Agência Financeira
Presidente do
Brasil recomenda que países com margem gastem e consumam mais
A Presidente do
Brasil, Dilma Rousseff, voltou a defender uma alteração às políticas económicas
europeias, considerando que a austeridade exagerada «se derrota a si própria» e
instando a uma genuína união bancária no espaço europeu.
«A história revela que a austeridade elevada se derrota a si própria», disse a Presidente brasileira, em declarações em Madrid, citadas pela Lusa.
«O corte radical de gastos e a política de austeridade não podem ser as únicas respostas para resolver as questões colocadas pelas dívidas soberana e bancária, pelas bolhas imobiliárias e pelas dúvidas do mercado», afirmou.
«A opção por políticas fiscais ortodoxas está a agravar a recessão nas economias desenvolvidas com reflexo nos países emergentes», afirmou.
«As principais lideranças no mundo desenvolvido não encontraram ainda um balanço entre a austeridade e as medidas de estímulo ao crescimento e consumo. E isso é inevitável para parar a recessão e estimular o crescimento», considerou ainda.
Rousseff defendeu que as regiões em crise devem avançar para «estímulos fiscais imediatos e para planos de austeridade a médio e longo prazo», com medidas anticíclicas, «especialmente dos países com excedente, que tem que investir mais, comprar mais, consumir mais».
«Se todos fizerem ajustes simultâneos o resultado é a recessão. Fazer isso seria sem dúvida uma estratégia perversa. Articular a austeridade com o crescimento seria menos perverso para famílias e empresas», considerou.
No seu discurso, dominado pelo debate económico e onde traçou detalhes sobre os avanços, reformas e conquistas da economia brasileira nos últimos anos, Rousseff deixou recados para os líderes europeus.
«Dificilmente os mercados acreditarão na estabilidade e nas garantias das dívidas sem a urgente união bancária, sem um banco central com poderes para defender de forma ampla a moeda, capaz de emitir títulos e de atuar como emprestador de última instância», considerou, afirmando que se o crédito desaparece fragmenta todo o espaço económico.
A governante brasileira disse que se evidencia também uma crescente desconfiança das populações e dos mercados, que duvidam da eficácia das medidas.
«Apenas se transforma em insolvência problemas que eram de liquidez. Cobra preço social, levando a situações políticas difíceis, à descrença na democracia e a aumento da xenofobia», considerou ainda.
Entre a cidadania, explicou, cresce a desconfiança pelo aumento sistemático do desemprego, do aumento da pobreza, e do «desalento que toma conta da família e da sociedade».
«Apesar de cortar despesas, o défice e a divida aumentam e as pessoas ficam com uma visão muito negativa da realidade. Vemos a pobreza mostrar a sua face maligna nas economias desenvolvidas e as classes médias fortemente reduzidas», considerou.
«Isso destrói as bases da sociedade de bem-estar duramente construídas. O Brasil sabe por experiência própria que os problemas da dívida soberana dos estados não se resolvem num quadro de recessão», afirmou.
Por isso, Dilma Rousseff, defendeu um «pacto amplo a favor do crescimento» com iniciativas que «impeçam o desespero do desemprego e da falta de oportunidades».
«Nós temos feito a nossa parte. Também sofremos com a crise, como os outros. Mas apesar da redução conjuntural do nosso crescimento, estamos a manter níveis de emprego em patamares extremamente elevados, reduzimos a desigualdade social e aumentámos o rendimento dos trabalhados», considerou.
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