Libération, Paris –
Presseurop – imagem Nicolas
Vadot
A última cimeira da
União Europeia deste ano não vai avançar na senda de uma união económica e
monetária mais estreita. Deve-se isso a Berlim e Paris, que chegaram a um
acordo para abandonar o roteiro apresentado por Herman Van Rompuy. O debate
sobre o futuro da União foi adiado para 2014, depois das eleições alemãs e
europeias.
François Hollande e
Angela Merkel acabam de pregar uma partida muito prejudicial à União Europeia.
O par franco-alemão, por uma vez de acordo, decidiu ontem inviabilizar um
debate estratégico sobre o futuro da Europa. Um debate adiado, suprimido ou
mesmo banido.
Os Vinte e Sete
tinham-se comprometido a adotar, antes do fim do ano, um “roteiro” político.
Nele deviam constar as grandes etapas de uma “integração solidária” – para
retomar uma expressão sibilina grata ao Presidente Hollande. Que solidariedade
financeira, capacidade orçamental comum, controlo democrático?
Não se tratava de
tomar decisões a respeito de tudo, nem de investir numa irresponsável fuga para
a frente; pretendia-se apenas dinamizar todas as instituições da União e,
sobretudo, abrir um vasto debate, às claras. Pelo menos por duas razões. A
sobrevivência da zona euro depende disso: os Vinte e Sete só evitaram a
catástrofe com decisões que foram dando passos no sentido da solidariedade
financeira entre os Estados-membros, a cada cimeira apelidada de “última
oportunidade”. Mas essa navegação à bolina – e é a segunda razão – foi feita
sob pressão dos mercados, sem uma visão política e, sobretudo, nas costas da
opinião pública.
Discordando quanto
aos contornos de um novo federalismo europeu, franceses e alemães preferiram
uma política de avestruz: Angela Merkel entra num período eleitoral e não quer
correr nenhum risco, e François Hollande teme reacender velhas feridas dentro da
sua maioria. Pare-se tudo!
Só que esta visão
politiqueira baseia-se em premissas duvidosas, como se a crise estivesse
definitivamente ultrapassada e as populações se pudessem contentar com uma
austeridade de vistas curtas.
Visto de Portugal e
Itália
Mais uma cimeira
decisiva
“O Conselho Europeu
de hoje e amanhã vai discutir um roteiro para reformar e completar a União
Económica e Monetária, que será decisivo para ultrapassar a crise da zona
euro”, escreve Maria João Rodrigues no
Público. Segundo ela, depois de três anos em que as medidas adotadas
estiveram sempre aquém do necessário, deixando a crise alastrar, estão
finalmente em cima da mesa propostas de grande alcance, em cujo debate Portugal
deve intervir ativamente […] por forma a reduzir a lógica intergovernamental
nas tomadas de decisão, já que ela só favorece os países mais fortes. O chamado
método comunitário, baseado na iniciativa da Comissão Europeia e valorizando o
papel do Parlamento Europeu, é o método que melhor pode promover a igualdade
dos Estados-membros e dos cidadãos europeus, hoje muito degradada.
“Esta é a última
cimeira […] de um ano complicado encerrado pela UE numa atmosfera de grandes
preocupações e incertezas sobre praticamente tudo. Sobre o seu futuro, a sua
identidade, a sua integração ou o seu sonho federal”, escreve Enzo Bettiza em La Stampa.
Para o editorialista italiano, a cimeira de 13 e 14 de dezembro continuará a
dividir-se, durante as próximas 48 horas, em conversas de corredor e em discretas
reuniões bilaterais. Após ter contornado o perigo grego e ter congelado por
enquanto o défice espanhol, é na intimidade diplomática dos jantares privados
que os principais protagonistas da cimeira, os franceses e os alemães,
enfrentarão os dois principais “incidentes” que atualmente ameaçam a coesão da
UE: a deriva política da Itália e a contestação eurocética e antiburocrática do
Reino Unido.
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