quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

RAMOS HORTA VAI SER ENVIADO DA ONU PARA A GUINÉ-BISSAU

 

Público - ontem
 
Ex-presidente timorense vai liderar missão para consolidar paz em Bissau, quando está no poder um Governo golpista e suspeito de ter ligações com o narcotráfico
 
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, designou o ex-presidente timorense José Ramos-Horta como seu representante especial na Guiné-Bissau, um país considerado uma plataforma para o tráfico de narcóticos.
 
Várias agências da ONU e outras organizações já lançaram avisos sobre como o tráfico de droga está a utilizar a Guiné-Bissau e controla a situação política. Ban Ki-moon afirmou-o também em Dezembro, de forma clara, quando foi apresentado um relatório no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre aquele país da África Ocidental: o tráfico de droga aumentou muito desde o golpe de Estado de 12 de Abril liderado pelo agora chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), general António Indjai, e faz-se com a cumplicidade das chefias militares e da elite política.
 
Ramos-Horta entra em cena neste momento delicado. Vai liderar a missão da UNIOGBIS – criada para consolidar a paz na Guiné-Bissau – e sucede a Joseph Mutaboba, um diplomata ruandês que termina o seu mandato a 31 de janeiro.
 
Mutaboba já saiu de Bissau, noticiou a AFP. A sua substituição era, há muito, reclamada pelas autoridades guineenses, que o consideravam favorável aos governantes derrubados em Abril: o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e o presidente Raimundo Pereira.
 
O ex-presidente timorense “tem mais de 30 anos de experiência em diplomacia e em política ao serviço da paz e da estabilidade em Timor Leste e noutros locais”, sublinha o comunicado da ONU em que foi anunciada a sua nomeação.
 
Presidente timorense entre 2007 e 2012, José Ramos-Horta tinha exercído antes os cargos de ministro dos Negócios Estrangeiros e de primeiro-ministro. Foi afastado na primeira volta das eleições de Março do ano passado em Timor-Leste, que foram ganhas por Taur Matan Ruak.
 
No relatório apresentado por Ban Ki-moon ao Conselho de Segurança, são aponta duas datas marcantes. A primeira é 12 de Abril de 2012, a do golpe, a partir da qual o tráfico de droga aumentou na Guiné-Bissau. "Segundo certas informações", dizia o secretário-geral da ONU, "esse tráfico realizar-se-á com o apoio de membros das forças de defesa e segurança, bem como das elites políticas."
 
"Centenas de quilos de cocaína estarão assim a entrar clandestinamente em cada operação" e cada operação terá lugar "uma ou duas vezes por semana sem nenhuma intervenção dos poderes públicos", refere o secretário-geral da ONU, no documento citado pelo PÚBLICO a 7/12/2012.
 
A segunda data marcante, sublinha o diplomata, é 21 de Outubro, dia de um ataque a uma base militar com vítimas mortais e que os críticos do regime viram como uma encenação para justificar uma perseguição de opositores. Pessoas pertencentes à etnia felupe, e que tinham sido acusadas do ataque, foram torturadas e algumas mortas, fazendo recear a ocorrência de "violências e fenómenos de dominação fundados em factores étnicos", lê-se no relatório.
 

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