Angola está-se a
transformar numa monarquia e o Presidente angolano José Eduardo dos Santos é o
seu "rei ou imperador". Quem o diz é Makuta Nkondo, ex-deputado
independente da bancada da UNITA.
"O que se está
a passar em Angola é puramente monárquico": é assim que Makuta Nkondo
descreve a situação económica e política no país em entrevista à DW África.
O ex-assessor de
Isaías Samakuva, de 2008 a 2012, e deputado independente pela bancada
parlamentar da UNITA na última legislatura, acrescenta ainda: o Presidente de
Angola está a preparar o seu filho José Filomeno ("Zénu") dos Santos
como sucessor.
Makuta Nkondo, que
no tempo colonial foi pioneiro da UPA e da FNLA, critica sobretudo o facto de
“Zénu” ter sido nomeado membro do Conselho de Administração do Fundo
Petrolífero angolano, o fundo estatal que gere 5 mil milhões de dólares.
DW África: Que
balanço faz dos primeiros três meses depois das eleições de 31 de agosto?
Makuta Nkondo (MN):
Durante a campanha eleitoral, houve água e energia elétrica em abundância. Até
houve alimentação em abundância e distribuição de algumas casas construídas
rapidamente. Mas, imediatamente depois da publicação dos resultados eleitorais,
a água e a luz voltaram a faltar… O povo não tem nada.
DW África: No que
diz respeito à carreira política do Presidente, diz-se que José Eduardo dos
Santos está a preparar a sua sucessão. Na sua opinião, quem será o atual
favorito para suceder a José Eduardo dos Santos na Cidade Alta?
MN: José Eduardo
dos Santos está a preparar camufladamente o seu próprio filho, “Zénu” dos
Santos, [como sucessor]. Ele já é praticamente o presidente, sem que isso tenha
sido declarado publicamente ou mesmo sem que ele tenha tomado posse.
“Zénu” já está a
representar o próprio pai em várias cerimónias no palácio. Foi “imposto” pelo
pai para ser um dos administradores, senão o administrador mais importante, do
Fundo Petrolífero. Ou seja, gere todas as receitas dos petróleos.
DW África: O que é
que o leva a afirmar que “Zénu” está a ser preparado para suceder a José
Eduardo dos Santos, uma vez que há outros nomes em cima da mesa – nomeadamente
Fernando Dias dos Santos (“Nandó”) ou o próprio Manuel Vicente, que é
vice-presidente?
MN: O “Nandó” era
um dos favoritos de Eduardo dos Santos para a sua substituição, mas, depois
destas eleições, o seu nome ficou mesmo riscado. Surpreendentemente, foi
entregue ao “Nandó” a pasta de presidente da Assembleia Nacional. Manuel
Vicente é vice-presidente da República, mas nota-se que, pouco a pouco, José
Eduardo dos Santos se começa a afastar de Manuel Vicente.
Eduardo dos Santos
está a preparar o filho. “Zénu” dos Santos está a intervir muito. Ele já está a
agir como presidente, na sombra do pai. Nas cerimónias, “Zénu” senta-se às
vezes à direita de Eduardo dos Santos. Era isso que também acontecia no Gabão
com Ali Bongo, filho de [Omar] Bongo. Antes mesmo do pai morrer, já se falava em Ali Bongo. […]
DW África: Disse
recentemente num artigo publicado online que José Eduardo dos Santos está a
transformar Angola numa monarquia. Irene da Silva Neto, filha do primeiro
presidente de Angola, Agostinho Neto, terá acusado o sucessor do pai de
“dirigir o país como Bokassa I", o imperador centro-africano. Não acha
essas acusações exageradas, uma vez que o partido que suporta o presidente foi
eleito e dispõe de uma enorme maioria na Assembleia Nacional?
MN: O que se está a
passar em Angola é puramente monárquico. Todo o poder económico está
concentrado nas mãos dos filhos de José Eduardo dos Santos. Os poderes
políticos estão concentrados nas mãos de uma só pessoa: Eduardo dos Santos. Não
é o MPLA que manda em Angola, é Eduardo dos Santos que manda em Angola. Dos Santos
é rei ou imperador, sem discussão.
Autor: António Cascais
- Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha
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