Carvalho da Silva –
Jornal de Notícias, opinião
No passado dia 14
os trabalhadores portugueses e de mais 22 países europeus realizaram uma
importante e indispensável luta laboral e social por uma outra Europa.
Com a divulgação,
na passada quinta-feira, dos números do Produto Interno Bruto (PIB) relativos
ao terceiro trimestre de 2012 a zona euro entrou oficialmente em recessão. Nesse
trimestre o PIB decresceu 0,1% relativamente ao trimestre anterior. Como esta queda
se segue a uma outra de 0,2% (no 2.oº trim. 2012) e se convencionou que dois
trimestres seguidos de contração do PIB são uma recessão, os economistas
concluem que a zona euro entrou em recessão "técnica".
A Grécia entrou em
recessão no 1.oºtrim. 2009, seguiu-se Portugal (1.oºtrim. 2011), Chipre e
Itália (4.o trim. 2011) e a Espanha (1.o trim. 2012). Outras regiões serão
contaminadas, em resultado de uma ignóbil austeridade.
Reconhecerão os
dirigentes europeus que a "experiência" fracassou, como já se ouve
dizer no seio do Fundo Monetário Internacional, e procurarão alternativas
favoráveis ao investimento e à criação de emprego? Não! Insistirão na tese de
que a dor faz parte da cura. Que temos de esperar, pacientes, até nos
esvaziarem totalmente os bolsos, e destruírem o Estado Social com a receita da
economia psicológica da Sra. Merkel, que desempenha o papel do suserano dos
grandes interesses financeiros a quem o Governo, o presidente da República (PR)
e a Direita prestam vassalagem, obrigando o povo a pagar o tributo.
É nesse contexto
que no passado dia 14 os sindicatos europeus organizaram uma jornada de luta
sem precedentes. Estão de parabéns todos os trabalhadores que fizeram greve e
todos os cidadãos que participaram nas grandes manifestações realizadas. Em
Portugal está de parabéns a CGTP-IN e todos os sindicatos que as convocaram e
organizaram.
O 1.o-ministro
escolheu o dia de greve para ser "solidário" com os desempregados -
que as suas políticas têm gerado - e com os que trabalharam, quando muitos
deles carregam fardos de dificuldades e de desilusões de tal ordem que já só
conseguem fugir da vida. Foi um desastre a declaração do PR que, com sorriso
amarelo, reconheceu o direito à greve na Constituição da República para logo
afirmar (ele que é tão mudo) que trabalhava.
Em Espanha a greve
teve grande adesão. Os trabalhadores e o povo vieram para as ruas em massa
dizer "Basta!" às políticas de austeridade e denunciar que o Governo
cuida dos interesses dos capitalistas ignorando o trabalho. O Governo espanhol,
ao mesmo tempo que afirmou ter baixado pouco o consumo de eletricidade, acusou
os grevistas de causarem prejuízos de muitos milhões de euros e mentiu de forma
escandalosa sobre a dimensão das manifestações. Lá, como aqui, os governantes
viciaram-se na hipocrisia e na mentira.
O 14 de novembro
não tem precedente na história do movimento sindical europeu. Significou um
novo momento de esperança. Trata-se de um marco memorável pela articulação,
pela abrangência, pela capacidade de integração de múltiplos sectores da
população. Foi uma janela de sanidade que se abriu na "loucura"
instalada na Europa pelas elites governantes. Constitui um momento de relevo
num processo que, no plano nacional, derrotará o atual Governo e forçará
alternativas. Os incidentes violentos, marginais às manifestações, logo
mediatizados e tornados no acontecimento central, não podem apagar estes atos
cívicos fundamentais.
A luta à escala
europeia contra a austeridade e a favor de políticas de investimento e criação
de emprego é o sinal da outra Europa que desperta. À Europa coerciva,
irracionalmente dicotómica, hierárquica e autoritária (quase neocolonial) que
vimos experimentando opôs-se o ideal de uma Europa de paz, de solidariedade, de
valorização do trabalho, de combate à pobreza e à exclusão. Uma Europa fundada
na cooperação entre os povos e as nações.
Por estes objetivos
e congregando vontades, a luta social prosseguirá estimulando o surgimento de
alternativas políticas. Com determinação há que chamar a democracia a resolver
os impasses políticos.
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