AYL – MLL - Lusa
Os autarcas, a
população e até o padre da Trafaria, em Almada, estão contra um novo terminal
de contentores na freguesia e garantem que vão lutar contra esta decisão do
governo.
A população e os
autarcas reuniram-se hoje na Sociedade Recreativa Musical Trafariense, na
Trafaria, onde aprovaram por unanimidade uma resolução contra o terminal de
contentores, que deve ocupar uma área de 200 a 300 hectares de plano de água e
terra.
"Hoje
aconteceu aqui algo de singular no país, com poder local, população e agentes
de desenvolvimento local, todos juntos, a dizer não ao mega terminal de
contentores na Trafaria. Temos um caminho e uma estratégia diferente para esta
freguesia e este concelho", disse a presidente da Câmara de Almada, Maria
Emília de Sousa.
Durante o encontro,
várias pessoas usaram da palavra para criticar o anúncio do Governo e dar
ideias de luta, numa sessão que encheu a sociedade recreativa na Trafaria, com
a autarca a defender que o futuro deve passar pelos projetos da Costa da
Caparica e do Arco Ribeirinho Sul, capazes de criar "dezenas de milhares
de postos de trabalho".
"Posso dizer
que vamos avançar para todas a instâncias judiciais, incluindo o tribunal
europeu. Vamos também lançar uma petição para enviar à Assembleia da República,
para provocar a discussão sobre este assunto", referiu, afirmando que será
uma luta da freguesia e de todo o concelho.
Maria Emília de
Sousa disse também que achou estranho que não estivesse nenhum responsável do
Ministério do Ambiente no anúncio do Governo, efetuado na sexta-feira.
"Achei
estranho que não estivesse ninguém do Ambiente, o que quer dizer bastante. O
Ambiente está de fora e não pode ficar, tem que ter a primeira palavra. O
Ambiente tem que se pronunciar sobre o que pensa deste projeto", defendeu.
O padre Sérgio
Quelhas também está ao lado da população na oposição ao terminal de
contentores, referindo que vai ser "um desastre do ponto de vista
social".
"Do ponto de
vista social é um desastre, mais valia encerrar as portas de acesso à Trafaria.
Temos ainda as questões ambientais e turísticas, pois nunca se viu nenhum
turista a fotografar contentores. Tanta defesa do ambiente e, para interesses
económicos particulares, elas vão todas abaixo", disse à Lusa.
O padre da
Trafaria, que há cerca de um ano colocou uma faixa negra na igreja e lançou um
abaixo-assinado contra o terminal de contentores, disse que não percebe
"porque é que na Trafaria é que terá que ser a parte feia do rio
Tejo".
"Não vejo
nenhum benefício, a não ser pelos particulares. A Trafaria e o concelho não
lucraram nada com o terminal da Silopor na Trafaria e é a prova que nada de bom
traz. Vou dar o meu apoio na luta, pois em primeiro lugar estão as
pessoas", referiu.
O padre Sérgio
Quelhas considerou ainda que uma decisão desta dimensão sem ouvir a população é
"matar a democracia".
"Se já com o
outro Governo a democracia estava a ficar moribunda, isto é matar a democracia.
Não se ouve as pessoas, o espírito do 25 de Abril morreu e querem empurrá-lo
para debaixo de um mega terminal de contentores", concluiu.
O encontro dos
autarcas e população terminou com a aprovação da resolução e com todos os
presentes a cantarem "Grândola Vila Morena".
As associações de
moradores do Bairro 2º Torrão e da Cova do Vapor, ouvidos pela Lusa, referem
que o terminal de contentores pode trazer alguns benefícios.
No caso dos
moradores do Bairro 2º Torrão, que fica junto ao local onde vai nascer o
terminal de contentores, acreditam que pode ser uma solução para os retirar do
local onde vivem, enquanto os moradores da Cova do Vapor referem que pode
trazer benefícios de desenvolvimento económico, apesar de considerarem que fica
comprometido o projeto da autarquia.
Sem comentários:
Enviar um comentário