Mário Augusto
Jakobskind* – Direto da Redação
Fez bem o deputado
Romário ao propor a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para
investigar a Confederação Brasileira de Futebol. Romário é do ramo, ou seja,
conhece muito bem os bastidores da entidade, agora presidida por José Maria
Marin, que sucedeu nada mais nada menos que Ricardo Teixeira. Convenhamos,
depois de Teixeira vir Marin é dose cavalar para o esporte mais popular do
país. E Teixeira, queimado depois de mais de 20 anos de gestão, indicou Marin.
Teixeira é acusado
de várias falcatruas. Numa CPI terá todo o direito de defesa. Já o seu
substituto também não pode ser considerado exemplo para o esporte ou para o
País, muito pelo contrário. Aliás, o Brasil é useiro e vezeiro de passar por
cima de sua memória histórica, como se fatos do passado não interessassem.
Agora, graças ao
jornalista Juca Kfouri foi lembrado em seu blog quem é Marin, como ingressou na
política e o seu comportamento (sórdido) durante a ditadura civil militar que
assolou o país durante 21 anos a partir de abril de 1964.
Pois bem, José
Maria Marin ingressou na política antes de 64 elegendo-se vereador por São
Paulo nas fileiras do integralismo, que tinha o nome de Partido de
Representação Popular (PRP), capitaneado pelo fascista tupiniquim Plínio
Salgado.
Depois do golpe de
64, Marin conseguiu se eleger deputado estadual paulista na legenda do partido
da ditadura, a Arena, que por sinal está sendo revivida no século XXI ,
justamente contando com a falta de memória dos brasileiros.
O atual presidente
da CBF bateu o recorde em matéria de meu passado me condena, como lembrou
Kfouri. No triste momento do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas
dependências do DOI-CODI, Marin teve participação vestindo a camisa da linha
dura. Está nos anais da Assembleia Legislativa de São Paulo o discurso que fez
poucos dias antes do assassinato do jornalista. Em tom extremista, fazendo eco
com a linha dura do regime ditatorial, Marin, em setembro de 1975, pedia maior
rigor no combate aos “comunistas da TV Cultura”, e o “retorno da tranquilidade
aos lares de São Paulo”. Em seguida, Herzog foi intimado a comparecer na boca
do lobo e teve o fim que sabemos.
Marin discursou no
mesmo tom do então líder do governo Geisel, Dinarte Mariz, pouco tempo depois,
ao pedir maior rigor contra a imprensa brasileira, que, segundo o parlamentar,
estava “infiltrada de subversivos”. Mariz, que pelo nome não se perca,
praticamente deu o sinal verde para outro episódio lamentável na história do
país, o atentado a bomba contra a sede da ABI (Associação Brasileira de
Imprensa), em agosto de 1976, episódio que está sendo investigado pela Comissão
da Verdade.
Mas quem pensa que
o apoiador da ditadura José Maria Marin ficou só nisso em matéria de
extremismo, engana-se. É de autoria do atual presidente da CBF discurso
elogiando a atuação de Sérgio Paranhos Fleury, o hediondo delegado do DEOPS
paulista, responsável pela tortura e morte de centenas de opositores da
ditadura.
Sempre vinculado ao
que havia de pior no mundo político brasileira. Marin foi vice de Paulo Maluf e
acabou governando São Paulo por um tempo, sendo posteriormente substituído por
governadores eleitos.
Na verdade, uma
figura como Marin jamais poderia ter sido galgado à presidência da CBF, porque
tal fato depõe contra a imagem do Brasil. Esporte é vida e confraternização.
Marin não é nada disso, muito pelo contrário.
Juca Kfouri, com
todo o seu prestígio jornalístico e que prestou um serviço de utilidade pública
lembrando quem é Marin, poderia liderar campanha no sentido de destituir do
cargo o atual presidente da CBF. Um presidente da CBF ganha prestígio, ocupa
grandes espaços midiáticos, tem poder até para destituir ou convocar técnicos
sem consultar quem quer que seja.
Como estamos numa
democracia, o poder de pressão da sociedade tem peso. Por tudo que foi revelado
por Juca Kfouri. José Maria Marin jamais poderia estar ocupando o cargo que
ocupa.
É o caso de
perguntar ao competente deputado Romário, do Partido Socialista, como ele se
posiciona nesta matéria de tanto interesse dos brasileiros que vão se ligar na
Copa das Confederações neste junho de 2013 e na Copa do Mundo de 2014.
Já em Brasília, por
iniciativa de Deputada Luiza Erundina, a Câmara dos Deputados prestou
importante homenagem devolvendo simbolicamente o mandato de 173 parlamentares
cassados pelos governos de fato que ocuparam o país depois de abril de 64.
Destes, apenas 29 estão vivos.
A Justiça foi
feita. Espera-se que o Parlamento siga adiante em suas iniciativas que ajudam a
passar o país a limpo. Por que não a Deputada Erundina ou algum outro
parlamentar apresentar projeto impedindo que nome de ditadores de plantão
continuem servindo para denominar ruas ou avenidas deste país. E que seja
recomendado ao Ministério da Educação que nos livros didáticos os ditadores do
período sejam tratados não como presidentes da história do Brasil, mas como
ditadores que foram. Fica a sugestão.
Ah, sim, depois da
Câmara dos Deputados, seria importante o Senado fazer o mesmo. Com a palavra
José Sarney.
* É correspondente
no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros,
de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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