Público - ontem
Ex-presidente
timorense vai liderar missão para consolidar paz em Bissau, quando está no
poder um Governo golpista e suspeito de ter ligações com o narcotráfico
O secretário-geral
das Nações Unidas, Ban Ki-moon, designou o ex-presidente timorense José
Ramos-Horta como seu representante especial na Guiné-Bissau, um país
considerado uma plataforma para o tráfico de narcóticos.
Várias agências da
ONU e outras organizações já lançaram avisos sobre como o tráfico de droga está
a utilizar a Guiné-Bissau e controla a situação política. Ban Ki-moon afirmou-o
também em Dezembro, de forma clara, quando foi apresentado um relatório no
Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre aquele país da África Ocidental:
o tráfico de droga aumentou muito desde o golpe de Estado de 12 de Abril
liderado pelo agora chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA),
general António Indjai, e faz-se com a cumplicidade das chefias militares e da
elite política.
Ramos-Horta entra
em cena neste momento delicado. Vai liderar a missão da UNIOGBIS – criada para
consolidar a paz na Guiné-Bissau – e sucede a Joseph Mutaboba, um diplomata
ruandês que termina o seu mandato a 31 de janeiro.
Mutaboba já saiu de
Bissau, noticiou a AFP. A sua substituição era, há muito, reclamada pelas
autoridades guineenses, que o consideravam favorável aos governantes derrubados
em Abril: o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e o presidente Raimundo
Pereira.
O ex-presidente
timorense “tem mais de 30 anos de experiência em diplomacia e em política ao
serviço da paz e da estabilidade em Timor Leste e noutros locais”, sublinha o
comunicado da ONU em que foi anunciada a sua nomeação.
Presidente
timorense entre 2007 e 2012, José Ramos-Horta tinha exercído antes os cargos de
ministro dos Negócios Estrangeiros e de primeiro-ministro. Foi afastado na
primeira volta das eleições de Março do ano passado em Timor-Leste, que foram
ganhas por Taur Matan Ruak.
No relatório
apresentado por Ban Ki-moon ao Conselho de Segurança, são aponta duas datas
marcantes. A primeira é 12 de Abril de 2012, a do golpe, a partir da qual o
tráfico de droga aumentou na Guiné-Bissau. "Segundo certas
informações", dizia o secretário-geral da ONU, "esse tráfico
realizar-se-á com o apoio de membros das forças de defesa e segurança, bem como
das elites políticas."
"Centenas de
quilos de cocaína estarão assim a entrar clandestinamente em cada
operação" e cada operação terá lugar "uma ou duas vezes por semana
sem nenhuma intervenção dos poderes públicos", refere o secretário-geral
da ONU, no documento citado pelo PÚBLICO a 7/12/2012.
A segunda data
marcante, sublinha o diplomata, é 21 de Outubro, dia de um ataque a uma base
militar com vítimas mortais e que os críticos do regime viram como uma
encenação para justificar uma perseguição de opositores. Pessoas pertencentes à
etnia felupe, e que tinham sido acusadas do ataque, foram torturadas e algumas
mortas, fazendo recear a ocorrência de "violências e fenómenos de
dominação fundados em factores étnicos", lê-se no relatório.
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