quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Portugal: PASSOS FALHOU NA SUA MISSÃO PRINCIPAL – A POLÍTICA

 


Henrique Monteiro – Expresso, opinião, em Blogues
 
É preciso cortar a despesa do Estado? Não há dúvida. A atual despesa corresponde, em grande parte, a salários e prestações sociais? É certo. O atual nível de impostos não se pode manter porque é insuportável? Corretíssimo. Que disse então Passos, ontem na entrevista à TVI, que não corresponda à realidade? Quase nada. O problema está no que fez até agora.
 
Passos não cortou à séria na despesa do Estado. Dir-se-á que não podia, porque precisava de um acordo mais amplo para o fazer. É verdade. Mas Passos não procurou esse acordo quando podia, quando o seu Governo ainda tinha margem e confiança. Na altura hostilizou o PS, a UGT e os parceiros sociais. Ao invés de se sentar com eles e tentar uma resposta conjunta à crise, isolou-se e deixou que o seu Governo perdesse o respeito por parte dos cidadãos.
 
Agora, o primeiro-ministro tem de cortar quatro mil milhões de euros até ao verão e não tem quem o apoie. Pode tentar resolver esse problema de várias formas, incluindo continuar num autismo galopante até ao desastre. Mas as coisas são o que são... Não há o mínimo ambiente político para medidas que podiam há ano e meio ser quase consensuais entre os partidos que tinham assinado o memorando (por exemplo, as pessoas com mais rendimentos pagarem parte da educação dos filhos, como o próprio referiu na entrevista).
 
Passos falhou na principal missão que tinha e que não era essencialmente técnica ou meramente económica, mas sim política: mobilizar os portugueses para sanear as contas públicas e colocar o país num novo rumo. Ou melhor, pensou que era possível fazê-lo sem contar com os outros, com as opiniões diversas, com o pluralismo próprio das sociedades modernas. Enganou-se.
 
Meteu-se numa trapalhada da qual dificilmente sairá.
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana