Cândido Rodrigues –
Liberal (cv), opinião
Nestes últimos
dias, os deputados do Movimento para a Democracia apresentaram na Assembleia
Nacional uma interpelação ao governo sobre o relatório da queda da ponte da Boa
Vista; anel rodoviário do Fogo e outras obras no país, para anistiar os
envolvidos em processos sobre crimes e corrupção, tendo o governo através do
seu chefe, considerado a inflação do orçamento e outros sinais graves de
irregularidades como normais, quando estamos numa floresta de obras. mas
ironicamente resolveu não aparecer no parlamento neste dia como também havia
feito a ministra Janira Hopffer Almada na sequência do caso de nepotismo envolvendo o querido esposo.
Nos últimos tempos,
a corrupção recebeu mais atenção e espaço nos debates públicos, não só em Cabo
Verde como também na diáspora, o que parece despontar algum interesse na
opinião pública sobre esta matéria, sobretudo com o aumento da riqueza de
alguns membros de governo. Mas o premier não é assim tão parvo e não deixou
passar em branco o assunto, tendo logo no outro dia viajado para São Vicente
tentando lançar o debate sobre a regionalização para desviar a atenção sobre
este bizarro assunto que é tema de conversa em todos os cafés e tascas de Cabo
Verde. A oposição não deverá nunca entrar nesta isca lançada, porque este assunto
não deverá morrer solteiro como tantos outros que passaram durante estes anos
de governação. Até porque o paicv nunca esteve interessado com a questão da
regionalização e não entendo por que tanta pressa agora, quando o país
necessita de medidas para conter as despesas e a melhoria no funcionamento da
nossa justiça.
Isto não significa
que a questão seja uma novidade . O temor em relação à corrupção, entre atores
políticos e instituições, é recorrente em Cabo Verde, como os casos do saco
azul; o desvio de vinte e cinco mil contos do cofre da Câmara Municipal dos
Mosteiros na altura em que Júlio Correia era presidente da autarquia; o caso do
INPS, a construção da moradia do primeiro-ministro ma Prainha; a adjudicação
das obras; as nomeações e por ai fora.
No caso da queda da
ponte da Boa Vista, por exemplo, o relatório indica que foram omitidos dados
pluviométricos e hidráulicos anteriormente observados no dimensionamento da
obra e que foi implementada uma modalidade de relacionamento entre projetistas,
empreiteiros e fiscalização que "colide" com a legislação vigente e
que "não salvaguardou a independência" da fiscalização. No documento
constam responsabilidades para várias empresas, entre elas a construtora
portuguesa MSF, e o próprio governo. A atual ministra, num vai vem de
justificações, acabou por condenar o ex-ministro das Infraestruturas, Manuel
Inocêncio, tendo esquecido de que o governo é o mesmo e que o chefe do governo
continua ainda no poder e Manuel Inocêncio é agora PCA de uma empresa do Estado
sob a tutela da senhora ministra.
No famoso anel
rodoviário da ilha do vulcão, segundo uma auditoria técnica, o contrato desta
obra está embrulhado num rótulo de ilegalidades, tendo o projeto várias redes
de abastecimentos, numa teia instalada onde se destaca a construção de um
empreendimento de luxo, uma vila com 12 habitações, parque de estacionamento,
entre outras valias. Uma autêntica vergonha para uma ilha que sempre foi fiel a
este partido. Uma obra que ainda não saiu do papel, mas está já mergulhada num
plano gigantesco de corrupção com contratos de cedência de um terreno para
instalar a base logística da obra, garantindo ao proprietário que, de volta,
recebe um aldeamento de luxo a custo zero para não falarmos de carros de alta
cilindrada que foram compradas com dinheiro desta obra e estão na posse do
senhor José Maria Neves, na capital.
Tudo isto são
questões que o senhor primeiro-ministro quer evitar, ou pelo menos desviar a
atenção da opinião pública. Solicitar uma CPI para o esclarecimento da criação
e gestão das Zonas de Desenvolvimento Turístico Integrado no ano de 1993, são
indícios evidentes de que o propósito do paicv é desviar do cerne do escândalo
e nunca o interesse de proteger ou minimamente zelar para o bem público. O
estranho é que, depois destes longos anos, apareçam agora numa altura crucial
em que o País necessita de dados sobre estes casos, tentam confundir as pessoas
com CPI’s. Se realmente existiram irregularidades e crimes, não entendemos o
porquê da CPI somente agora. As motivações são, no mínimo, estranhas. Mas
queria aqui deixar bem claro que qualquer dirigente político, de qualquer
partido, envolvido em práticas de corrupção deve ser chamado à Justiça. Assim,
os fanfarrões que vivem desta prática envolver-se-iam na política por uma causa
justa e não para enriquecimento ilícito.
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