quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

RTP/Imagens: "Polícia foi explícita" sobre o que queria visionar, diz Ana Pitas

 


ALU – ARA – Lusa, com foto Manuel A. Lopes
 
A subdiretora de produção da RTP, Ana Pitas, disse hoje aos deputados, no parlamento, que a "a polícia foi explícita" sobre o que queria visionar nas imagens dos incidentes de 14 de novembro, em frente à Assembleia.
 
Ana Pitas falava na comissão parlamentar para a Ética, a Cidadania e Comunicação sobre o caso do visionamento das imagens não editadas dos incidentes durante a manifestação de 14 de novembro pela PSP nas instalações da RTP.
 
A subdiretora de produção foi a pessoa que atendeu a chamada de um dos agentes da polícia, que pediu, de uma forma insistente, segundo a própria, para visionar as imagens dos incidentes, que resultaram em vários feridos e detidos, na sequência de uma carga policial, depois de os agentes terem sido agredidos à pedrada.
 
Durante a chamada, disse Ana Pitas, "a polícia foi explícita, queria ver imagens dos incidentes" no dia da greve geral.
 
"Recebi uma chamada no telemóvel de um agente da PSP a dizer que queria imagens nossas, não era a primeira vez que recebia chamadas deste teor, da mesma pessoa. Disse que eu não era a pessoa adequada para dirigir aquele pedido".
 
O agente "foi muito insistente", o que levou Ana Pitas a colocar a questão ao ex-diretor de informação da RTP Nuno Santos, que na altura respondeu: "a RTP colabora com as autoridades".
 
Dada "a ambiguidade da resposta", adiantou, a subdiretora colocou também a questão ao diretor adjunto de produção, que contactou o responsável da emissão.
 
"Era uma hora de grande azáfama na redação e foi-me comunicado por um grupo de pessoas que eu descrevo como o diretor de informação, o diretor adjunto de informação, o subdiretor de informação e o diretor adjunto de produção que a polícia poderia então vir no dia seguinte visionar num local que eles consideravam que fosse discreto", declarou.
 
Segundo Ana Pitas, o subdiretor de informação Luís Castro quis saber quem era o agente, fez uma chamada e confirmou a identidade do polícia, avançando que era uma pessoa de confiança.
 
No dia seguinte, Ana Pitas tratou da autorização da entrada de dois agentes nas instalações da RTP, que visionaram as imagens no gabinete de Luís Castro.
 
O subdiretor de informação da RTP, disse Ana Pitas, pediu um 'laptop', equipamento que permite visionar cassetes, afirmando que já tinha sido pedido no dia anterior ao diretor adjunto de produção.
 
Ana Pitas adiantou que não considerou normal o pedido do 'laptop', acrescentando que "o diretor adjunto refutou" que aquele pedido tenha sido feito.
 
No final do visionamento, Ana Pitas disse que recebeu pedidos de indicação de cópia trazidos por uma jornalista que assistiu à visualização das imagens, que foram posteriormente dirigidos ao planeamento da empresa, e que as cópias foram feitas.
 
Questionada pelos deputados, a subdiretora de produção disse que nenhum elemento da direção disse "faça cópia disso", acrescentando que "se não se visionam brutos, não se deveria ter dado autorização à PSP para entrar, porque no arquivo via as imagens".
 
Em relação aos procedimentos, Ana Pitas disse que Nuno Santos autorizou inequivocamente a ida da PSP às instalações e que este estava presente quando o diretor adjunto de produção se manifestou contra.
 
Ana Pitas, que não conseguiu precisar o que Nuno Santos ou o ex-diretor adjunto Vítor Gonçalves terão dito concretamente aquando da decisão sobre a ida da PSP às instalações da RTP, afirmou que estes "estavam inequivocamente presentes" e que "ninguém tomou decisão contrária".
 
"Deram-me indicação inequívoca", vincou.
 
"O diretor de Informação poderia ter dito não, não há qualquer dúvida sobre isso", afirmou, acrescentando que Nuno Santos "não estava surdo e estava na reunião" onde a subdiretora de produção apresentou a questão da chamada da polícia.
 
"Não tenho dúvida do que foi pedido e sobre o que trasmiti", afirmou Ana Pitas, perante as dúvidas levantadas pelos deputados.
 
"Ninguém tomou decisão contrária, a concordância era total", sublinhou.
 
Ana Pitas, que foi ouvida três vezes no inquérito sobre o caso do visionamento das imagens, disse que já houve situações em que foram pedidos brutos, como o caso da cerimónia de doutoramento honoris causa de Paul Krugman, na qual a RTP era parceira (media partner).
 

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