Para manter a ordem
mundial baseada nos valores ocidentais, os Estados Unidos deveriam cortejar
quatro "swing states" globais: Brasil, Índia, Indonésia e Turquia.
O termo swing
states é muito conhecido na política interna dos EUA e se refere aos estados
onde tanto democratas quanto republicanos têm chances de vencer as eleições. Por
essa razão, a campanha eleitoral nesses estados é sempre mais intensa.
Agora,
especialistas de dois órgãos de consultoria política de Washington propõem a
utilização desse conceito também em nível internacional. No relatório Global
Swing States, os autores defendem que os EUA devem concentrar esforços para
manter do seu lado quatro swing states globais: Brasil, Índia, Indonésia e
Turquia.
Esses quatro países
preenchem os requisitos apresentados pelos especialistas: são democráticos, têm
uma economia forte e em crescimento, e suas posições geográficas garantem a
eles um papel de liderança regional ou até mesmo de conexão entre várias
regiões.
Esses países,
afirma o relatório, são essenciais para preservar uma ordem mundial
democrática, com instituições como a ONU, o Banco Mundial e o FMI, num cenário
em que a ordem mundial do pós-Guerra é ameaçada pela ascensão da China, pelas
dificuldades econômicas de países ocidentais e pelos programas nucleares do Irã
e da Coreia do Norte.
O relatório é
assinado por Daniel M. Kliman, do German Marshall Fund (GMF), e por Richard
Fontaine, do Center for a New American Security (CNAS), um órgão de
consultoria, ou think tank, de significativa influência durante a administração
do presidente Barack Obama.
Cinco pilares
Os analistas dizem
que a cooperação pode ocorrer em cinco áreas fundamentais: comércio, sistema
financeiro, direito marítimo, desarmamento nuclear e direitos humanos. Esses
seriam os pilares que fazem avançar a paz, o bem-estar e a liberdade no cenário
internacional.
Esses pilares têm
igual importância, afirmou Kliman, mas cada país pode oferecer contribuições
específicas dentro dessas cinco áreas, de acordo com seus respectivos pontos
fortes e fracos.
"A Indonésia
pode contribuir muito para o avanço no campo dos direitos humanos e da
democracia, enquanto a Índia é bastante promissora na questão do direito
marítimo", declarou o especialista à DW.
No caso do Brasil,
o país costuma gerar entraves em negociações referentes ao livre comércio
internacional, e também em outras áreas seguiu com relutância as decisões
internacionais, por exemplo opondo-se a intervenções em regiões em crise, como
a Síria. Mas o Brasil contribui cada vez mais para o financiamento do Banco
Mundial e do FMI, assim como para a segurança marítima internacional.
Turquia: escolha
acertada?
O analista Michael
Rubin, do American Enterprise Institute, de tendência conservadora, declarou-se
surpreso com a inclusão da Turquia entre esses países. Ele lembra que o governo
turco contorna as sanções impostas ao Irã, por exemplo a que proíbe a compra de
gás e petróleo iraniano em euros ou dólares. A Turquia paga em ouro.
O estudo recomenda
até a admissão da Turquia na União Europeia, o que seria "uma enorme
contribuição da Europa à ordem mundial", segundo Kliman. Rubin, no
entanto, não concorda. "Essa recomendação é preocupante, tendo em vista o
relatório recente da organização Repórteres Sem Fronteiras, segundo o qual a
liberdade de imprensa na Turquia é mais restrita que na Rússia."
"Quem chama a
Turquia de democrática também deve chamar a Rússia de democrática",
afirmou Rubin. A Rússia não foi incluída como um dos swing states no relatório
também por causa dos problemas de sua democracia.
Rubin argumentou
ainda que a importância internacional dos países pode mudar rapidamente. O
estudo, segundo ele, é apenas uma fotografia do momento e poderia também
incluir a Coreia do Sul, a Malásia ou o Quênia.
Esse último,
segundo o analista do American Enterprise Institute, desempenha um papel
fundamental na estabilidade política da Somália, juntamente com Uganda e outras
nações africanas, o que não significa que os EUA devam intensificar sua
cooperação com essas nações.
Nada de novo sob o
sol
Rubin diz que a
ideia de swing states globais não é nada original e cita como exemplo um estudo
publicado em 1996 na revista Foreign Affairs, chamado Estados-chave e
estratégia dos EUA.
A análise citada
por Rubin é menos detalhada do que a de Kliman e Fontaine, mas se baseia no
mesmo pressuposto: os EUA devem se concentrar em um pequeno número de países,
com a meta de alcançar a estabilidade em nível regional e internacional. Entre
os nove países recomendados pelo estudo de 1996 também estavam Brasil, Turquia,
Índia e Indonésia.
Rubin disse ainda
que mesmo as recomendações individuais para cada país não trazem grandes
novidades, como por exemplo, o apoio às instituições democráticas, já
implementado.
O relatório tem
boas intenções, afirmou Rubin, mas ele disse duvidar que os quatro países
citados estejam de fato interessados em uma cooperação tão estreita com os EUA
e no fortalecimento das instituições internacionais. "O estudo é um
exercício intelectual bem interessante, mas não estou seguro se funcionaria ou
traria os resultados desejados, se fosse de fato implementado."
Autora: Christina
Bergmann (rc) - Revisão: Alexandre Schossler
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