Filipe Paiva
Cardoso - Jornal i - foto Rodrigo Cabrita
Eurostat, que situa
o limiar do mal pago nos 3,4 euros por hora em Portugal, calcula em 16,1% os
trabalhadores no país a ganhar abaixo disso
O Eurostat calculou
que em 2010 eram 16,1% os trabalhadores em Portugal que ganhavam menos que o
valor a partir do qual o organismo europeu considera uma remuneração baixa. Este
limiar foi estipulado pelo Eurostat em 3,4 euros por hora ou menos para o caso
português – corresponde a dois terços ou menos do salário mediano bruto
praticado no país. Considerando 40 horas por semana, este limiar do Eurostat
para Portugal situar-se-á assim nos 590 euros brutos mensais. Como em 2010, e
segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, Portugal contava com 4,98
milhões de trabalhadores ainda com emprego, os 16,1% de trabalhadores mal pagos
identificados pelo Eurostat corresponderão a cerca de 802 mil pessoas.
Os dados do
Eurostat referentes a 2010 foram revelados ainda nos últimos dias de 2012 e
apontam para uma média de 14,8% de trabalhadores mal pagos nos 17 países da
moeda única e de 17% caso se considerem os 27 países da União Europeia.
Contudo, os limiares em questão variam muito consoante o país considerado: na
Alemanha, por exemplo, onde 22,2% dos trabalhadores são apontados como tendo
ordenados baixos, ganhar menos de dois terços da mediana significa ganhar 10,2
euros por hora, três vezes mais que o valor para Portugal. Já em Espanha,
Itália, França e Irlanda os valores são de 6,3 euros, 7,9 euros, 9,2 euros e
12,2 euros, respectivamente. Em Espanha, Itália e Irlanda, a percentagem de
trabalhadores com salários baixos situa--se em 14,7%, 12,4% e 20,7%. Em França
o valor fica-se pelos 6,1%.
À imagem (ou por
causa) do que acontece com o salário mínimo [ver texto ao lado], também aqui as
mulheres são mais prejudicadas que os homens, cenário transversal a quase toda
a Europa. Segundo os dados do Eurostat referentes ao ano de 2010, 22,1% das
mulheres com emprego em Portugal recebiam abaixo do limiar definido pelo
organismo europeu, ou seja, perto de 515 mil, ao passo que entre os homens se
contavam 10,1% com salários baixos: menos de 300 mil.
“Existem grandes
diferenças entre homens e mulheres em termos da distribuição dos salários
baixos. Na UE27, em 2010, 21,2% das mulheres empregadas tinham remunerações
baixas, o que compara com os 13,3% dos homens. Em todos os estados- -membros,
excepto na Bulgária, há uma maior fatia de mulheres empregadas a ganhar
salários mais baixos que os homens. Os países com a mais alta taxa em mulheres
são Chipre (31,4%), Estónia (30,1%), Lituânia (29,4%), Alemanha e Letónia
(28,7%) e Reino Unido (27,6%)”, salienta o comunicado do Eurostat. Do lado
oposto encontram-se a Suécia, França, a Finlândia e a Dinamarca, com 3,1%,
7,9%, 8% e 9,8%, respectivamente.
Além desta divisão
por sexo, também o tipo de contrato de trabalho determina uma enorme diferença
na divisão dos salários baixos praticados. Na Europa a 27 países há uma média
de 31,3% trabalhadores a termo certo com salários baixos, o que compara com os
15,7% destes trabalhadores que se encontram quando se olha para contratos sem
termo. Já nos países da moeda única a diferença é de 26,9% para 13,4%, ao passo
que no caso português 23% dos trabalhadores com contrato a termo são mal pagos,
categoria em que estão apenas 14% dos contratados sem termo.
O nível escolar é
outra das subdivisões com que o Eurostat avança. Em Portugal, e durante 2010,
25,3% dos trabalhadores com um nível escolar baixo eram mal pagos, situa o
organismo estatístico europeu; com o nível escolar intermédio encontravam-se
10,1% trabalhadores mal pagos. Com o nível mais alto de educação encontravam-se
apenas 1% de trabalhadores com salários abaixo de dois terços da mediana das
remunerações brutas em Portugal. Já na zona euro são 27,8%, 14,2% e 3,1% de
trabalhadores com salários baixos, respectivamente na faixa da escolaridade
baixa, média ou alta.
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