domingo, 27 de janeiro de 2013

Cabo Verde: ONDE ANDA O SR. DEPUTADO ABRAÃO VICENTE?




OU A DERROCADA DA PONTE DA BOA VISTA, AS CUMPLICIDADES DO PGR E O JULGAMENTO DE UM CIDADÃO, NO DIA 28. JAN. 2013, POR REFERIR TAIS CUMPLICIDADES

Nuno Ferro Marques - Liberal (cv)

Prezado deputado Abraão Vicente, em resposta ao seu apelo deste dia, «A pont(a) da corrupção» (Liberal, 27. Jan. 2013), no qual pergunta, entre outros visados, «onde está a sociedade civil» reportando-se, entre outros temas, ao colapso da ponte da Boa Vista, se por acaso quer saber, a par dos demais, por onde anda o arquitecto Nuno Marques, pode encontrá-lo nesta segunda-feira, a partir das 09:00, no tribunal da comarca da Praia, onde vai ser julgado pelo crime de ser cidadão.

Sr. deputado, muito me admira que pergunte onde anda a sociedade civil, antes de se perguntar onde anda a procuradoria-geral da república (pgr). Igualmente me admira que pergunte onde anda a ordem dos arquitectos cabo-verdianos antes de se perguntar onde anda o presidente da república. Se pensar naquilo que lhe vou dizer, sem prejuízo das suas virtudes, vai perceber que mais e melhores razões terei eu para perguntar onde anda o deputado Abraão Vicente.

Pode imaginar até que ponto se sente o cidadão, a família e a empresa, a tal sociedade civil, traída pelo presidente (actual ou pretérito) de uma ordem, pelo presidente (actual ou pretérito) de uma república?

É possível que, daqui a uns tempos, o arquitecto, à sua resposta, responda «sucumbi» ou, senão, «emigrei», «aderi ao regime», «fui eleito para andar no parlamento a perguntar onde está a sociedade civil».

Nesta segunda-feira, 28 de Janeiro de 2013, respondo em tribunal – saiba que, em mais de duas décadas em cada perna, nunca fui condenado, em qualquer processo disciplinar, cível ou criminal e espero assim continuar – imagine-se, porque o procurador-geral da república (pgr) alegadamente se sentiu ofendido porque eu referi alguns casos públicos e notórios de ausência de responsabilização, tendo-me referido – de passagem - ao ministério público (mp), como cúmplice – em boa ou má-fé (do mesmo mp) - e propondo uma acção popular e manifestações para se exigir a mais do que óbvia e consequente demissão do pgr, entre outros.

Eis os casos que, mais ou menos explicitamente, referi, por me sentir roubado, e que alegadamente ofenderam a alegada honra do pgr, curiosamente, o único de todos que referi que alguma coisa poderia ter feito para exigir responsabilidades aos demais:

1. Caso das transferências do gabinete do pm a Maria José Teixeira em prejuízo dos estudantes cabo-verdianos. (Caso público e notório.);

2. Sinais exteriores de enriquecimento ilícito cujas consequências levam as nossas crianças a procurar sustento no lixo (Caso público e notório. Exemplos que não referi mas que posso referir agora? Mansão e terreno do pm; mansão do ex-pcmp.);

3. Caso da não devolução do IUR em prejuízo de todos nós (Caso público e notório. De notar que a legislação obriga à devolução no ano seguinte a que diz respeito.);

4. Contaminação da população pela dengue que nos tornou mais vulneráveis a novo surto de outra estirpe (Caso público e notório. Delongas em querer admitir a epidemia e outras omissões.);

5. Caso da contaminação da água da Electra para consumo (Caso público e notório. Exemplos? Capital do país.);

6. Caso da cumplicidade do pgr nestes e mais casos (Caso público e notório; Exemplos? Não referi, então, mas já tenho referido, por exemplo, o caso do saco azul, e também posso referir o caso das promoções de um e da ausência das promoções de outros, no mp, e a recente e oportuna nota de Boaventura Santos, magistrado do mp que tem exercido funções de inspecção do mesmo mp a reclamar a “despessoalização” e a “desfamiliarização” – quiçá, acrescente-se, a “desmafiarização”- do mp.).

7. Caso da cumplicidade do ex-pan (sem resposta, para além da recepção, à petição da acção popular contra o pm pelas suas declarações nas legislativas de 2006.);

8. Caso da cumplicidade do ex-pr nestes e mais casos; (Caso público e notório. Exemplos? Mãe Joana; Covoada.)

9. Caso dos filhos de titulares de cargos públicos (Caso público e notório. Exemplos? Filho do pm, filho do ex-meit.);

10. Caso da cumplicidade dos magistrados (Caso público e notório. Exemplos? 
Colaborarem, de boa ou má-fé, com a denegação de justiça, auferindo salários por isso, muito bons, no panorama nacional.);

11. Caso das ordens profissionais (Caso público e notório. Exemplos? A dos arquitectos. Por encobrimento do exercício ilegal da profissão; Perseguição a arquitectos honestos, competentes e responsáveis que denunciam crimes dessa ordem.);

12. Caso da cumplicidade da Justiça (Caso público e notório. Consequência de 6 e 10.);

13. Caso 31 de Agosto e impunidade associada que dispensa referências pelos prejuízos que continua a trazer à nação (Caso público e notório.).

Poderá, alguém, no seu perfeito juízo, pretender o contrário, ou seja, que o mp não é cúmplice? Afinal, tal como me dizia um magistrado, «tanto é ladrão o que vai à horta como o que fica à porta».

Ainda que eu seja absolvido e o pgr, tarde ou cedo, responsabilizado, como espero, pese embora o regime e a cultura da histórica subserviência aos usos e abusos dos regimes, entretanto, o pgr já conseguiu o que queria: amordaçar ainda mais a sociedade civil e talvez até quem recebe salários e possui imunidade para a defender mas que abandona os cidadãos à sua sorte.

Viu, sr. deputado, algum deputado da nação interessar-se por mais este caso? Eu não vi e já me habituei e por isso convém que seja menos ligeiro da próxima vez e que tente ver o que pode fazer para defender, enquanto deputado da nação, a sociedade civil que ora demanda. Confesso, entretanto, que não votei em si nem em ninguém já que apesar da devassa do voto em branco tem sido esse o meu voto, há já algumas eleições, não sei se alcança as razões, já que também não alcança por que não deve ser, em certa ideologia, o voto obrigatório.

Pode parecer que não reconheço o esforço e/ou as boas qualidades do deputado Abraão Vicente e da oposição. Nada disso. O deputado tem sido activo, embora, certamente, possa ser muito mais. Toda oposição, idem.

Mas como ir mais longe se nem às queixas-crime da oposição a procuradoria-geral da república responde?

Realmente, temos de compreender o desespero da oposição e do deputado ao apelar à sociedade civil, embora eu não saiba se ele alguma vez já entregou, enquanto cidadão, ou enquanto deputado da nação, alguma queixa-crime à pgr.

Pela minha parte, apesar do meu espírito independente, pondero a possibilidade de integrar algum partido da oposição com o qual mais me identifique, para tentar obter para a sociedade civil, por exemplo, enquanto deputado da nação, o que não tenho conseguido enquanto cidadão, se possível, sem tantas mazelas pessoais, familiares e financeiras.
Exemplos de queixas-crime que a pgr da oposição, neste caso do movimento para a democracia (mpd) que a pgr não se dignou responder?

1. Declarações de JMN pelas eleições legislativas de 2006;
2. Negócios com a zdti de Algodoeiro - Murdeira;
3. Negócios da sdtibm-sln de Boa Vista e Maio;
4. Denúncias do mpd por ocasião das eleições na ilha do Fogo…

Com parcos recursos fiz tantas ou mais queixas do que o mpd à pgr, caso para perguntar «onde anda» a oposição, aliás, não conheço quem se tenha batido mais do que eu - enquanto, cidadão - relativamente aos três casos acima referidos e muitos outros casos em que, tarde ou cedo, viram comprovados os meus argumentos cívicos e técnicos, aliás, já dei à estampa, nos jornais, uma selecção de treze demandas minhas, quase todas de natureza púbica, às diferentes instituições da república, pgr, incluída, e por isso não me vou repetir.

Que mais quer o deputado? Que a sociedade civil continue a ser traída, como eu, seja pela sua ordem profissional, seja pelo presidente da república, sem falar dos deputados da nação, da pgr e dos tribunais que quando decidem bem, ou menos mal, demoram décadas a fazê-lo, excepto, para alguns?

Não se esqueça, deputado, o senhor e os seus colegas, trabalhando ou não, possuem salários e imunidade para fazer aquilo que acaba de endossar à sociedade civil, entre outros, para que o façam nas horas vagas e sem qualquer imunidade. Não lhe fica nada bem demandar a sociedade civil, entre outros, como acabou de fazer, poderia estar um pouco mais preocupado em proteger os direitos, as liberdades e as garantias daqueles que vêm sendo perseguidos pelo pgr por se atreverem a ser cidadãos, numa terra em que até deputados da nação se demitem das suas responsabilidades e/ou desatam a perguntar onde anda este, aquele e aqueloutro.

Quer que lhe mostre a resposta do ex-meit a nota minha, não sem insistência, alertando-o para questões idênticas às da ponte da Boa Vista, há já uma década, prevenindo, tais práticas do ministério das infra-estruturas, neste caso, relativamente, ao palácio de justiça de Santa Cruz?

Leia e saiba que a pgr teve conhecimento de tudo isso e não agiu:

Se a pgr respondesse às denúncias, muitas mais haveria e, certamente, nem a ponte da Boa Vista, nem as estradas de Santo Antão teriam ruído, nem ruiriam muitos mais edifícios, pontes e estradas que, inevitavelmente, vão ruir, pela forma como (não) foram projectados, construídos e/ou fiscalizados.

O drama, deputado, é muito maior e mais grave do que possa imaginar.

E não foi por falta de iniciativa da sociedade civil.

*Com reprodução de documentação e fotos no original

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