… apenas com consenso
partidário
FP – PJA - Lusa
Bissau, 17 jan
(Lusa) - O Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, avisou
hoje que só promulgará leis que sejam resultado de consenso partidário e
defendeu que, neste momento, "não há um partido sozinho que possa
governar" o país.
Um longo discurso
num dia "muito importante" e que marcou o final da cerimónia de
assinatura do Pacto de Transição por parte do Partido Africano da Independência
da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e de mais quatro outros partidos.
O Pacto fora
assinado por vários partidos na sequência do golpe de Estado de 12 de abril mas
o PAIGC, o maior partido e que estava no poder até essa altura, sempre se
recusara a assinar o documento, mantendo-se à margem do período de transição.
Serifo Nhamadjo,
perante uma Assembleia Nacional cheia de altas figuras do Estado, de todo o
governo de transição e de todas as chefias militares, fez um discurso de
regozijo pela adesão do PAIGC (que é também o partido ao qual pertence) mas
também de apelos à união e de avisos.
"Estou feliz
por ver que a segunda etapa (do período de transição) está a ser consolidada.
Mas que haja sinceridade nos trabalhos. Quem entrou antes não pense que é dono
do processo e quem entrou hoje não pense que é mais importante. Todos são
importantes", afirmou.
Serifo Nhamadjo
começou por elogiar Kumba Ialá, antigo presidente do Partido da Renovação
Social (PRS), segundo maior partido, e que abandonou a corrida à liderança no
último congresso (hoje com presença discreta na Assembleia).
Depois disse contar
com todos para fazerem do processo de transição "um ponto final nos
diferentes conflitos que têm assolado o país".
Perante as
principais autoridades do país em todas as áreas falou a seguir da
"vergonha" que é a Guiné-Bissau estar em conflitos cíclicos, sem
conseguir terminar nunca uma legislatura ou um mandato presidencial e o país
estar na imprensa internacional "pelos motivos mais vergonhosos".
"Porquê tantos
assassinatos, tantas maldades, tantas intrigas? O espírito de egoísmo, de
intriga, tem sido de facto o que nos tem estado a destruir. Hoje a política é
de fragmentar para poder dividir e reinar", disse, acrescentando: entre os
partidos "a inimizade é feroz", dentro deles há "guerras
intestinas" e na sociedade civil, dos artistas aos empresários "há
contradições".
Serifo Nhamadjo
considerou ainda que o país vai iniciar uma nova fase mas avisou que "a
inclusão não significa trazer alguém e tirar outro" e que "não há
maiorias nem minorias, tem de haver é debate de ideias".
Depois criticou
ainda o tribalismo, "um fenómeno que é um escudo para os medíocres ",
avisou que quem defende o tribalismo para ganhar votos deve ser levado à
justiça, e perguntou como é que a Guiné-Bissau chegou ao ponto de uns terem
tudo e outros viverem na miséria, de os antigos combatentes viverem "a
mendigar", de as forças armadas nem água potável terem, de os guardas de
fronteira nem uma bicicleta terem, de a marinha não ter um barco capaz e de a
força aérea não ter um avião.
"De Buba a
Catió (cidades do sul do país), quase 40 anos de independência, não há um pingo
de alcatrão. Estamos aqui em Bissau pensando que a Guiné-Bissau é só Bissau. Desafio os políticos a inverter a tendência, para que o desenvolvimento seja do
campo para a cidade", afirmou, deixando outro aviso: "não há ninguém
entre nós que ganhe" com intrigas e confusões, porque "o que for
carrasco hoje será certamente vítima amanhã".
Além de Serifo
Nhamadjo, o primeiro vice-presidente da Assembleia, Augusto Olivais, falou
também no final da cerimónia, quando prometeu que Assembleia irá "tudo
fazer para gerir as diferenças" entre partidos e apelou aos países que
apoiavam a Guiné-Bissau e que retiraram a ajuda a "retomar a
contribuição".
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