Rúben Bicho – Económico,
opinião
Há uma citação
atribuída a Tolstoi que diz qualquer coisa como isto: "todos pensam em
mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar-se a si mesmo".
Há uma citação
atribuída a Tolstoi que diz qualquer coisa como isto: "todos pensam em
mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar-se a si mesmo". Olhando
para a actual discussão em torno da reforma do Estado, não andamos muito longe
disto. Os principais agentes politicos e económicos portugueses embarcaram com
grande afã na cruzada da reforma do Estado mas cheios de vícios antigos, sem
dar o sinal de que serão os primeiros agentes da mudança, dando antes os sinais
de que é preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma.
Basta olhar para as
recentes indefinições em torno das tabelas de IRS e o pagamento dos duodecimos.
É este tipo de organização que se pode esperar para uma tarefa tão pesada como
reformular o funcionamento do Estado?
Mas vamos por partes. Ao atribuir ao FMI a honra de dar o pontapé de saída na
discussão sobre a reforma do Estado, o Governo foi fiel ao registo de
comunicação a que já nos habituou nos últimos meses: dois passos em frente, um
passo atrás, mais uns quantos a ziguezaguear e lá chegaremos ao ponto
pretendido. E a estratégia até podia ter funcionado, não fosse o "menu"
do FMI uma resenha daquilo que já se conhece do pensamento do Fundo misturado
com as ideias que o Governo por esta ou aquela via já tinha feito circular na
sociedade portuguesa.
E falha naquilo que
mais se poderia pedir a um estudo deste género - que desenhasse uma noção, por
muito difusa que fosse, de como ficará Portugal após a reforma do Estado, quais
as consequências para lá da operação aritmética de reduzir algumas alíneas do
Orçamento do Estado. O que o FMI enviou são só sugestões, podem argumentar.
Mas, mal comparado, parecem de um médico a quem se dirige um paciente com uma
dor no pé. A sugestão de solução é rápida:
"Dói-lhe o pé? Corte a perna".
"Então mas e depois, como é que eu ando?"
"Bom, isso aí já é problema seu".
Portanto como base de lançamento de debate, pode-se dizer que a coisa nasceu
torta. Mas o certo é que a discussão está lançada. Então e como é que a
oposição, com o PS à cabeça, aproveita o momento ? Com o clamor populista das
eleições que não quer e com o silêncio ensurdecedor das ideias que não tem. A
oposição tinha o dever de estar pronta para contra-argumentar as ideias do FMI,
de apresentar dados concretos das alternativas que apregoa, ou de justificar
claramente o porquê de não se avançar com a reforma do Estado. Não o fez.
E como não o fez,
deixou caminho aberto para Pedro Passos Coelho continuar a sonhar com um Estado
que, como por artes mágicas, se vai tornar mais eficiente por ter menos pessoas
a trabalhar e menos meios para funcionar. E a obra vai avançar, de uma forma ou
outra. Por estes dias PS e PSD estão em reflexão interna. Seria bom que
percebessem que terão de ser os primeiros a mudar, que um processo de repensar
o Estado como este em que estamos envolvidos tem efeitos com impacto em várias
gerações e que não é tema para se mudar de cada vez que muda a legislatura. A
reforma do Estado só será eficaz se tiver uma base sólida de apoio politico (e
aqui também o CDS terá de ser chamado ).
Por isso o momento
não é de jogo politico. O momento é de assumir responsabilidades e de mudar a
mentalidade dos truques eleitoralistas. Se não tivermos esta mudança nos
agentes, o Estado só vai ser reformado de uma forma: para pior.
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