Respekt,
Praga – Presseurop, com foto
Foi a primeira vez,
desde 1989: no dia 13 de outubro, o Partido Comunista Checo ganhou as eleições
em duas regiões. Prepara-se agora para as legislativas de 2014, com o objetivo
de aumentar a sua influência. No entanto, em Karlovy Vary , o
semanário Respekt constata que nada mudou para eles, desde os saudosos tempos
do partido único.
O ar de professor
jovial que exibe Jaroslav Borka não engana. Começou a carreira no ensino
primário. Pouco depois, trocou a escola pela política. Parece que para sempre.
Cabeça de lista do Partido Comunista em Karlovy Vary [zona oeste do país], ganhou
as eleições regionais. Conta assumir o controlo da maioria do Conselho
Regional e preparar o caminho para novas vitórias comunistas. E não apenas em Karlovy Vary [o
partido também ficou em primeiro lugar na região vizinha de Usti nad Labem].
"Para nós, abre-se uma nova era de responsabilidades e de poder de
influência", afirma.
Se não fosse pelos
cartazes de campanha dos comunistas e a maqueta de gesso da Praça Vermelha,
ninguém imaginaria estar perante um dos gigantes do partido das cerejas
vermelhas [emblema do KSCM, o Partido Comunista da Boémia e Morávia]. Há quatro
anos que ocupa o cargo de assessor no Serviço dos Assuntos Agrários da Região
de Karlovy Vary. "A relação que estabeleci com Moscovo e a Rússia data da
minha juventude", conta Jaroslav Borka, de 60 anos. "Há certos laços
que ficam para toda a vida."
Uma vitória “histórica”
Era ainda
adolescente quando tentou abnegadamente aderir ao partido, nos anos 1970. Nunca
se arrependeu dessa decisão. Para ele, o Partido Comunista é hoje uma
"esquerda moderna" e está convencido de que a era atual, marcada pela
incerteza económica, lhe vai dar cada vez mais razão. "Vamos ganhar com um
argumento sólido e não pela força", diz Borka. "Pretender assustar as
pessoas, alegando que somos autoritários, é um absurdo! Não tenho palas nos
olhos. No Conselho, debato os assuntos com todos os políticos. O que importa,
para mim, é que, antes de mais, sejam honestos." Foi precisamente isso que
lhe permitiu subir tão alto na política.
O seu opositor,
Jiri Kotek, concorda: "Há comunistas que estão há anos na Comissão de
Supervisão ou no Conselho Regional, mas conseguem dar a sensação de nunca se
terem imiscuído em qualquer caso questionável." Também candidato às
eleições regionais, Kotek ficou conhecido por publicar o vídeo de um famoso
"sorteio". Nele, veem-se os políticos de Karlovy Vary, conluiados com
uma oficial de justiça, envolvidos num processo de seleção, obviamente
manipulado, para atribuição de um concurso de milhares de milhões de coroas
[mil milhões de coroas checas equivalem a cerca de €39 milhões]. O seu
movimento Alternativa, obteve 10% dos votos. Apelou a que todos os partidos
eleitos se recusem a trabalhar com o KSCM, colocando-o onde, na sua opinião, é
o lugar do partido comunista: marginal em relação à política.
Independentemente
disso, Jiri Kotek considera que não se deve sobrestimar a "vitória
eleitoral histórica dos comunistas", em Karlovy Vary. Foram
16 500 os eleitores que lhes deram os seus votos. O que os catapultou,
literalmente, para o topo foi sobretudo a baixa participação eleitoral (cerca
de 36%). Embora, há quatro anos, um número semelhante de votos lhes tenha
proporcionado 17% dos votos e oito lugares no Conselho Regional, este ano
obtiveram 23% dos votos e 14 das 45 vereações.
"Quatro
décadas de prosperidade"
No escritório de
Josef Murco, o chefe da secção do KSCM em Karlovy Vary , de 60
anos, um busto de bronze de Karl Marx perscruta o visitante. E ao entrar na
sala de reuniões, uma impressionante escultura de dois metros de altura
representa os soldados do Exército Vermelho, de metralhadoras em punho.
"Entrei [para
o partido] durante o serviço militar, em 1972", explica este antigo
professor do ensino profissional. Segundo ele, ninguém o conseguirá persuadir
do caráter nocivo das nacionalizações e das coletivizações forçadas. A seu ver,
eram ideias excelentes. "Eu próprio vivi isso. Os agricultores envelhecem.
E quem vai dar continuidade às explorações? Eles ficavam agradecidos por haver
cooperativas agrícolas", argumenta.
Para ele, o regime
anterior a novembro de 1989 foi uma "época sem problemas", que deu ao
país "quatro décadas de prosperidade". E se houve alguns erros, não
há certamente qualquer risco de, hoje, se repetirem. "Mas de um ponto de
vista puramente filosófico”, acrescenta imediatamente, “quem pode afirmar hoje
com segurança que o sistema atual é o único válido?”
É óbvio que Borka,
"o professor jovial", partilha da mesma forma de pensar.
"Tenciona restaurar os desfiles obrigatórios do 1º de maio e repor o arame
farpado na fronteira alemã?", perguntou-lhe um leitor do portal de
Internet iDNES.cz. "Não", respondeu. “Mas, sinceramente, muitos
cidadãos guardam uma memória agradável desses desfiles. E a permeabilidade das
fronteiras poderá, no futuro, favorecer a criminalidade e tornar-se muito
problemática."
Permanece em aberto
a questão do papel que os novos dirigentes da região tencionam atribuir à
crítica. "A crítica é naturalmente uma coisa positiva", afirma Josef
Murco. "Mas tem de ser construtiva. Se apenas a animarem más intenções,
devemos opor-nos a ela. É contra a liberdade de expressão, o que estou a dizer?
Há muito que essa liberdade não existe. Tentem fazer críticas no interior de
uma empresa capitalista... É despedimento imediato." Borka também já
declarou que a solução para o problema do desemprego pode estar em colocar
algumas empresas privadas locais sob o controlo da Região.
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