Henrique Monteiro – Expresso, opinião
A mensagem de Ano
Novo de Cavaco Silva foi uma surpresa. Não porque tenha sido uma peça de
oratória notável ou tenha apontado soluções inovadoras. A surpresa residiu no
facto de o Presidente ter dito coisas concretas, das quais vai ter de retirar
conclusões.
A Cavaco não lhe
chega fazer o seu melhor, vai ter de cumprir o seu dever. E os avisos estão
dados. Com razão ou sem ela, o Presidente colou-se às teses que o PS e boa
parte do PSD têm contraposto ao Governo - a política atual conduz a uma espiral
recessiva, a um ciclo vicioso que torna os sacrifícios inúteis. E a isso juntou
uma leitura do Orçamento de Estado que é relativamente pacífica entre os
especialistas: há normas inscritas no OE 2013 que são manifestamente
inconstitucionais (do meu ponto de vista é pena que Cavaco não tenha pedido a
fiscalização prévia, mas a sucessiva, mas a decisão está tomada).
Assim sendo, quando
daqui a uns tempos o Tribunal Constitucional decretar, pela segunda vez
consecutiva, que parte das receitas do Estado assentam numa iniquidade, ou o
Governo vai ter de infletir toda a sua política, seguindo o que Cavaco
recomenda, ou Cavaco vai ter de despachar o Governo. Se optar por esta segunda
hipótese, já se sabe que preferirá fazê-lo sem crise política, ou seja tentando
um novo Governo saído deste Parlamento, mas com outra liderança e,
provavelmente, incluindo o PS.
Enfim, vai haver
animação política. A menos que, feito o discurso, Cavaco se remeta à letargia
em que viveu nos últimos meses. O que também é uma hipótese a considerar.
Relacionado em PG:
Sem comentários:
Enviar um comentário