Governo francês diz
querer evitar que rebeldes islâmicos da África Ocidental se tornem um perigo
para a Europa. Operação militar é um jogo arriscado para os franceses, que
podem ser acusados de neocolonialismo.
Oficialmente
interesses de segurança estão em primeiro plano na missão militar da França no
Mali. O governo francês justificou a ação afirmando que quer evitar que os
rebeldes na África Ocidental se tornem um perigo para a Europa. "A França
teme que o Mali se torne refúgio e lugar de formação de terroristas caso lá se
instale um Estado islâmico", explica a cientista política Katrin Sold, do
Conselho Alemão de Política Exterior (DGAP, na sigla em alemão), um think
tank independente.
Além disso, a
antiga potência colonial vê o risco de se tornar alvo de atentados terroristas.
Desde 2010, radicais islâmicos mantêm reféns quatro funcionários da empresa de
energia Areva no Mali. E a rede terrorista Al Qaeda ameaça com novos sequestros
e atentados na França e também no Mali, onde vivem cerca de 5 mil cidadãos
franceses.
Mas não se trata
somente de possíveis ameaças terroristas. "A longo prazo, a França tem
interesse em explorar os recursos minerais da região do Sahel, principalmente
petróleo e urânio, mineral que a empresa nuclear francesa Areva já explora há
décadas no vizinho Níger", diz Sold. Mas ainda vai levar tempo até que as
riquezas minerais do Mali estejam acessíveis – por isso, as questões de
segurança estão de fato em primeiro plano, avalia a cientista política.
O especialista
Ulrich Delius, da Sociedade pelos Povos Ameaçados (GfbV, na sigla em alemão),
concorda com a avaliação e recorda os ataques da França à Líbia, há cerca de
dois anos. "No caso da Líbia, é claro que muitos países tinham um
interesse, principalmente no petróleo. No caso do Mali é diferente", diz o
especialista em África. Para ele, o governo em Paris persegue, em primeira
linha, objetivos estratégicos.
A missão no Mali é
um delicado jogo de equilíbrio para a França. De um lado estão os interesses
políticos e econômicos; do outro, o risco de o país se apresentar como
neocolonialista. Contra essa visão há, pelo menos, o mandato do Conselho de
Segurança da ONU de dezembro de 2012.
Além disso, existe
um acordo de defesa entre a França e o Mali, que foi elaborado justamente para
casos como este, assinala o pesquisador Alexander Stroh, do Instituto Alemão de
Estudos Globais e Regionais (Giga). No âmbito desse acordo, a França está
atendendo a um pedido do governo do Mali de deter os rebeldes em sua marcha em
direção à capital do país africano.
Missão arriscada
para a França
A missão envolve
muitos riscos para o presidente François Hollande. Durante a campanha
eleitoral, ele anunciou a retirada das tropas do Afeganistão e, em seguida,
trouxe os soldados de volta para casa. A longo prazo, a missão militar no Mali
pode soar contraditória para os franceses e afetar a credibilidade de Hollande.
Há ainda a difícil
situação orçamentária, que reduz as possibilidades de ação do presidente. Se
ele quiser implementar seu programa de consolidação econômica, sobra pouco
espaço de manobra para ações de política externa de alto custo.
Além disso, ninguém
sabe prever quanto tempo a missão militar francesa no Mali irá durar. Para
evitar que movimentos radicais islâmicos avancem no país africano, é necessário
um processo de estabilização de longo prazo. "Os islamitas irão usar sua
antiga tática e recuar rapidamente, para se reagrupar sob a proteção das
montanhas e cavernas", avalia Delius.
A França não vai se
arriscar a agir sozinha no Mali e defende uma intervenção multilateral, com o
envio de tropas africanas à frente de batalha. O Conselho de Segurança da ONU
já aprovou a missão. A União Europeia prometeu oferecer treinamento às tropas
do governo malinês – outro ponto importante para Paris, pois significaria uma
divisão de tarefas em nível europeu, como também o apoio de Bruxelas.
Autora: Rachel Baig
(ca) - Revisão: Alexandre Schossler
Sem comentários:
Enviar um comentário