SÜDDEUTSCHE
ZEITUNG, MUNIQUE – Presseurop – imagem Tom
Janssen
A intervenção da
França no Mali é considerada uma guerra solitária por toda a Europa. Os fracos
meios oferecidos pelos seus parceiros não indicam apenas uma falta de empenho:
assinalam também o fim da Europa da defesa.
Se o problema no
Mali implicasse apenas o Mali, os militares franceses não se teriam muito
provavelmente envolvido na guerra
contra as milícias islâmicas. Uma vez que os interesses da antiga potência
colonial no continente africano não chegam para explicar uma intervenção tão
arriscada. A intervenção da França deve-se ao facto de o Sahel poder tornar-se
um perigo para a Europa. E é o único país europeu envolvido neste conflito
porque os restantes preferiram fugir às suas obrigações. O que diz muito sobre
o estado da política de segurança e de defesa comum. E não assinala nada de
bom.
O facto de a única
ajuda concedida a Paris pelos seus parceiros europeus ter sido umas
felicitações cordiais e um
número reduzido de aviões de transporte mostra claramente que algo não
bate certo na União Europeia. É verdadeiramente do interesse da União Europeia
impedir os islamitas e os terroristas de controlar o Mali. A UE tem
conhecimento desta ameaça há mais de um ano. Se o Mali caísse nas mãos da
Al-Qaeda e dos seus simpatizantes, o país transformar-se-ia num outro Afeganistão às
portas da Europa, servindo tanto de ponto de partida, de zona de formação como
de retaguarda para o terrorismo internacional.
A UE tem plena
consciência deste perigo, mas nunca foi capaz de abordá-lo com uma resposta
comum. A única coisa na qual concordou foi no envio de uma pequena missão de
formação para ajudar o exército do Mali. A vontade comum europeia limitou-se a
esta decisão, a UE não foi capaz de elaborar um plano de ação preventivo para
reagir a uma urgência militar, ao contrário da França.
Teste decisivo na
região do Sahel
O facto de querem
agora antecipar o calendário da missão de formação é no mínimo derrisório.
Primeiro, porque esta missão não muda em nada o facto de que os outros países
europeus continuam de braços cruzados a observar os franceses a empenhar-se
para defender os interesses europeus. Depois, porque os soldados do Mali não
terão muito provavelmente tempo para dedicar aos formadores europeus, enquanto
travam uma guerra contra as milícias no centro e no Norte do país. A situação
ultrapassa a União Europeia.
Atualmente, a UE
deve sobretudo perguntar-se se pretende realmente ter uma política
de segurança comum. Que implicaria ajudar a iniciativa militar francesa no
Mali. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Hubert Védrine, fez uma breve declaração sobre
a política de segurança e de defesa comum, na qual a UE tem concentrado todos
os seus esforços nos últimos 20 anos.
Se os responsáveis
políticos dos Estados-membros da UE não conseguirem muito rapidamente chegar a
acordo sobre os fundamentos da sua cooperação, a aspiração europeia de se
tornar uma potência mundial nunca se concretizará. Talvez nunca tenha passado
pela cabeça de Hubert Védrine que a Europa seria colocada à prova tão
rapidamente e que o teste decisivo se desenrolaria na região do Sahel.
Europa vai sair
derrotada
Tudo indica que a
Europa vai sair derrotada desta história. Uma vez que, em matéria de política
estrangeira e de segurança, os interesses dos países-membros da UE continuam
muito afastados uns dos outros. O Mali é prova disso: os europeus concordam no
facto de existir uma ameaça, mas discordam nos meios de a combater. Nem sequer
concordam que, neste tipo de situação, devemos estar preparados para o pior,
incluindo a guerra. A política de segurança da UE padece de uma falta de união,
de aptidão e de vontade. E estas carências não desaparecerão tão cedo.
No entanto, é
preciso que os outros países europeus apoiem militarmente a França. É uma
questão de solidariedade, mas também de bom senso a longo prazo: se queremos
deixar a porta aberta para uma política de segurança europeia digna desse nome,
devemos evitar que Paris seja obrigado a pedir ajuda à NATO em caso de bloqueio
da situação militar. De facto, esta seria a derradeira prova de que os europeus
não estão à altura.
REAÇÕES EM FRANÇA E
NA ALEMANHA
Paris isolada na
batalha do Mali
Depois de se lançar
na operação militar no Mali, o Presidente francês François Hollande esperaria
provavelmente que, à semelhança da Líbia, os seus parceiros europeus lhe dessem
uma ajuda. Mas, cinco dias depois do início da guerra, não
foi isso que aconteceu. “Daí que, na Europa, a diplomacia francesa e o
Estado-Maior se arrisquem a encontrar apenas boas desculpas”, acrescenta Le
Figaro. “A Alemanha, a última potência europeia a fazer crescer o seu orçamento
militar, não pode mexer num único soldado, nem num único blindado sem o voto do
Bundestag, um cenário em que Angela Merkel não confia em período eleitoral”,
revelando o seu “apoio” a Hollande.
O berlinense Tagesspiegel critica igualmente
a atitude alemã:
Os alemães querem
fazer crer aos franceses e a si próprios que estão realmente ao lado do seu
aliado europeu mais próximo. Porém, excluem tropa de combate e contentam-se com
um apoio logístico. Se Hollande, em vez de ser inconstante, levasse a sério
esta afronta, o eixo franco-alemão sofreria uma rude prova. Mas hoje em dia
toda a gente faz de conta. Exceto os grupos jiadistas.
Quanto aos
parceiros europeus, não há muito a esperar deles, adiantaLe Figaro:
Itália, também ela
em plena campanha eleitoral para as legislativas, e Espanha, financeiramente
aniquilada pela crise, não mostram qualquer tipo de entusiasmo. A Norte, a
Holanda e a Dinamarca, aguerridos elementos da NATO, revelam pouco interesse
por África. A Leste, a Polónia relembra que se mantém envolvida no
Afeganistão... Nem o debate lançado terça-feira no
Parlamento Europeu, nem o encontro dos 27 ministros dos Negócios Estrangeiros
da UE, convocado quinta-feira para Bruxelas, poderão alterar a situação na
frente do Mali. No máximo, os chefes da diplomacia poderão fazer um balanço dececionante
de uma “Iniciativa para o Sahel”,
lançada com grande estrondo em março de 2011 para o reforço de países como o
Mali. Mesmo que Bruxelas tenha efetivamente feito dotações orçamentais, o plano
militar e de segurança nunca se concretizou. Em todo o caso, a ausência de
reforços da UE vem complicar os cálculos do Estado-Maior quanto à “segunda
fase”, após vários dias de bombardeamentos que conseguiram impedir o avanço das
forças jiadistas.
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