Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
A troika veio
salvar-nos e o governo alemão tem todo o direito a fazer-nos todas as
exigências, já que nos resgataram. É esta a ideia em que se baseia a nossa
subserviência. Mas vale a pena olhar para os números e para isso aconselho a
leitura deste texto do economista José Maria Castro Caldas
(http://www.auditoriacidada.info/article/os-donos-da-d%C3%ADvida).
Entre 2002 e 2008,
o Estado português devia sobretudo a empresas, bancos e fundos de investimento
estrangeiros. Sobretudo alemães e franceses. Representou sempre mais de metade
da nossa dívida pública. Em 2008, antes de rebentar a crise internacional que
afectou de forma muito violenta as empresas financeiras (num momento em que a
nossa dívida pública estava abaixo da média europeia e da alemã), essa dívida
já estava, em 75%, nas mãos de instituições financeiras estrangeiras.
E foi em 2008 que
tudo mudou. Por causa da crise financeira, os investidores estrangeiros foram
vendendo os títulos de dívidas soberanas. Sobretudo dos países com economias mais
frágeis e mais expostos à crise. No final de 2011 já detinham menos de 50%.
Grande parte da dívida pública ao estrangeiro foi assumida pelo FMI e fundos
europeus. Em 2011 tinham 19%, em 2012 terão 34%, em 2014 deverão ter 70%. Se
juntarmos a estas instituições a banca nacional, o seu peso entre os credores
virá a ser de 80% em 2014.
Que transferência
de dívida fez, então, a troika? Em 2008 os credores privados internacionais
tinham 75% da nossa dívida. Em 2014 terão 20%. Livraram-se da nossa dívida.
Como muitíssimo bem
conclui Castro Caldas, a intervenção externa serviu, antes de tudo, "para limpar
os balanços das instituições financeiras estrangeiras (sobretudo europeias) de
títulos da dívida portuguesa tornados demasiado arriscados". E esse risco
foi transferido para os cidadãos da zona euro, através das instituições
financeiras públicas.
Ou seja, o FMI, o
BCE e a Comissão Europeia garantiram um resgate aos bancos alemães e franceses
(sobretudo estes) que, descapitalizados, precisavam de se ver livres de todos
os credores de maior risco. Não salvaram Portugal, assim como não salvaram a
Grécia. Salvaram os bancos dos países do centro da Europa. Os europeus pagaram
com a assunção do risco. Nós pagámos com a austeridade.
Os bancos dos
principais promotores destes "resgastes", que se livraram, através de
dinheiros públicos, dos riscos dos seus próprios investimentos, é que se
salvaram. Sim, os contribuintes alemães têm de que se queixar. O seu dinheiro
tem servido para salvar dos investimentos que fizeram a banca dos seus países.
Assim como os nossos sacrifícios.
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