Na Cadeia Central
de São Martinho
Liberal (cv)
É um caso
inusitado. O problema nem é tanto o bebé estar na companhia da mãe, coisa comum
em países desenvolvidos. O problema é que a prisão não garante condições
mínimas, as duas partilham a mesma cela com mais 12 reclusas e dormem numa cama
de cimento
Praia, 12 fevereiro
2013 - Encontra-se presa na Cadeia Central de São Martinho, uma mãe com uma
criança de apenas três meses, condenada pelo crime de ofensa à integridade
física. A mãe e o bebé partilham uma cela juntamente com mais 12 pessoas, há
mais de 8 dias. e dormem numa cama de cimento.
A mãe do bebé tinha
sido condenada pelo Tribunal da Comarca de Santa Catarina a uma pena de prisão
de 4 anos e recorreu para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Mas, há uma
semana, o STJ decidiu confirmar a prisão da mulher que foi imediatamente detida
com a criança.
VIOLAÇÃO DOS
DIREITOS DA CRIANÇA
Esta situação já
provocou uma onda de indignação no seio dos familiares da reclusa que,
entretanto, procuraram a redação deste diário digital para denunciar ao país e
ao mundo o que consideram ser uma violação flagrante dos direitos de uma
criança de tenra idade. “Entendemos que esta criança recém-nascida não deveria
estar nas condições infra-humanas em que se encontra. É a primeira vez, na
história da reclusão em Cabo Verde, que uma criança, de apenas três meses, é
presa juntamente com a mãe. Isto é de uma heresia inqualificável que mancha,
naturalmente, a nossa Justiça e os direitos da criança”, observa um dos
familiares que pede anonimato.
Os familiares vão
mais longe, ainda, e pedem a intervenção urgente da Comissão Nacional para os
Direitos Humanos e Cidadania, do Ministério da Justiça e do próprio Supremo
Tribunal de Justiça, enquanto Tribunal Constitucional. “Não podemos ficar
indiferentes perante uma situação tão grave quanta esta que põe em causa os
direitos de uma criança recém-nascida e presa, juntamente com a mãe”, garante o
porta-voz da família, acrescentando que, a prevalecer a situação, os familiares
temem pela vida da criança.
DIRETOR-GERAL NÃO
FAZ NADA
De acordo, ainda,
com a nossa fonte, e por incrível que pareça, esta situação é do conhecimento
do Diretor-geral dos Serviços Penitenciários e Reinserção Social, Jacob
Vicente, que, entretanto, ao tomar conhecimento do caso, deslocou-se à Cadeia
de São Martinho para visitar a mãe e a criança. Contudo, enquanto psicólogo, o
responsável máximo das cadeias em Cabo Verde, não fez rigorosamente nada para
retirar a criança da mãe e entregá-la à família.
Em vários países do
mundo, nomeadamente na Europa, é permitido às mães reclusas terem os filhos
menores à sua guarda, porém, de momento que garantidas as condições mínimas de
habitabilidade para as crianças. Por exemplo, no Estabelecimento Prisional de Tires
(Portugal) existe uma “Casa das Mães” (na foto) onde as crianças podem
permanecer com as progenitoras até aos três anos de idade. No entanto, nesta
prisão portuguesa existem infraestruturas e condições adequadas a tal fim,
nomeadamente, um jardim-de-infância, educadoras, apoio clínico permanente para
crianças e alojamento individual para mãe e filho. Uma situação bem diferente
daquela vivida em São Martinho.
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