Rosa Ramos – Jornal
i
Direcção nacional
da PSP ameaçou demitir-se se o governo transformasse a instituição numa mera
polícia de proximidade
A crise instalou-se
na direcção nacional da PSP e obrigou, ontem ao final do dia, o responsável
pela polícia, Valente Gomes, a reunir de emergência com o ministro da
Administração Interna. Na origem do encontro entre o director nacional e Miguel
Macedo esteve uma proposta elaborada pela comissão para a revisão do Conceito
Estratégico de Segurança e Defesa Nacional (CESDN) já entregue ao governo e que
prevê um conjunto de mudanças profundas na estrutura das forças de segurança
portuguesas.
O governo, sabe o i,
estaria mesmo a preparar-se para submeter o documento, amanhã, à aprovação do
Conselho de Ministros. Mas assim que a direcção nacional da PSP teve
conhecimento desta intenção – que fonte do gabinete de segurança do
primeiro-ministro negou ontem ao i –, vários oficiais chegaram a ponderar pedir
a demissão. “E se a proposta avançar esse é o único caminho a seguir pelos
responsáveis pela polícia”, garante fonte da PSP.
A irritação das
altas hierarquias da PSP é fácil de entender: a proposta entregue ao governo
prevê que a polícia passe a estar apenas “vocacionada para o policiamento de
proximidade” nas grandes cidades, privilegiando os programas especiais de
policiamento comunitário – como o “Escola Segura”. Assim sendo, diz o documento
a que a Lusa teve ontem acesso, a PSP passará a ter acesso a armamento e
equipamentos mais ligeiros, usados “exclusivamente em missões policiais de meio
urbano”.
No entanto, não é
certo que a proposta avance. Depois de a direcção nacional se ter ameaçado
demitir e de as associações da PSP terem criticado fortemente o documento, o
gabinete de segurança do primeiro-ministro garantiu ao i que o documento é
apenas “um estudo” e que nunca esteve, sequer, para ir a Conselho de Ministros.
E o presidente do Sindicato dos Profissionais da Polícia, António Ramos, diz
que recebeu garantias por parte da tutela de que a reestruturação não será
implementada.
De acordo com a
tutela, a GNR receberá equipamentos “mais robustos”. Isto porque, de acordo com
o documento elaborado pela comissão – que tomou posse em Junho e é constituída
por 25 personalidades, algumas sem qualquer ligação às forças de segurança,
como Pinto Balsemão, Ângelo Correia, Jaime Gama ou Adriano Moreira –, caberá à
Guarda o combate à criminalidade grave e violenta, bem como ao terrorismo.
As associações da
polícia acreditam que a real intenção da comissão é extinguir as valências mais
musculadas da PSP, nomeadamente as que pertencem à Unidade Especial de Polícia
(UEP) – como o Grupo de Operações Especiais (GOE), o Corpo de Intervenção (CI)
e o Corpo de Segurança Policial (CSP). Paulo Rodrigues, o presidente da
Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), avisou ontem que
acabar com estas unidades só servirá para tornar a PSP “numa polícia ligeira e
municipalizada”.
Outra fonte da PSP
acredita que a verdadeira intenção do novo conceito de segurança é “dar emprego
e ocupar dezenas de oficiais do Exército, que não cabem nos quadros”.
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