Luís Rainha – Jornal i, opinião
Corre às mil
maravilhas o programa de embaratecimento da nossa mão-de-obra. O sonho húmido
de um país ajoelhado entre os salamaleques ao turista e o fabrico de T-shirts a
preços chineses aquece as noites de governantes e empresários ineptos. A tia
Jonet fornece o lubrificante espiritual: rezemos pela caridade da sua
capelinha, que a solidariedade é vício de dependentes do Estado.
Mas não basta o
regresso da escravatura; esta precisa de fábricas adequadamente fumarentas e
poluidoras, para cumprir o pesadelo dickensiano. Agora, o putativo ministro
Álvaro descobriu que urge dar cabo do nosso Ambiente, se queremos apanhar o
comboio do progresso industrialista: “não é aceitável que, em prol da nossa
política ambiental ou política comercial, a Europa tenha perdido indústria
desnecessariamente para outras partes”. Isto dias após sabermos que as
previsões de 1990 do IPCC foram confirmadas: o aquecimento global está mesmo a
acontecer, para mal dos nossos pecados. Mas se as “outras partes” poluem sem
freio, não fiquemos atrás. Deixem-se das tretas da inovação, sustentabilidade,
indústrias criativas... façam mas é as trouxas e regressemos à Idade Média.
Sim; devoremos tudo
o que poderíamos deixar aos nossos filhos. Do ar limpo aos lobos, que agora
também são apresentados nos media – citando pastores que não acompanham o gado
nem o dotam de cães de protecção – como inimigos do Portugal convertido à santa
miséria. Para esta malta, a autofagia é a receita certa para acabar com a fome.
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à quarta-feira
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