José Diogo Madeira –
Jornal i, opinião
É claro como a água
que as pessoas andam preocupadas, enervadas e irritadas. Com um quinto da
população sem emprego, sem perspectivas de crescimento económico, com o país
falido e economicamente moribundo, outra coisa não seria de esperar. Só é
admirar a passividade com que os portugueses têm suportado as recentes
amarguras. Excepto a grande manifestação de 15 de Setembro, vimos poucos
episódios de contestação maciça.
É verdade que, mais recentemente, houve aquela
noite em que incendiaram uns caixotes de lixo em frente à Assembleia da
República. Mas a proporção entre o desencanto e a violência anárquica é
nenhuma. Daqui há quem infira que somos um "povo bom", outros dirão
dóceis por natureza. Nos últimos dias, uns miúdos e uns indignados vaiaram uns
políticos em locais públicos. Nada de novo, excepto a banda sonora entoada.
Tirando o detalhe musical, o mesmo aconteceu a José Sócrates e aos seus
ministros, nos últimos meses da sua governação. Faz parte do jogo democrático –
o poder das instituições defende-se com guarda-costas e carros de vidros
escuros, o poder das multidões conquista-se com gestos atrevidos e a raiar a
desobediência civil. Mas chamar a estes contestatários ameaças à liberdade de
expressão ou ao regime democrático é apenas transformar algozes em vítimas. O
que estes pequenos grupos querem não é silenciar a liberdade de expressão do
senhor primeiro-ministro ou dos seus ministros. O que esta gente quer são
coisas simples: um emprego, uma pensão de reforma, um rendimento que lhes pague
uma subsistência mínima. Toda a contestação que sai à rua, num país que têm
pouca tradição de exigência cívica, é apenas movida pelas necessidades mais
básicas da vida humana. Arranjem-lhes um emprego, uma casa num subúrbio e uns
jogos da bola em canal aberto e tê-los-ão contentes e subjugados. Menos do que
isso, a coisa alastra e um dia fazem um disparate.
Escreve à
sexta-feira
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