Carvalho da Silva –
Jornal de Notícias, opinião
Já não há tempo nem
espaço para condescendência com as políticas que o Governo PSD/CDS vem impondo
e, muito menos, com as medidas que está a preparar. A intervenção social e
política a desenvolver tem de ser formulada e posta em prática com o objetivo
de, num período curto, derrotar esta "espécie" de "refundadores"
instalada na governação. Há que agir de forma contínua, com inteligência e um
grande esforço de diálogo, com criatividade e clareza nos argumentos e
persistência no esclarecimento, com participação crescente dos cidadãos dos
mais diversos setores e camadas da sociedade.
A apresentação do
Orçamento do Estado (OE) para 2013 pôs a nu que estamos perante o maior
obstáculo ao processo de desenvolvimento do país, depois da derrota do regime
fascista em Abril de 1974, e diante da mais delicada crise política pós 1975.
Cumprir a "maratona" organizada pela troika e pelo Governo
significará, sem dúvida, hipotecar o futuro de uma ou mais gerações e
comprometer a democracia e a soberania do país.
O caminho errático
e de desastre à vista, que os poderes dominantes estão a impor à União Europeia
(UE) só complicará as condições de resposta aos problemas com que nos
deparamos. Porque não podemos tratar com ligeireza a nossa condição de membros
da Zona Euro ou de membros plenos da UE, porque é preciso aumentar a exigência
de novos rumos para esse projeto coletivo, temos de tratar com mais
determinação e profundidade a análise das capacidades e propostas concretas que
os portugueses podem utilizar para evitar o desastre. Não fiquemos à espera de
milagres vindos da Europa: a generalidade dos cidadãos informados, de diversas
regiões do Mundo, tinham no projeto da UE uma referência muito positiva no
plano social e político, entretanto, hoje olha-o como ameaça aos direitos
fundamentais dos povos que o integram e à estabilidade económica e política a
nível mundial.
A manutenção de
Passos Coelho e seus pares no Governo pode significar não apenas o estilhaçar
do Estado Social mas, também, o atrelar do país a compromissos que nos farão
sofrer por décadas. Já é bem claro que as chantagens internas e externas sobre
os portugueses se vão intensificar nas próximas semanas. Além disso, tenha-se
presente que há gente no Governo e na sua área política que, estando
convencidos de que tão cedo não disporão de idêntica oportunidade histórica
para fazer acertos de contas com o povo e a democracia, quando se sentirem um
pouco mais apertados não hesitarão em destruir tudo o que puderem para
dificultar ao povo, a personalidades de diferentes áreas, às forças sociais,
económicas e políticas que não se submetem, o encontrar de novos rumos. A
crença ideológica sob a qual atuam é de tal ordem que pode levar "seres
humanos normais" a concretizarem verdadeiras loucuras.
Repare-se na
seguinte malvadez: o OE para 2013 concretiza um brutal ataque às condições de
vida dos portugueses, designadamente pelo assalto fiscal sem paralelo na
história. Forças e estrategas da Direita juntaram-se à sua denúncia, mas
desencadearam de imediato uma monumental campanha para convencer o povo de que
o corte devia ser feito "pelo lado da despesa" escondendo o que isso
significa. No primeiro dia de discussão do OE na Assembleia da República já não
se discutiu os seus conteúdos, o debate foi sobre a dose de "cortes
estruturais na despesa", logo cortes permanentes que, não fazendo parte do
OE, estão em preparação acelerada. Dois dias depois soube-se, por um comentador
de serviço da área do Governo, que a troika está em Portugal há três semanas a
trabalhar ativamente essas medidas.
Isto é terrorismo
político.
Na sequência dos
protestos dos portugueses contra o agravamento da carga fiscal, Vítor Gaspar
concluía publicamente que os portugueses não estão dispostos a pagar o Estado
Social. Dias depois, anunciou a redução demolidora do Estado Social. Em
conclusão: debaixo desta manipulação podemos ficar com uma dura carga fiscal e
sem Estado Social.
Evitar o desastre é
possível reduzindo drasticamente o custo do serviço da dívida e mobilizando
recursos e capacidades dos portugueses para criar emprego, dinamizar a economia
e proteger os que têm mais dificuldades.
2 comentários:
Blog 'Ladrões de Bicicletas':
«...em 2013 dar-se-á início ao desmantelamento/destruição do modesto Estado-providência que a custo fomos construindo segundo os princípios da Constituição de 1976.
Chegados a esta encruzilhada, já não podemos adiar a escolha. Desmantelamos o Estado-providência a pretexto de sanear as contas públicas após o que, já sem financiamento europeu, acabaremos por deixar o euro. Ou assumimos que chegou a hora de dizer basta!, recuperamos a soberania sobre a nossa moeda e reestruturamos a dívida pública...»
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-> Consultar o know-how islandês poderá ser muito útil!
[obs: deve-se icentivar atitudes de participação cívica... que não sejam... gritar com megafones, derrubar barreiras policiais, etc]
-> A Islândia conseguiu colocar um TRAVÃO nos Credores-esmifradores:
- Islândia: a revolução censurada pelos Media, mas vitoriosa!
Resumo (tudo pacificamente):
- Renegociação/reestruturação da dívida;
- Referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais;
[uma sugestão: blog «fim-da-cidadania-infantil»]
- Prisão de responsáveis pela crise;
- Reescrita da Constituição pelos cidadãos.
{Obs: Os políticos e os partidos políticos vão ter que se aguentar... leia-se, têm de passar a ser muito mais controlados pelos cidadãos}
P.S.
Para os islandeses, o poder político e financeiro não são de fiar... leia-se, a Islândia não é de esquerda nem de direita: é avessa a desvarios capitalistas, como todos os estados modernos deveriam ser.
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