos que tenham cultivado opções fora das referências religiosas, como o caso da Síria, em função de suas alianças estão a sofrer as consequências das geo estratégias da “era Obama”!
 
16 – No continente africano as medidas estruturadas a parir do concurso do AFRICOM e envolvendo toda a extensão do continente, visam num plano prioritário aqueles países ricos em petróleo: para a hegemonia é preciso afastar deles sobretudo a China, tendo em conta que ela é dependente de fornecimentos de petróleo do exterior e o petróleo é-lhe indispensável para atingir o patamar de desenvolvimento acima daquele em que se encontra de momento os Estados Unidos.
 
Na África do Norte, os Estados Unidos e seus aliados europeus têm-no conseguido, correspondendo a evolução da situação na Líbia ao processo mais radical: dezenas de milhares de chineses tiveram de abandonar o país e os interesses russos e chineses estão em perda.
 
Os outros países da África do Norte estão envolvidos nos programas comuns do Mediterrâneo (União do Mediterrâneo) e estão mais vocacionados para o campo ocidental.
 
O petróleo e o gás da Argélia e da Líbia são efectivamente muito importantes pois tal como acontece com os similares produzidos na Arábia Saudita, no Iraque e nos espaços das outras monarquias arábicas, têm um muito baixo custo de produção, o que aumenta os lucros das corporações multi-nacionais!
 
No caso do Sudão, o facto do Sudão do Sul ter alcançado a independência com o apoio histórico dos Estados Unidos por via de alguns “lobbies” ultra conservadores (“Conservative Caucus” formado por fundamentalistas cristãos que promovem “cruzadas” africanas ao ponto de terem sido apoiantes de Savimbi), espelha um conjunto de ganhos substanciais que procuram enfraquecer os relacionamentos da China agora com os dois Sudão.
 
Na Nigéria o espectro de conflitos de vária ordem, entre eles os que por via religiosa opõem cristãos e muçulmanos e as tensões no delta do Níger, obrigam o governo federal nigeriano a reforçar a sua aliança com a hegemonia unipolar facilitando as corporações multinacionais ocidentais, principalmente as anglo-saxónicas.
 
No Golfo da Guiné, o colar de pequenos produtores que compõem a “FrançAfrique” estão integrados em sub-categorias no sistema AFRICOM, reforçando a ocidente de África o sistema de alianças com os Estados Unidos e sobretudo a França.
 
Resta pois referirmo-nos ao caso muito especial de Angola.
 
As corporações multinacionais ocidentais do petróleo e do gás beneficiaram sempre de entendimentos que lhes têm sido prodigamente favoráveis, tendo em conta que a maior parte da produção de petróleo e de gás é feito no mar (“offshore”), com custos muito superiores às produções “onshore” de outras paragens.
 
Esse favorecimento teve implicações geo-políticas na deriva dos apoios norte americanos, em benefício do governo angolano de 1993 a 2010, mas a administração de Barack Hussein Obama, tendo em conta a presença chinesa com largas implicações na reconstrução nacional angolana, assim como os fluxos de petróleo a gás angolano na direcção da China como moeda de troca, enquadra Angola numa sub-sub categoria em relação às duas geo estratégias fulcrais!
 
O que o Wikileaks tem vindo a dar a conhecer em relação à diplomacia norte americana em Angola, indicia uma particular atenção da Embaixada dos Estados Unidos: a Embaixada acompanha de muito perto os relacionamentos de Angola sobretudo para com a China e a Rússia!
 
Nesse quadro a administração democrata de Barack Hussein Obama tende em relação a Angola em romper de certo modo com o que se passava antes, na tentativa de aumentar os obstáculos nos relacionamentos recíprocos de Angola para com a China e a Rússia, daí a inscrição da crescente estratégia de tensões ilustrada nos Sinais Controversos anteriores.
 
Se tivermos em conta sobretudo os “timings” das eleições em Angola e das eleições nos Estados Unidos, essa tendência da administração de Obama vai-se reflectir num aumento cadenciado de apoio à oposição, incrementando a estratégia de tensões sempre que se vierem a registar pleitos eleitorais (primeiro para as autarquias em 2014/2015, depois para as legislativas, estas em 2017), o que não exclui a viabilidade dum “Dhlakama angolano”… é preciso lembrar que os Estados Unidos estão também inclinados a redesenhar o mapa africano, alterando em pleno neo colonialismo (século XXI), o que foi feito pelos impérios coloniais em Berlim (século XIX)!
 
Foto: O Presidente Barack Hussein Obama esteve por diversas vezes reunido com o Presidente da China, Hu Jintao; esta foto é de Janeiro de 2011.
 
A consultar:
- Economia de guerra vs economia especulativa – a onze anos das Torres Gémeas – http://www.odiario.info/?p=2666
- Economia real vs economia virtual – o ultraliberalismo global e a crise europeia – http://www.odiario.info/?p=2655
- A doutrina Rumsfeld – alta tecnologia e a privatização da guerra – http://hablandorepublica.blogspot.com/2012/03/la-doctrina-rumsfeld-alta-tecnologia-y.htmlhttp://www.odiario.info/?p=2562
- A geo-política de Obama: a China na mira do Pentágono – http://www.odiario.info/b2-img/CHINANAMIRADOPENTGONOPOR.pdf
- Energia e geo-política: a batalha pela Ásia Central – http://www.outraspalavras.net/2011/06/09/energia-e-geopolitica-a-batalha-pela-asia-central/
- Guinada estratégica dos EUA: A SEGUNDA Guerra Fria e a América do Sul – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/guinada-estrategica-dos-eua-segunda.html
- China and Russia are acquiring gold, dumping US dollars – http://www.globalresearch.ca/central-banks-are-acquiring-gold-dumping-us-dollars/22672
- Putin’s geopolitical chess game With Washington in Syria and Eurasia – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32019
- Jogos africanos do neo colonialismo norte americano em África – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/05/jogos-africanos-do-neocolonialismo.html
- China's Africa Aid Aims To Achieve Political Goals – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09BEIJING1311&q=angola
- U.s.-china Africa Sub-dialogue: A/s Frazer And Afm Zhai Jun Discuss Assistance, Conflicts And Cooperation – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=08BEIJING3996&q=angola
- Chinese Investment Deal May Weaken International Donor Efforts – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09CONAKRY470&q=angola
- China And Africa: Shanghai Views On Expanding Trade And Investment Ties – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09SHANGHAI160&q=angola
- Request For Information On Chinese Engagement In Angola And Potential Areas For Cooperation – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=10LUANDA84&q=angola
- Dos Santos's China Visit Demonstrates Strong Bilateral Ties – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=08LUANDA1023&q=angola
- Russian Business Presence In Africa – http://www.cablegatesearch.net/cable.php?id=09STATE88241&q=angola
 
* Para ler todos os textos de Martinho Júnior, clique aqui
 

1 comentário:

Anónimo disse...

3 000 soldats US en route pour l’Afrique - http://www.afrique-asie.fr/menu/afrique/4226-3-000-soldats-us-en-route-pour-l-afrique.html

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