Mário Augusto
Jakobskind* – Direto da Redação
A imagem do
Congresso, que já não era das melhores, agora ficou ainda pior com a eleição de
Renan Calheiros para a presidência do Senado com 56 dos 68 votos. E na Câmara
dos Deputados, o outro pemedebista, Henrique Eduardo Alves, obteve 271 votos e
ainda promete uma “gestão palpitante”.
Calheiros, ex-tudo,
inclusive ministro do famigerado governo de Fernando Henrique Cardoso, prometeu
transparência. Seria cômico se não fosse trágico.
Além de outras
promessas, Calheiros deixou claro em sua “plataforma” de quatro pontos a
rejeição de qualquer proposta de regulação da mídia e ele alega ser defensor da
liberdade de expressão.
O “ilustre”
senador, que também age na área midiática, quer manter o setor da forma como é
atualmente, inclusive com as ilegalidades de parlamentares proprietários de
veículos de comunicação ou a cessão por parte deles para laranjas mantenedores
do status quo midiático.
Calheiros se soma
ao esquema midiático conservador, do qual faz parte, que está impedindo
qualquer tipo de debate objetivando um novo marco regulatório no setor. Deixou
claro e contará com o apoio da base aliada para este fim. Segue a pauta dos
colunistas de sempre.
O PSB sentindo-se
envergonhado pulou fora do esquema que tem como justificativa a chamada
governabilidade.
Só que o outro
candidato, Pedro Taques, do PDT, não é lá essas coisas. Tem se notabilizado por
posicionamentos moralistas muito aproveitados pela mídia de mercado.
Tendo em vista tudo
isso e muito mais, é de causar espécie o fato de o deputado Henrique Alves, de
uma tradicional família da elite do Rio Grande do Norte, tornar-se, como
produto de um conchavo político escabroso, o terceiro na ordem de sucessão. Ou
seja, depois de Dilma Rousseff e Michel Temer, a cadeira de presidente fica com
ele. E depois dele, Renan Calheiros.
Imaginava-se,
sinceramente, que o Brasil estivesse em melhores condições do que em outros
tempos.
O pessimismo se
estende às áreas de muitos Estados, como o Rio de Janeiro, por exemplo, onde o
Governador Sérgio Cabral tem feito de tudo para agradar o amigo empresário Eike
Batista, que quer comprar, e já comprou, áreas da cidade do Rio de Janeiro, da
Glória ao Pontal.
Os movimentos
sociais estão atentos e têm denunciado o esquema de favorecimento, como, por
exemplo, nos arredores do Maracanã.
Na Aldeia Maracanã,
onde representantes dos povos originários estão sobrevivendo desde 2006, o
prédio do antigo Museu do Índio, por decisão da Justiça, não será demolido. É
um prédio histórico, se recuperado poderá ser transformado em um espaço de
cultura indígena.
A Ministra da
Cultura, Marta Suplicy, já acenou nesse sentido ao se posicionar pela
manutenção do prédio, o que deixou furioso o governador do Estado do Rio de
Janeiro, que está sendo obrigado a voltar atrás no que tinha formulado
açodadamente.
Cabral pensava em
demolir o prédio, construído em 1867 e onde trabalharam pelos indígenas o
Marechal Rondon e Darcy Ribeiro, entre outros, e transformar o espaço em área
para estacionamento de carros dos consumidores de um futuro shopping,
possivelmente sob controle de Eike Batista, o empresário que ampliou seus
serviços com a inestimável ajuda do pai, Eliezer Batista, ministro de vários
governos e detentor de informações privilegiadas.
Mas a mobilização
continua por parte dos movimentos sociais, atletas, professores e pais de
alunos, que querem evitar a demolição do Estádio de Atletismo Célio de Barros e
o Parque Aquático Júlio Delamare, bem como a Escola municipal Friedereich, já
tombada pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.
Um país com
desempenho olímpico sempre sofrível, com algumas exceções, e todas elas
geralmente por esforço pessoal, o Poder Público em vez de incentivar o
desenvolvimento dos desportos prefere demolir locais históricos onde se formam
atletas, como o Célio de Barros, dando prioridade à construção de shoppings com
estacionamento para os torcedores de futebol gastarem.
E depois de cada
olimpíada vem o lenga-lenga analítico sobre os motivos da colocação medíocre do
Brasil nas competições, também acompanhadas de promessas de incentivos públicos
e privados, que nunca saem ou quando saem não passam de migalhas.
Tudo muito
lamentável, de federal, estadual e municipal, que só pode ser evitado com a
conscientização da população, manifestada através de mobilizações.
Estado delinquente
Na área
internacional, Israel foi justamente condenado na Comissão de Direitos Humanos
da Organização das Nações Unidas pelo que vem fazendo em matéria de
assentamentos desde 1967.
Os sucessivos
governos estimulam a construção de assentamentos em territórios que ocupam para
evitar o surgimento de um Estado Palestino sem solução de continuidade em suas
terras. São mais de 500 mil colonos que deveriam ser removidos se Israel
realmente quisesse a paz com os palestinos.
Além de não aceitar
a determinação da ONU, tal qual um Estado delinquente, Israel responde em
termos ofensivos à Comissão de Direitos Humanos da ONU.
Merece não só o
repúdio como medidas efetivas da comunidade internacional.
Carnaval carioca
Os cariocas estarão
homenageando no bloco Inimigos do Império, na terça-feira de Carnaval, as
14 horas, em frente ao bar Tio Sam, na rua Dias Ferreira, no Leblon, a
integração latino-americana. Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Cristina
Kirchner, Fidel e Che foram lembrados no samba enredo da integração latino-americana.
*É correspondente no
Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros,
de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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