sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Guiné-Bissau: ATÉ SOBRE OS MORTOS MENTEM, BIJAGÓS CARENTE NUM PAÍS A SAQUE




Número de mortos em naufrágio na Guiné-Bissau é muito superior ao oficial, dizem deputados

25 de Janeiro de 2013, 13:08

Bissau, 25 jan (Lusa) - O número de mortos resultante do naufrágio de uma piroga a 28 de dezembro na Guiné-Bissau é superior "em dezenas" ao oficialmente divulgado, disseram hoje em Bissau os deputados eleitos pelo círculo Bolama-Bijagós.

A 28 de dezembro, uma piroga com um número desconhecido de pessoas a bordo, mas que ultrapassava a centena, naufragou quando fazia a ligação entre a ilha de Bolama e o continente. Oficialmente morreram 34 pessoas, mas, de acordo com o deputado Mandu Camara, o número de vítimas é superior "em dezenas".

Os números, "pelo que constatámos no terreno e pelos levantamentos feitos, ultrapassam largamente esse número de corpos, em dezenas", disse o responsável à Lusa.

O deputado quer que o Governo crie condições para que se faça um levantamento exaustivo da situação e que se solidarize com os familiares das vítimas.

Os deputados, explicou também à Lusa, querem que sejam encontrados culpados pela tragédia, visto que até agora apenas um responsável em Bolama foi suspenso, e que seja retomada a ligação entre ilhas através de piroga, visto que essa circulação foi proibida pelo Governo após o naufrágio.

"As pessoas neste momento estão acantonadas na ilha Formosa. Não há uma loja do Estado que garanta o abastecimento de géneros de primeira necessidade, não há Centros de Saúde, não há comunicação segura. Tudo é um défice de coisas, as pessoas estão como se fossem galinhas numa gaiola", exemplificou, acrescentando que mesmo os alunos que foram passar as férias de natal continuam sem poder voltar para as escolas no continente ou noutras ilhas.

Os deputados eleitos pelo arquipélago dos Bijagós deram hoje em Bissau uma conferência de imprensa durante a qual reconheceram que o transporte por pirogas não é o melhor, mas defenderam que este se faça para "aliviar o sofrimento da população das ilhas", como disse o deputado Mamadu Balde.

Os deputados dizem que quase um mês após o naufrágio não sabem o que está a ser feito para minimizar o sofrimento das famílias das vítimas, e temem que aconteça como num naufrágio ocorrido há alguns anos na ilha de Pecixe, que "caiu no esquecimento" e não houve responsáveis.

"Fizemos recenseamento casa a casa em Bolama para saber o número aproximado de pessoas que ia na piroga", disse Mamadu Balde, que pediu também ao Governo para que vá a Bolama e se solidarize com as famílias.

José Saraiva, outro deputado eleito pela mesma região, quer também saber o que é que está a ser feito para que haja de novo ligação entre as ilhas, questionando o que pode acontecer se houver um caso grave de saúde numa ilha sem estruturas.

O deputado lembrou que, em breve, haverá mais dois períodos de grande movimentação de pessoas, o Carnaval e a Páscoa, concluindo que "é muito triste" que apenas se oiça falar de recuperação de estradas no continente e que nada se faça pelas ilhas.

Atualmente há apenas ligações através de um navio (Pecixe) entre o continente e as ilhas de Bolama e de Bubaque, mas, segundo os deputados, o Governo está empenhado em recuperar outros dois navios que estão avariados.

De acordo com os deputados, "há muitos anos que não existe um único farol a funcionar" e "desde a época colonial que não se fez uma única vez a dragagem dos canais onde passam os navios".

"Que eu saiba, não há uma única empresa na Guiné-Bissau que venda salva-vidas", disse Mandu Camara na conferência de imprensa, acrescentando que também a Marinha Mercante não tem um único meio de busca e salvamento.

FP // MLL.

Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, com défice de quase tudo - documento

25 de Janeiro de 2013, 13:20

Bissau, 25 jan (Lusa) - As estruturas de Saúde e de Educação e a presença do Estado no arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, ou são insuficientes ou inexistentes, de acordo com um documento hoje divulgado por deputados eleitos pela região.

Os deputados eleitos pelo círculo Bolama-Bijagós deram hoje uma conferência de imprensa em Bissau, na qual exigiram do Estado da Guiné-Bissau um maior empenho no caso do naufrágio de uma piroga, no mês passado, do qual resultou a morte de mais de 30 pessoas.

O arquipélago dos Bijagós, com uma superfície de 10 mil quilómetros quadrados, é constituído por 88 ilhas e ilhéus mas só 22 são habitadas permanentemente por cerca de 35 mil pessoas.

De acordo com o documento, desde a independência que o Estado da Guiné-Bissau tem investido "muito pouco" para o desenvolvimento das ilhas e parceiros internacionais do país como diversas agências da ONU não atuam na região.

Apesar das potencialidades em áreas como a pesca ou o turismo, nas ilhas faltam escolas, centros de saúde, oportunidades de formação e trabalho para os jovens, meios de comunicação e meios para controlar a migração clandestina, segundo o documento de diagnóstico.

No arquipélago, acrescenta, as infraestruturas do Estado estão degradadas, as principais redes rodoviárias estão "em ruína" e falta energia elétrica, para não falar da falta de tribunais, e da "ausência de autoridade de Estado em várias ilhas, sobretudo no setor de Caravela e Uno".

FP // MLL.

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