ALU – ARA – Lusa,
com foto Manuel A. Lopes
A subdiretora de
produção da RTP, Ana Pitas, disse hoje aos deputados, no parlamento, que a
"a polícia foi explícita" sobre o que queria visionar nas imagens dos
incidentes de 14 de novembro, em frente à Assembleia.
Ana Pitas falava na
comissão parlamentar para a Ética, a Cidadania e Comunicação sobre o caso do
visionamento das imagens não editadas dos incidentes durante a manifestação de
14 de novembro pela PSP nas instalações da RTP.
A subdiretora de
produção foi a pessoa que atendeu a chamada de um dos agentes da polícia, que
pediu, de uma forma insistente, segundo a própria, para visionar as imagens dos
incidentes, que resultaram em vários feridos e detidos, na sequência de uma
carga policial, depois de os agentes terem sido agredidos à pedrada.
Durante a chamada,
disse Ana Pitas, "a polícia foi explícita, queria ver imagens dos
incidentes" no dia da greve geral.
"Recebi uma
chamada no telemóvel de um agente da PSP a dizer que queria imagens nossas, não
era a primeira vez que recebia chamadas deste teor, da mesma pessoa. Disse que
eu não era a pessoa adequada para dirigir aquele pedido".
O agente "foi
muito insistente", o que levou Ana Pitas a colocar a questão ao ex-diretor
de informação da RTP Nuno Santos, que na altura respondeu: "a RTP colabora
com as autoridades".
Dada "a
ambiguidade da resposta", adiantou, a subdiretora colocou também a questão
ao diretor adjunto de produção, que contactou o responsável da emissão.
"Era uma hora
de grande azáfama na redação e foi-me comunicado por um grupo de pessoas que eu
descrevo como o diretor de informação, o diretor adjunto de informação, o
subdiretor de informação e o diretor adjunto de produção que a polícia poderia
então vir no dia seguinte visionar num local que eles consideravam que fosse
discreto", declarou.
Segundo Ana Pitas,
o subdiretor de informação Luís Castro quis saber quem era o agente, fez uma
chamada e confirmou a identidade do polícia, avançando que era uma pessoa de
confiança.
No dia seguinte,
Ana Pitas tratou da autorização da entrada de dois agentes nas instalações da
RTP, que visionaram as imagens no gabinete de Luís Castro.
O subdiretor de
informação da RTP, disse Ana Pitas, pediu um 'laptop', equipamento que permite
visionar cassetes, afirmando que já tinha sido pedido no dia anterior ao
diretor adjunto de produção.
Ana Pitas adiantou
que não considerou normal o pedido do 'laptop', acrescentando que "o
diretor adjunto refutou" que aquele pedido tenha sido feito.
No final do
visionamento, Ana Pitas disse que recebeu pedidos de indicação de cópia
trazidos por uma jornalista que assistiu à visualização das imagens, que foram
posteriormente dirigidos ao planeamento da empresa, e que as cópias foram
feitas.
Questionada pelos
deputados, a subdiretora de produção disse que nenhum elemento da direção disse
"faça cópia disso", acrescentando que "se não se visionam
brutos, não se deveria ter dado autorização à PSP para entrar, porque no
arquivo via as imagens".
Em relação aos
procedimentos, Ana Pitas disse que Nuno Santos autorizou inequivocamente a ida
da PSP às instalações e que este estava presente quando o diretor adjunto de
produção se manifestou contra.
Ana Pitas, que não
conseguiu precisar o que Nuno Santos ou o ex-diretor adjunto Vítor Gonçalves
terão dito concretamente aquando da decisão sobre a ida da PSP às instalações
da RTP, afirmou que estes "estavam inequivocamente presentes" e que
"ninguém tomou decisão contrária".
"Deram-me
indicação inequívoca", vincou.
"O diretor de
Informação poderia ter dito não, não há qualquer dúvida sobre isso",
afirmou, acrescentando que Nuno Santos "não estava surdo e estava na
reunião" onde a subdiretora de produção apresentou a questão da chamada da
polícia.
"Não tenho
dúvida do que foi pedido e sobre o que trasmiti", afirmou Ana Pitas,
perante as dúvidas levantadas pelos deputados.
"Ninguém tomou
decisão contrária, a concordância era total", sublinhou.
Ana Pitas, que foi
ouvida três vezes no inquérito sobre o caso do visionamento das imagens, disse
que já houve situações em que foram pedidos brutos, como o caso da cerimónia de
doutoramento honoris causa de Paul Krugman, na qual a RTP era parceira (media
partner).
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