António Perez
Metelo - Dinheiro Vivo, opinião
Mas poder-se-á, em
boa verdade, falar em equilíbrio perante a situação que o país atravessa?
A economia
portuguesa já está em equilíbrio, afirma António Borges. A que é que se estará
a referir? Provavelmente, ao quase equilíbrio da balança de transações
correntes (BTC), estando nós a um ano de podermos deixar de contrair lá fora
ainda mais dívida - dívida nova - do que aquela que já está acumulada.
Ora, seria este um
indicador essencial para os credores externos verem que conscientes e
responsáveis se tornaram os portugueses. Num ápice, decidiram passar a viver
daqui para a frente com os montantes correspondentes à sua efetiva capacidade
de produção. Estaria, assim, consumado o essencial do ajustamento prosseguido
pelo programa de assistência: conseguir o encolhimento fulminante do nível de
vida da maioria dos portugueses e habituá-los a ajustar as suas despesas ao
novo padrão.
Mas poder-se-á, em
boa verdade, falar em equilíbrio perante a situação que o país atravessa? A
insuperável contradição da receita seguida com a troika conduz a que se tomem
as medidas necessárias para empobrecer os ativos e os reformados, para limpar
os balanços dos bancos do lixo que se haviam permitido acumular neles há vários
anos, para reduzir o endividamento excessivo das empresas não financeiras - e,
ao mesmo tempo, se pretende encetar um novo arranque produtivo no tecido
económico, contra a força avassaladora contrária dos objetivos enunciados.
O resultado está no
desempenho da economia e no reflexo negativo dele nas contas públicas - segunda
meta essencial do programa de assistência: segundo a UTAO, a receita do Estado
afasta-se mais, de mês para mês, dos objetivos, já de si revistos em baixa, e o
resultado previsível do défice público em 2012 é o de se desviar, em termos
efetivos, cerca de três mil milhões de euros do objetivo inicialmente fixado no
OE 2012. O tal que não nos podíamos dar ao luxo de falhar custasse o que
custasse...
Com um agravamento
dessa ordem de grandeza na carga fiscal, pretende-se fazer em 2013 o que a
economia não deixou que se fizesse em 2012. Mas volta a haver um efeito
negativo sobre os produtores de riqueza: com nova retração do investimento,
dita o simples bom senso, não há equilíbrio económico à vista, entendido como
gerador de mais produto e mais rendimento e criador de novos postos de
trabalho. Sem isso, os ganhos financeiros podem ruir como um baralho de cartas.
Redator principal -
Escreve à sexta-feira
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