O Sindicato dos
Jornalistas vai apresentar uma queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação
Social sobre as limitações de cobertura jornalística de um debate sobre a
reforma do Estado, uma "restrição absurda em democracia".
"Trata-se de
uma restrição absurda em democracia, já que, por definição, o conteúdo dos
actos públicos ou abertos à comunicação social, do qual os jornalistas são
mediadores junto dos cidadãos, pode e deve ser escrutinado, justamente em
satisfação do direito a ser informado", aponta o Sindicato dos
Jornalistas, num comunicado divulgado esta terça-feira à noite.
A ex-dirigente do
PSD Sofia Galvão justificou as restrições
à cobertura jornalística da primeira conferência para debater a
reforma do Estado invocando a "natureza do debate".
"Não haverá
registos de imagem e som senão nesta sessão de abertura e de encerramento. A
permanência de jornalistas na sala pode manter-se, mas não haverá citações de
nada que aqui seja dito sem expressa autorização dos citados. Estas são as
regras que um debate desta natureza teve que impôr e que foram percebidas e
aceites pela comunicação social", afirmou.
Sofia Galvão falava
na abertura da conferência "Pensar o Futuro - um Estado para a
Sociedade", impulsionada pelo primeiro-ministro para debater a reforma do
Estado, que decorreu terça-feira e prossegue na quarta-feira no Palácio Foz,
Lisboa.
Para o Sindicato
dos Jornalistas, "são inaceitáveis quaisquer mecanismos de submissão a
autorização prévia da utilização ou de reprodução de declarações feitas de
forma pública, os quais seriam equiparáveis a um regime de censura prévia,
intolerável no Estado de direito democrático que é Portugal".
O sindicato diz
também não acreditar "que as personalidades que colaboram na iniciativa
estejam de acordo com tal exigência", definindo como "especialmente
grave" que a decisão de limitar a cobertura jornalística "tenha
partido de alguém direta ou indiretamente ligado ao Governo, já que pode
constituir um sinal a outras entidades de que podem agir na mesma direção, pelo
que merece clara e inequívoca condenação".
"O Sindicato
dos Jornalistas repudia vivamente o acontecido e exige um pedido de desculpas
público e formal por parte dos organizadores da referida conferência, sem
prejuízo da queixa que vai apresentar ao Conselho Regulador da Entidade
Reguladora para a Comunicação Social [ERC]", diz a entidade presidida por
Alfredo Maia.
A grande maioria
dos jornalistas presentes na cobertura do evento, entre os quais a agência
Lusa, a Antena 1 e a TSF, e o jornal Público, decidiu não aceitar aquelas
restrições, optando por sair da sala.
Aos jornalistas
presentes, uma colaboradora da organização disse que no final do dia poderia
ser enviado um "clip de um minuto" produzido pelo Portal do Governo,
com alguns excertos dos painéis de debate.
Os jornalistas
puderam fazer a cobertura da sessão de abertura da conferência, que teve a
participação do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos
Moedas.
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