quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Portugal - Dia D em Belém: ACABA O PRAZO PARA ORÇAMENTO IR PARAR AO TC

 

Rita Tavares – Jornal i
 
Se até ao fim do dia de hoje nada se ouvir de Belém, é porque o Orçamento entra em vigor a 1 de Janeiro. Termina o prazo para envio prévio para o Constitucional
 
A partir de hoje, o dilema do Presidente da República reduz-se a três caminhos: promulga o Orçamento do Estado para 2013; dá luz verde à proposta mas pede a fiscalização sucessiva da constitucionalidade; veta o Orçamento do Estado. Há hipóteses mais plausíveis que outras, de acordo com a linha de acção habitual de Cavaco Silva, mas há uma solução que ficará de lado já hoje, dia em que termina o prazo para o Presidente enviar o Orçamento para o Tribunal Constitucional antes de decidir se o promulga. Ou seja, a lei entra em vigor a 1 de Janeiro.
 
Claro que o dia (este último) é longo e em Belém ninguém assegura que o facto de haver urgência nesta matéria levasse o Presidente a não deixar esgotar estes oito dias de prazo, enviando logo o documento para o Tribunal Constitucional. Aliás, ainda há dois dias, Cavaco insistiu que “a lei é muito complexa, tem cerca de 250 artigos, o governo levou vários meses a preparar o Orçamento, a Assembleia mais de um mês a discuti-lo”.
 
Sobre a sua decisão, o Presidente da República deu desde logo uma garantia: terá por base “pareceres jurídicos aprofundados”. Cavaco não disse mais, nem mesmo sobre a notícia do “Expresso” do último sábado que indicava a promulgação do Orçamento e um pedido de fiscalização sucessiva (tal como aconteceu no ano passado, mas por iniciativa de um grupo de deputados).
 
Tranquilizar
 
Se este for mesmo o caminho seguido, o argumento mais forte a seu favor é o da estabilidade política interna e da confiança externa. A proposta entra em vigor a 1 de Janeiro, com as medidas que o governo foi dramatizando como essenciais para o país cumprir as metas acordadas com a troika para o próximo ano. De uma assentada o Presidente tranquiliza governo, parceiros europeus, credores e mercados em geral. O Orçamento de 2012 em duodécimos é uma alternativa que os assusta e, em alguns pontos, é impraticável.
 
Aliás, a receita orçamental teve o aval externo ainda antes do interno. Logo no início de Outubro, o governo apresentou à Comissão Europeia as linhas gerais da proposta que dias depois apresentaria ao parlamento e Durão Barroso “abençoou”: “Nós, Comissão [Europeia], já demos a nossa aprovação a medidas alternativas que foram apresentadas pelo governo.” Alternativas, porque entretanto Passos Coelho teve de deixar cair o aumento generalizado previsto para a Taxa Social Única, uma ideia defendida em Bruxelas. Mas mais do que as medidas em si, a Comissão quis ver garantido um cocktail de propostas que assegurasse o cumprimentos dos objectivos do Programa de Assistência Financeira. E esta urgência em garantir metas pressiona mais Belém do que todas as preocupações constitucionais internas.
 
Não romper
 
O Presidente tem tido especial prudência quanto a estreias, preferindo não romper com o que se passou em mandatos anteriores, e até hoje nenhum chefe de Estado vetou o Orçamento ou pediu a fiscalização sucessiva da sua constitucionalidade. Há um ano já existia a ameaça de pedidos de fiscalização sucessiva e ainda assim Cavaco Silva promulgou o documento nos últimos dias do ano, antes do fim do prazo para se pronunciar. E poucos dias antes da entrega do Orçamento do Estado na Assembleia da República o Presidente até tinha dito que havia “violação de um princípio básico de equidade fiscal” com os cortes dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos.
 
Com tudo isto dito e ainda o famoso “há limites para os sacrifícios que se podem pedir aos cidadãos comuns”, o Orçamento passou e só se desviou a caminho do Tribunal Constitucional depois, tendo sido declarada inconstitucional precisamente a norma que Cavaco apontara como violação da equidade fiscal.
 
Risco político
 
É colossal. No ano passado o Presidente acabou por se colocar fora do jogo, ao promulgar apenas o Orçamento. Se desta vez intervier, pedindo a fiscalização sucessiva, entra num jogo de risco. Caso exista inconstitucionalidade, o que foi aplicado e cobrado mensalmente não voltará atrás, tal como aconteceu este ano. O Tribunal Constitucional pronunciou-se, sobre a fiscalização sucessiva dos cortes dos subsídios, em Junho mas decidiu que os cortes se mantinham este ano porque “as consequências desta declaração de inconstitucionalidade, poderiam colocar em risco o cumprimento da meta do défice público imposta nos memorandos”. Seria mais um ano com o país a viver segundo normas inconstitucionais, mas desta vez com a dúvida mais do que assumida publicamente pelo “garante da Constituição” e único que podia ter travado o Orçamento a tempo de evitar esta repetição, o Presidente da República. Os dias difíceis em Belém estão longe do fim.
 

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