sábado, 23 de fevereiro de 2013

Portugal: GRÂNDOLA




José Diogo Madeira – Jornal i, opinião

É claro como a água que as pessoas andam preocupadas, enervadas e irritadas. Com um quinto da população sem emprego, sem perspectivas de crescimento económico, com o país falido e economicamente moribundo, outra coisa não seria de esperar. Só é admirar a passividade com que os portugueses têm suportado as recentes amarguras. Excepto a grande manifestação de 15 de Setembro, vimos poucos episódios de contestação maciça.

É verdade que, mais recentemente, houve aquela noite em que incendiaram uns caixotes de lixo em frente à Assembleia da República. Mas a proporção entre o desencanto e a violência anárquica é nenhuma. Daqui há quem infira que somos um "povo bom", outros dirão dóceis por natureza. Nos últimos dias, uns miúdos e uns indignados vaiaram uns políticos em locais públicos. Nada de novo, excepto a banda sonora entoada. Tirando o detalhe musical, o mesmo aconteceu a José Sócrates e aos seus ministros, nos últimos meses da sua governação. Faz parte do jogo democrático – o poder das instituições defende-se com guarda-costas e carros de vidros escuros, o poder das multidões conquista-se com gestos atrevidos e a raiar a desobediência civil. Mas chamar a estes contestatários ameaças à liberdade de expressão ou ao regime democrático é apenas transformar algozes em vítimas. O que estes pequenos grupos querem não é silenciar a liberdade de expressão do senhor primeiro-ministro ou dos seus ministros. O que esta gente quer são coisas simples: um emprego, uma pensão de reforma, um rendimento que lhes pague uma subsistência mínima. Toda a contestação que sai à rua, num país que têm pouca tradição de exigência cívica, é apenas movida pelas necessidades mais básicas da vida humana. Arranjem-lhes um emprego, uma casa num subúrbio e uns jogos da bola em canal aberto e tê-los-ão contentes e subjugados. Menos do que isso, a coisa alastra e um dia fazem um disparate.

Escreve à sexta-feira

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