quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

UMA LUTA VITORIOSA

 


Rui Martins, Berna - Direto da Redação
 
Berna (Suiça) - O caso Battisti é hoje um livro, lançado em São Paulo, pelo autor Carlos Lungarzo. A luta em favor de Battisti começou aqui no Direto da Redação. Nestes anos, o Direto da Redação se transformou para mim numa tribuna, cujas ressonâncias vão bem além de Miami e de seus leitores no Brasil, graças à mídia alternativa e ao Correio do Brasil que republicam e fazem circular entre milhares de brasileiros.
 
Duas lutas, vitoriosas depois de alguns anos, tiveram grande destaque aqui no Direto da Redação, a primeira e que assinalou minha entrada no Direto, foi a dos Brasileirinhos Apátridas, restituindo a nacionalidade brasileira nata aos filhos dos nossos emigrantes nascidos no Exterior e transformada na Emenda Constitucional 54/07, graças a milhares de emigrantes e não emigrantes, portadores da mensagem ao governo e a parlamentares, como Lúcio Alcântara, Carlito Merss e Rita Camata.
 
A segunda foi nosso combate pela não extradição do italiano Cesare Battisti, preso no Rio de Janeiro, acusado, sem provas, de ter cometido crimes na Itália, fazia mais de 30 anos, como participante de um grupo extremista de esquerda. Meu primeiro artigo saiu aqui no Direto, em março, uma semana depois da prisão de Battisti e nele procurei informar meus companheiros de esquerda do risco do Brasil cometer uma injustiça - devolver Battisti à Itália e ao governo neofascista de Berlusconi.
 
Nesse momento, para mim tudo parecia clara o suficiente, a necessidade de todos nós nos unirmos em favor de Battisti. Sem dúvida, logo haveria companheiros no Brasil empenhados em salvar Battisti. Três meses depois, em visita a familiares no Brasil, fui informado pelo amigo Aparecido Araújo (um ativo militante da mídia alternativa) ter sido publicado um artigo na revista Carta Capital, pela extradição de Battisti.
 
Ora, a Carta Capital goza do prestígio de ser uma revista de esquerda ou centro-esquerda e Battisti seria sem dúvida extraditado, pois não só Lula como seus ministros, o PT e a esquerda em geral seguiriam a interpretação da revista de Mino Carta. Não havia outra alternativa senão a de arregaçar as mangas e comprar a briga contra a Carta Capital e de enfrentar Mino, tarefa nada fácil visto o porte do jornalista do qual eu mesmo tinha sido admirador pela coragem demonstrada nos anos da ditadura militar.
 
Felizmente, surgiram logo após minha carta ao Mino (publicada aqui no Direto e no blog do Mino) dois grandes apoios - o do ex-participante da resistência armada à ditadura militar, Celso Lungaretti, e do professor universitario e também jurista Carlos Lungarzo. Foi quando a escritora francesa Fred Vargas foi ao Brasil contratar advogado e encontrar autoridades e políticos em favor de Battisti. Eduardo Suplicy, Fernando Gabeira, Dalmo Dallari eram contra a extradição, porém eram poucos nomes isolados.
 
Quando Luiz Paulo Barreto, do Conare, votou contra Battisti, sentimos que o pior poderia acontecer. Felizmente, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, anulou, imaginávamos, a decisão do Conare, concedendo asilo a Battisti.
 
Battisti deveria ser libertado naqueles dias, mas o então presidente do STF, Gilmar Mendes, se negou a conceder a liberdade a Battisti, contestou a decisão do ministro Genro, e quis transformar a questão da extradição de Battisti num debate político e numa primeira tentativa do STF de ultrapassar seus poderes e, além de ignorar a decisão do ministro da Justiça, decidir pela extradição, retirando do presidente Lula essa prerrogativa.
 
Foram dois longos anos, nos quais Battisti ficou preso, e podemos dizer, preso ilegalmente. Chamado ao outro front, o dos emigrantes, deixei a luta para Celso Lungaretti e Carlos Lungarzo, mesmo porque ela assumia feições jurídicas e já mobilizava muitos companheiros de esquerda.
 
Nesta quinta-feira, 6 de dezembro, Carlos Lungarzo lançará em São Paulo, o livro de sua autoria Os Cenários Ocultos do Caso Battisti, pela editora Geração Editorial, do amigo Luiz Fernando Emediato. Ali estarão, na livraria Cultura, no Shopping Bourbon, na Pompéia, a partir das 19h00, o incansável combatente Celso Lungaretti, e o próprio Cesare Battisti, que eu mesmo não conheço pessoalmente.
 
Convido a todos vocês, moradores em São Paulo, para ali comparecerem, conhecerem Carlos Lungarzo e saberem porque havia tanta gente interessada, inclusive ministros do STF, em perseguir e extraditar Cesare Battisti. E porque o ex-presidente Lula, no seu último dia de governo, decidiu dar residência no Brasil a Battisti.
 
Foi a vitória contra o linchamento de um homem, como diz Lungaretti.
 
Infelizmente, aqui longe não poderei estar presente com meus companheiros mas estarei pensando nessa grande vitória de alguns contra poderosas máquinas do poder.
 
* Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, membro eleito do Conselho Provisório e do atual Conselho de emigrantes (CRBE) junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreveu o livro Dinheiro Sujo da Corrupção sobre as contas suíças secretas de Maluf. Colabora com o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress
 

1 comentário:

Anónimo disse...

Se prepara, Cesare Battisti.

Quando o Bolsonaro for eleito presidente da república, trata de arrumar as malas e fugir para Cuba, pois por aqui não poderá mais ficar.

Antes da posse, FUJA.

Está avisado. Fuja, antes que ele o entregue para a Itália. Depois não diga que ninguém o avisou.

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