quinta-feira, 29 de novembro de 2012

RTP-PSP: NUNO SANTOS DIZ QUE FOI UM PRETEXTO PARA O AFASTAR

 

TSF
 
Nuno Santos reage ao inquérito da RTP dizendo que as conclusões estavam condicionadas à partida e que, por isso, se exige um apuramento independente.
 
Eis, na íntegra, o texto que Nuno Santos distribuiu:
 
«Tomei conhecimento do texto intitulado "Resumo dos factos apurados em sede de Inquérito", que pretenderá ser uma conclusão do intitulado "inquérito aos factos relacionados com a entrada indevida, facultada pela Direção de Informação de Televisão, de elementos estranhos à empresa tendo em vista a visualização e eventual entrega de imagens não emitidas por qualquer serviço de programas da RTP, relacionadas com os incidentes verificados no dia 14 de novembro".
 
Sobre esse título, já de si tendencioso e contra o qual tive ocasião de me pronunciar, entendo que o mesmo - não refletindo a verdade dos factos - é já um convite às conclusões à medida que, pelos vistos, resultaram do auto-denominado "inquérito".
 
Não conheço o relatório final nem a prova que terá sido produzida e, preparado que estou para todas as surpresas, entendo que a esses elementos me deve ser dado acesso para que me possa defender.
 
O "resumo" que foi divulgado é-me pessoalmente dirigido, o que é tanto mais estranho quanto me foi transmitido telefonicamente ao final do dia de sexta-feira 23 e posteriormente reiterado por escrito a meu pedido, que não havia necessidade de me ouvir no "inquérito", pois teriam sido recolhidos todos os elementos relevantes para o apuramento dito "rigoroso" dos factos. E que factos eram? A resposta foi lapidar: "Esses que andam aí nos jornais". Se fui ouvido, e por insistência minha, fiquei com a consciência plena de que o meu depoimento de nada poderia servir, como veio a verificar-se. Um desfecho incompreensível!
 
Considerando que:
 
a. O "resumo do inquérito" contem graves falsidades e lamentáveis juízos de valor;
 
b. Não autorizei em momento algum, e quero deixar isso bem claro, o visionamento de "brutos" sobre os incidentes de 14 de novembro;
 
c. A não saída dos DVDs, cuja transcrição fora feita sem meu conhecimento, deveu-se à minha intervenção e à do Diretor Adjunto de Informação;
 
d. Ausente em Londres, pedi a seguir um contacto pessoal com o Diretor Geral para discutirmos o assunto, tendo o mesmo sido concretizado no dia útil seguinte;
 
e. Os meus comportamentos acima referidos não se coadunam com qualquer actuação desleal ou desconforme às regras;
 
f. Ainda meses antes tinha eu recusado ao Provedor do Espectador, conforme é do conhecimento da Redacção, acesso aos designados "brutos" numa reportagem sensível sobre a utilização de crianças da Casa Pia em experiências científicas, tendo ficado bem claro o meu pensamento sobre o tema;
 
g. Como se explicaria que, de repente, tivesse mudado tão radicalmente a minha posição de fundo sobre esta matéria?
 
h. Há semelhanças flagrantes entre os tópicos do "resumo" agora dado a público e aqueles que me foram referidos, antes da abertura do "inquérito", pelo Presidente do Conselho de Administração. Aliás, a declaração deste órgão a anunciar a minha demissão contém já estas conclusões, antes do "inquérito".
 
i. Os inquiridores da RTP dependem do Conselho de Administração, o que torna evidente a necessidade de uma entidade imparcial apurar a verdade.
 
Só posso concluir o seguinte:
 
1. O resultado do "inquérito" estava à partida condicionado;
 
2. Todo este caso se afigura um pretexto para obter e, depois, justificar o meu afastamento;
 
3. Não compreendo que se manche a reputação de profissionais, e por arrastamento se coloque potencialmente em perigo a integridade física de repórteres da RTP que cubram as próximas manifestações, só com o objetivo de arranjar esse pretexto.
 
Durante os últimos vinte meses foi possível trabalhar na Informação da RTP com inteira liberdade e total independência perante todos os poderes e forças políticas, o que só pode ter causado incómodos. Trabalhar com inteira liberdade e total independência não é um detalhe desprezível nestes tempos incertos para o jornalismo e no clima que se vive na empresa e no país.
 
Termino reiterando a absoluta necessidade de um inquérito a conduzir por entidade imparcial, seja a ERC, o Sindicato dos Jornalistas ou a Comissão da Carteira Profissional do Jornalista, para o qual desde já volto a manifestar a minha total disponibilidade.
 
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