Jorge Nascimento
Rodrigues - Expresso
A fragmentação da
zona euro agravou-se esta semana. França fixou mínimos nos juros e os Bunds
alemães a dois e três anos estão em terreno negativo, enquanto Portugal,
Espanha, Itália e Irlanda acentuam trajetória de subida de risco de
incumprimento e de juros da dívida.
A fragmentação da zona euro é gritante - França e Alemanha conseguem descer substancialmente os custos de financiamento da sua dívida soberana, inclusive no caso dos prazos mais curtos das obrigações alemãs os investidores aceitam yields negativas, enquanto Portugal, Espanha, Itália e Irlanda vêm as yields aumentar e o risco de incumprimento subir.
O alargamento deste
fosso ocorreu na própria semana em que Mário Draghi , o presidente do Banco Central
Europeu, declarou que tem observado nos últimos meses uma melhoria na
"confiança dos mercados", sobretudo depois do anúncio do programa do
banco central para uma eventual compra de dívida no mercado secundário conhecido
pela sigla OMT.
FRANÇA - mínimos
nas yields das obrigações
As yields das
obrigações do Tesouro francês a dois, a três e a dez anos fixaram hoje mínimos
no mercado secundário. No prazo a dois anos fecharam em 0,03% e no prazo a três
anos em 0,12%. As yields para as obrigações a dez anos continuam a descer
abaixo do patamar dos 2%, o que nunca havia acontecido, fechando hoje em
1,957%.
Apesar da dívida
francesa ter perdido o triplo A nas notações da Standard & Poor's e da
Moody's, o custo de financiamento da dívida nos prazos mais curtos aproxima-se
de 0% e no longo prazo encurta a distância em relação às yields dos Bunds
(1,957% no caso francês contra 1,295% para o caso alemão, no prazo a dez anos).
Bunds é a designação em alemão das obrigações alemãs.
ALEMANHA - yields
na dívida a dois e três anos em valores negativos
Os investidores
internacionais aceitam yields negativas (na prática abdicam de receber juros e
pagam como que uma "renda" implícita ao Tesouro alemão para terem Bunds
nos seus portefólios) nos prazos a dois e três anos das obrigações alemãs.
Esta semana, as yields
dos Bunds a dois anos fecharam no mercado secundário em -0,077%, e a três anos
em -0,038%. Estão ainda a alguma distância dos mínimos de -0,09% a 31 de julho
para os Bunds a dois anos e de -0,05% a 2 de agosto para os Bunds a três anos.
Os Bunds são
considerados valores refúgio.
ESPANHA, ITÁLIA E
IRLANDA - yields das obrigações e risco agravam-se
Mário Draghi,
presidente do BCE, voltou a ser claro sobre as condições de operacionalização
do programa OMT (o novo mecanismo disponível para compra de dívida no mercado
secundário), que não são "negociáveis" nem com Madrid, que tem
arrastado a decisão de pedido de um resgate global, nem com Roma. Também foi
claro que o BCE não se meteria em nenhuma acordo sobre as promissórias
irlandesas, o que seria pisar o risco vermelho de proibição de financiamento
monetário de governos.
No caso de Itália,
acresce uma crise política larvar e a possibilidade crescente de eleições
legislativas antecipadas, em virtude do partido de Sílvio Berlusconi ter tirado
o apoio ao governo "tecnocrata" de Mário Monti.
Deste modo, e face
às previsões pessimistas de recessão provável durante dois anos sucessivos em
toda a zona euro (segundo o BCE), a incerteza domina os investidores, o que se
repercute em dois movimentos: deslocação para valores refúgio (a que nos
referimos acima) e fuga a sete pés dos quatro "periféricos", quer os
dois "bons alunos" dos "países de programa" - Irlanda e
Portugal -, como de Itália e Espanha, simplesmente a terceira e quarta
economias da zona da moeda única.
O risco de
incumprimento da dívida espanhola subiu de 21,9% em 30 de novembro para 23% a 7
de dezembro, segundo dados da CMA DataVision. As yields das obrigações
espanholas a dois anos subiram de 2,835% para 2,965% e no caso do prazo a dez
anos de 5,235% para 5,456%, no mercado secundário, naquele período referido,
segundo dados da Bloomberg.
A mesma trajetória
observa-se no caso da dívida italiana - o risco subiu de 19,3% para 20%; as yields
das obrigações italianas subiram de 1,919% para 1,997% no prazo a dois anos e
de 4,45% para 4,525% entre 30 de novembro e 7 de dezembro no mercado
secundário.
No caso da Irlanda
- um país ainda sob resgate, e que tem tido uma trajetória positiva que a levou
para níveis de yields e de risco abaixo dos verificados para Espanha e Itália
(que não estão sequer sob planos de resgate da troika)-, a última semana trouxe
sinais preocupantes: o risco de incumprimento subiu de 14,2% para 16,42% entre
30 de novembro e 7 de dezembro e as yields dos títulos a dois anos voltaram a
situar-se, no fecho de sexta-feira no mercado secundário, acima de 2%, ou seja
acima do nível verificado para os títulos italianos.
Prémio de risco da
dívida portuguesa sobe
O "filme"
de contradições entre órgãos de soberania e dentro da própria coligação
governamental e de recuos e avanços do governo sobre o tema da extensão ou não
a Portugal de algumas alterações recentes no segundo plano de resgate à Grécia,
bem como os dados divulgados sobre a contração do PIB no terceiro trimestre
deste ano (que se situou em 3,5% em termos homólogos, acima da estimativa
preliminar de 3,4%) marcaram a semana.
O prémio de risco
da dívida portuguesa - o diferencial em relação ao custo de financiamento da
dívida alemã - subiu de 6,05 pontos percentuais para 6,26 ao longo da semana.
Em relação a 30 de novembro subiu ligeiramente de 6,25 para 6,26 no fecho de 7
de dezembro.
O risco de
incumprimento subiu de 31,93% a 3 de dezembro para 33,39% a 7 de dezembro. No
entanto, em relação ao fecho de 30 de novembro, o risco ficou, na sexta-feira,
abaixo dos 34,37% verificados no final do mês passado.
Entre o final de
novembro e esta sexta-feira, Portugal desceu da 6ª para a 7ª posição no
"clube" dos 10 países com maior probabilidade de incumprimento da
dívida soberana num horizonte de cinco anos. Apesar desta melhoria na situação,
o país ainda está a alguma distância da 9ª posição a que chegou em 17 de outubro
(o que não se verificava desde novembro de 2010) e que manteve durante alguns
dias.
Por seu lado, o
comportamento das yields das obrigações do Tesouro no mercado secundário foi
semelhante. Entre 30 de novembro e 7 de dezembro, as yields desceram em todas
as maturidades, mas, ao longo da semana, entre 3 e 7 de dezembro, subiram nos
prazos a dois e a dez anos, e desceram nos restantes.
A trajetória não é
ainda clara. A dinâmica de agravamento, esta semana, foi mais acentuada nos
casos de Espanha, Itália e Irlanda, acima referidos.
NOTA: Esta análise
da trajetória durante a última semana não se refere à tendência anual do risco
de bancarrota e das yields das obrigações portuguesas em 2012. A tendência da
probabilidade de incumprimento é de uma descida muito significativa de um pico
em 30 de janeiro quando chegou a 73,32% (um nível similar ao que atingiu a
Argentina no início deste mês de dezembro quando se temeu uma eminência de
bancarrota em virtude da decisão de um juiz de Nova Iorque), com Portugal na 2ª
posição no referido "clube", até um mínimo, até à data, de 30,63% em
17 de outubro, quando o país desceu para a 9ª posição. A mesma tendência se
verificou, no mercado secundário, nas yields das obrigações do Tesouro nos
diversos prazos. Por exemplo, na maturidade a dez anos, as yields atingiram um
pico de 17,39% em 30 de janeiro e um mínimo, até à data, de 7,460% a 3 de
dezembro.
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