António Capalandanda
– Voz da América
O défice é o
resultado da diferença entre receitas correntes de AKZ 4.570,4 mil milhões
(38,2% do PIB) e despesas de AKZ 4.975,8 mil milhões (41,6% do PIB).
BENGUELA — As
contas públicas angolanas deverão registar em 2013 um défice de 405,4 mil
milhões de kwanzas (AKZ), o primeiro saldo negativo desde 2009, alertaram
Observatório Político e Social de Angola (OPSA) e ADRA.
O documento apresentado na sequência da aprovação do Orçamento Geral do Estado
(OGE), ocorrida ontem, dia 15, refere que esse défice, equivalente a 3,4% do
produto interno bruto (PIB), é o resultado da diferença entre receitas
correntes de AKZ 4.570,4 mil milhões ou 38,2% do PIB e despesas de AKZ 4.975,8
mil milhões ou 41,6% do PIB.
Salvo indicação em contrário, as contas excluem as operações financeiras, como
os empréstimos, e são na óptica do compromisso, isto é, as despesas são
contabilizadas no ano em que são autorizadas, ainda que não sejam pagas nesse
ano.
Considerando uma taxa de câmbio de AKZ 100 por USD, diz o documento a que Voz
da América teve acesso, as receitas deverão ascender a USD 45.704 mil milhões e
as despesas a 49.758 mil milhões, sendo o défice correspondente de 4,1 mil
milhões.
Comparando a proposta do OGE 2013 com as estimativas de execução do OGE 2012,
as receitas baixam 4,1%, enquanto os gastos públicos fazem o caminho inverso,
aumentando 26,7%. O excedente de AKZ 839,6 mil milhões, em 2012, transforma-se
no referido défice de 405,4 mil milhões, em 2013, indiciando uma degradação das
contas públicas e uma política orçamental fortemente expansionista.
Para OPSA e a ADRA, o aumento da despesa pública, em AKZ 1.048,8 mil milhões
(26,7%), é superior ao do próprio produto interno bruto (PIB), que aumenta
―apenas‖ 932,1 mil milhões
(8,5%)
Alega ainda que, a aparente deriva expansionista referida aumenta as pressões
sobre a moeda em circulação e, consequentemente, sobre a inflação, constituindo
um desafio enorme para a autoridade monetária.
Um dos factores de vulnerabilidade do país na crise de 2008, segundo aquele
grupo da sociedade civil angolana, poderá ter sido a política monetária
acomodatícia adoptada pelo Banco Nacional de Angola (BNA) face ao expansionismo
da política orçamental. Essa postura não pode repetir-se, sob pena de colocar
em causa os progressos alcançados no combate à inflação, que desceu para 9% em
2012, sendo a manutenção dessa cifra um dos grandes objectivos para 2013.
A pressão sobre a liquidez na economia resultante do forte crescimento das
despesas públicas em 2013, será agravado pelas novas regras cambiais que
obrigarão as petrolíferas a pagamentos através de contas em bancos nacionais.
Esta dupla pressão constituirá um teste à autonomia do BNA face ao poder
político. A sua capacidade em contrariar ou neutralizar a aparente deriva
expansionista jogará um papel decisivo na estabilidade dos preços.
O OGE 2013 admite um aumento da produção petróleo de 2,5%, de 1,8 milhões
barris dia para 1,845 milhões, e foi elaborado com base numa cotação média de
USD 96 por barril, contra os 103,8 por barril estimados para 2012.
Segundo aquelas organizações não governamentais, se todas as previsões
económicas envolvem riscos, no caso do petróleo os riscos são muito maiores,
como aconteceu em 2008, quando o crude caiu em pouco meses de USD 147 para
cerca de USD 40. As consequências para o OGE angolano foram uma quebra de cerca
de 36% nas receitas correntes de 2009 que obrigaram a um corte de quase 11% nas
despesas, em particular de investimento que caiu 16,7%.
Chamam também a atenção da vulnerabilidade da economia angolana que reside na
sua persistente dependência do petróleo — em 2012, o petróleo garantiu cerca de
75% das receitas públicas e mais de 95% das exportações.
No OGE 2013, o peso do petróleo nas receitas baixa 3,0 pp para 71,8%, o que
significa que continua em patamares muito elevados, o que permite inferir que a
diversificação da economia que o Executivo anunciou em 2009 não está a
traduzir-se numa diversificação das fontes de receita do Estado.
Sem comentários:
Enviar um comentário