terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Egito: MANIFESTAÇÕES À VISTA CONTRA REFERENDO AINDA INCONCLUSIVO

 

 
A Irmandade Muçulmana anunciou o triunfo do "sim" na primeira etapa da votação da nova Constituição egípcia, depois da contagem de 99 por cento dos votos. Oposição já marcou protestos, denunciando irregularidades.
 
O "sim" terá ganho em oito das dez províncias nas quais se realizou o referendo, enquanto o "não" se impôs em duas, incluindo a província do Cairo. As informações foram divulgadas através de um comunicado da formação política da Irmandade Muçulmana, o Partido Liberdade e Justiça.
 
No sábado (15.12), o referendo decorreu nas províncias do Cairo, Alexandria, Daqahliya, Garbiya, Sharquiya, Asiut, Sohag, Asuán, e Norte e Sul do Sinai. A consulta foi dividida em dois dias devido ao boicote de grande parte dos juízes egípcios, que, por lei, são responsáveis por supervisionar as eleições. Isto gerou bastante polêmica e desconfiança na população, algo que pode ser percebido, por exemplo, nas palavras da eleitora Wassam Mohamed, que tem as suas preocupações "sobre a votação, porque havia apenas um juiz para fiscalizar o processo", na escola onde votou. "Todos os outros eram professores da escola", conclui.
 
Projeto de Constituição divide população egípcia

Vinte e seis milhões de votantes foram chamados às urnas, segundo a televisão estatal. O Egito está dividido nesta votação da nova Constituição, promovida pelos islâmicos depois da rejeição da oposição laica e liberal, que critica a falta de consenso na redação do texto. A Frente de Salvação Nacional (FSN), coligação dos principais movimentos da oposição egípcia, convocou uma mobilização em todo o país para protestar contra o projeto de Constituição, antes da segunda etapa do referendo constitucional, prevista para o próximo sábado (22.15).
 
Varias questões são controversas em todo o sistema. Wassam exemplifica com os direitos das mulheres, afirmando que "não foram mencionados em nenhum lugar na Constituição". Para a eleitora, "tudo foi escrito de forma obscura, usando o termo 'de acordo com a lei'." "Mas a lei seria", considera, "feita por um parlamento onde a Irmandade Muçulmana e os Salafistas detêm a maioria".
 
Oposição quer protestos nas ruas

A Frente de Salvação Nacional lançou um comunicado apelando aos egípcios para ocuparem as ruas na terça-feira (18.12) para defender as suas liberdades, evitar fraudes e rejeitar o projeto de Constituição. No final da primeira etapa do referendo, no sábado, os partidários do projeto de Constituição defendido pelo presidente do Egito, Mohamed Morsi, cantavam vitória, mas organizações não governamentais denunciaram os resultados marcados por irregularidades. A oposição afirma que este projeto de

Constituição abre caminho para interpretações repressivas do Islão e limita as liberdades. Um eleitor idoso expõe um pensamento que parece compartilhado por outros eleitores no país, começando por dizer que "é contra o referendo". E justifica: "Não tanto pela Irmandade Muçulmana, mas porque um grupo controla todo o país. No Egito, existem cerca de 40 partidos". "Como pode isto acontecer, apenas um partido controlar tudo?", questiona.

O Partido da Liberdade e Justiça (PLJ) de Morsi anunciou em seu site que 56,5% dos eleitores votaram a favor da Constituição. A imprensa egípcia também confirma a vitória do "sim". A principal coligação da oposição, a Frente de Salvação Nacional (FSN), afirmou no sábado que quase dois terços dos eleitores haviam rejeitado o texto. Mas um dos principais integrantes da coligação, o movimento Corrente Popular, confirmou que 56% dos eleitores aprovaram a nova carta. De acordo com os resultados preliminares, quase 57% dos eleitores no Cairo votaram contra a Constituição, enquanto o 'sim' venceu em Alenxadria. A Comissão Eleitoral se recusou a comentar as informações e não divulgou dados sobre a participação. Segundo integrantes da comissão, os resultados não serão divulgados pela Comissão Eleitoral até o fim da segunda etapa para não provocar confusão e para preservar o país.
 
Autor: Márcio Pessôa - Edição: Maria João Pinto/ António Rocha
 

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