domingo, 16 de dezembro de 2012

JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS “É REI” EM ANGOLA

 

 
Angola está-se a transformar numa monarquia e o Presidente angolano José Eduardo dos Santos é o seu "rei ou imperador". Quem o diz é Makuta Nkondo, ex-deputado independente da bancada da UNITA.
 
"O que se está a passar em Angola é puramente monárquico": é assim que Makuta Nkondo descreve a situação económica e política no país em entrevista à DW África.
 
O ex-assessor de Isaías Samakuva, de 2008 a 2012, e deputado independente pela bancada parlamentar da UNITA na última legislatura, acrescenta ainda: o Presidente de Angola está a preparar o seu filho José Filomeno ("Zénu") dos Santos como sucessor.
 
Makuta Nkondo, que no tempo colonial foi pioneiro da UPA e da FNLA, critica sobretudo o facto de “Zénu” ter sido nomeado membro do Conselho de Administração do Fundo Petrolífero angolano, o fundo estatal que gere 5 mil milhões de dólares.
 
DW África: Que balanço faz dos primeiros três meses depois das eleições de 31 de agosto?
 
Makuta Nkondo (MN): Durante a campanha eleitoral, houve água e energia elétrica em abundância. Até houve alimentação em abundância e distribuição de algumas casas construídas rapidamente. Mas, imediatamente depois da publicação dos resultados eleitorais, a água e a luz voltaram a faltar… O povo não tem nada.
 
DW África: No que diz respeito à carreira política do Presidente, diz-se que José Eduardo dos Santos está a preparar a sua sucessão. Na sua opinião, quem será o atual favorito para suceder a José Eduardo dos Santos na Cidade Alta?
 
MN: José Eduardo dos Santos está a preparar camufladamente o seu próprio filho, “Zénu” dos Santos, [como sucessor]. Ele já é praticamente o presidente, sem que isso tenha sido declarado publicamente ou mesmo sem que ele tenha tomado posse.
 
“Zénu” já está a representar o próprio pai em várias cerimónias no palácio. Foi “imposto” pelo pai para ser um dos administradores, senão o administrador mais importante, do Fundo Petrolífero. Ou seja, gere todas as receitas dos petróleos.
 
DW África: O que é que o leva a afirmar que “Zénu” está a ser preparado para suceder a José Eduardo dos Santos, uma vez que há outros nomes em cima da mesa – nomeadamente Fernando Dias dos Santos (“Nandó”) ou o próprio Manuel Vicente, que é vice-presidente?
 
MN: O “Nandó” era um dos favoritos de Eduardo dos Santos para a sua substituição, mas, depois destas eleições, o seu nome ficou mesmo riscado. Surpreendentemente, foi entregue ao “Nandó” a pasta de presidente da Assembleia Nacional. Manuel Vicente é vice-presidente da República, mas nota-se que, pouco a pouco, José Eduardo dos Santos se começa a afastar de Manuel Vicente.
 
Eduardo dos Santos está a preparar o filho. “Zénu” dos Santos está a intervir muito. Ele já está a agir como presidente, na sombra do pai. Nas cerimónias, “Zénu” senta-se às vezes à direita de Eduardo dos Santos. Era isso que também acontecia no Gabão com Ali Bongo, filho de [Omar] Bongo. Antes mesmo do pai morrer, já se falava em Ali Bongo. […]
 
DW África: Disse recentemente num artigo publicado online que José Eduardo dos Santos está a transformar Angola numa monarquia. Irene da Silva Neto, filha do primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto, terá acusado o sucessor do pai de “dirigir o país como Bokassa I", o imperador centro-africano. Não acha essas acusações exageradas, uma vez que o partido que suporta o presidente foi eleito e dispõe de uma enorme maioria na Assembleia Nacional?
 
MN: O que se está a passar em Angola é puramente monárquico. Todo o poder económico está concentrado nas mãos dos filhos de José Eduardo dos Santos. Os poderes políticos estão concentrados nas mãos de uma só pessoa: Eduardo dos Santos. Não é o MPLA que manda em Angola, é Eduardo dos Santos que manda em Angola. Dos Santos é rei ou imperador, sem discussão.
 
Autor: António Cascais - Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha
 

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