Maria Lopes – Público, ontem
O ex-director de
Informação da RTP autorizou a PSP a visionar todas as imagens da manifestação
frente ao Parlamento.
Nuno Santos, o
ex-director de Informação da RTP, foi quem autorizou a PSP a ver a totalidade
das imagens captadas pelas câmaras da estação nos confrontos junto ao
Parlamento, no dia 14.
Esta é uma das
conclusões do inquérito interno que a administração da RTP mandou instaurar na
passada semana, para apurar o que realmente se passou e que permitiu que dois elementos
da PSP tenham estado nas instalações da empresa a visionar imagens da carga
policial.
Questionado pelo
PÚBLICO, Nuno Santos recusou-se a fazer declarações, limitando-se a dizer que
tomará “uma posição ainda durante o dia de hoje”.
O director-geral de
Conteúdos, Luís Marinho, sai completamente ilibado do caso, porque o inquérito
apurou que este “só teve conhecimento dos factos, tal como tinham ocorrido”, no
dia 19, e, “de forma detalhada”, no dia 20. Nessa altura, transmitiu “de
imediato” ao presidente da RTP, Alberto da Ponte, o que se passava.
As imagens que os
dois elementos da PSP viram foram “transcritas“ para DVD, mas “não chegaram a
sair da RTP”, conseguiu-se também concluir.
De acordo com uma
informação divulgada pelo conselho de administração com o “resumo dos factos
apurados em sede de inquérito”, a PSP pediu à subdirecção de Produção de
Informação, ainda no próprio dia 14, a “escolha e cedência das imagens dos
incidentes do dia da greve, recolhidas pela RTP, bem como o seu visionamento
nas respectivas instalações”.
A autorização para
que isso acontecesse veio do então director de Informação, e a PSP poderia
fazê-lo, no dia seguinte, “num sítio discreto que não no Arquivo”, apurou este
inquérito.
No dia 15, a PSP
visionou “imagens dos incidentes através de um computador, com a aplicação Q-View
e, através de laptop, cassetes contendo as imagens captadas pelos operadores
repórteres da RTP”. Ainda que “grande parte” dessas imagens seja das que a RTP
de facto emitiu em directo ou em peças jornalísticas nos diversos blocos
noticiosos dos vários canais, a PSP também viu outras que “nunca foram
transmitidas”. Isso faz com que não tenham sido “seguidos os procedimentos
habituais na empresa”, aponta este resumo dos factos apurados.
Ainda nesse mesmo
dia as imagens visionadas foram gravadas em DVD, mas estes, porém, “não
chegaram a sair da RTP”. Só no dia 16, quando a PSP pediu formalmente ao
Arquivo as imagens, é que foram cedidas as “emitidas na RTP1 e na RTP
Informação (directos e noticiários, 3h22, em dois DVD ) através dos
procedimentos habituais”.
Os factos, tal como
tinham ocorrido, só chegaram ao director-geral no dia 19. E apenas no dia 21
houve reacção do presidente, Alberto da Ponte, que considerou que a “presença
da polícia nas instalações da RTP para aquele objectivo, autorizada pelo referido
director, ao arrepio de todos os procedimentos internos instituídos e sem que
disso tivesse dado conhecimento prévio” à administração, obrigava a que esta
perdesse a “confiança” em
Nuno Santos. A consequência lógica foi o pedido de demissão
de Nuno Santos, conhecido na quarta-feira passada, ao início da noite.
Na terça-feira, a
assessoria do conselho de administração disse ao PÚBLICO que as conclusões só
seriam conhecidas ao fim da tarde de quarta-feira, depois de o presidente da
RTP, Alberto da Ponte, entregar o relatório na ERC – Entidade Reguladora para a
Comunicação Social, com a qual tem um encontro às 17h, por uma questão de
“cortesia”.
Porém, a assessoria
esclareceu hoje ao PÚBLICO que os presidentes da RTP e da ERC entenderam que
este resumo devia ser “libertado mais cedo”.
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