Deutsche Welle
Com Europa atenta,
país vai às urnas por dois dias para decidir se reinstaura o
"Cavaliere" no poder ou se dá governo ao social-democrata Bersani.
Ex-ator Beppe Grillo e premiê Mario Monti podem ser chave em coalizão.
Ele fala como uma
metralhadora. Livre, sem manuscrito, por mais de uma hora. O cabelo longo,
grisalho e ondulado balança quando o homem atarracado, vestido numa parca
acolchoada, sobe ao palco e agarra o microfone com a mão direita – a esquerda
ele usa para gesticular. Os gestos e as piadas encaixam. Beppe Grillo ganhou
fama como humorista e ator, mas há alguns anos vem dando calafrios em políticos
italianos consagrados. Seu movimento, o Cinco Estrelas, cresce cada vez mais e
teve sucesso nas eleições regionais e municipais.
Beppe Grillo quer
agora entrar para o Parlamento nacional, através das eleições legislativas
deste domingo e segunda-feira (24-25/02). As pesquisas de intenção de voto
colocam seu movimento como a terceira força na corrida eleitoral, à frente do
bloco do atual primeiro-ministro, Mario Monti.
O ex-ator batizou
de "Tsunami" o seu giro pela Itália em busca de votos. Ele mira nos
insatisfeitos, não é de direita nem de esquerda, mas convence com teses
populares. Diante de cerca de 70 mil pessoas em Turim, Grillo se lança contra o
plano de austeridade do governo Monti, que defende a elevação da idade mínima
de aposentadoria para 70 anos.
"É ele que
deveria se aposentar. Não queremos aposentadoria aos 70 anos, e sim aos 60. E
basta!", diz, ovacionado, o ator, que descarta fazer parte de qualquer
coalizão com grandes partidos. O movimento Cinco Estrelas, afirma, dará
"uma esperança de mudança" para as crianças do país.
Sem debates
O conservador
Berlusconi, forçado a renunciar em 2011 devido às fracas políticas
implementadas em meio à crise europeia, busca um retorno. A última pesquisa
publicada antes da eleição coloca a coalizão de centro-direita do
"Cavaliere" entre cinco e sete pontos percentuais atrás do bloco de
centro-esquerda do social-democrata Pier Luigi Bersani. Há indicações de que
Berlusconi teria crescido mais, o que não se pode confirmar, já que as leis
italianas não permitem a divulgação de pesquisas nas duas semanas precedentes
ao pleito.
Berlusconi, de 76
anos e respondendo, no momento, a três processos criminais, acusa a esquerda de
mentir e ser responsável pela crise. Junto com o partido xenófobo Liga Norte,
ele tenta angariar votos, usando de promessas nebulosas. "A primeira ação
do meu novo governo será libertar os cidadãos dos impostos injustos e devolver
as taxas de 2012", disse, com pose de estadista, durante a campanha em
janeiro.
Mario Monti
introduziu os impostos na guerra contra a crise. Desde então, Berlusconi
cresceu nas pesquisas, e a distância para os social-democratas diminuiu. Os
atritos do ex-premiê com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, parecem ter
caído bem. Até ameaças de deixar a zona do euro ele já fez aos alemães, caso o
Banco Central Europeu não desse dinheiro à endividada Itália.
Esquerda favorita
Analistas
eleitorais não se arriscam a prever uma volta de Berlusconi. "O particular
sistema eleitoral italiano dá à bancada mais forte um bônus na divisão de
cadeiras no Parlamento. Ela recebe, de qualquer maneira, uma maioria
absoluta", explica uma porta-voz da direção eleitoral no Ministério do
Interior.
No atual panorama,
o partido mais forte seria o social-democrata que, aliado aos verdes e a outra
legenda de esquerda, daria o poder a Bersani. O ex-comunista e ex-ministro é
quem tem mais chances de liderar o futuro governo.
Bersani quer, em
princípio, levar adiante a reforma política do tecnocrata Mario Monti, mas, ao
mesmo tempo, fazer mais pelo crescimento e o emprego no país. "A Europa
deve esperar que a Itália seja a solução, e não o problema", afirmou
durante visita recente a Berlim.
O chefe dos
social-democratas brinca com as promessas do concorrente Berlusconi. "Isso
é show humorístico, e para isso não tenho tempo", disse em entrevista à
televisão. "A única coisa que Berlusconi pode fazer melhor é deixar o
cabelo crescer", brincou, em referência à recente operação de beleza a que
se submeteu o ex-premiê.
De fato, Berlusconi
exibe hoje um cabelo relativamente denso, em comparação com a calva de antes.
"Bella figura" – ou seja, causar uma boa impressão – é uma paixão
compartilhada também por muitos na Itália.
O partido de Mario
Monti é, por outro lado, apenas a quarta força. Ele não queria de forma alguma
se envolver, mas agora pode desempenhar papel importante na coalizão dos
socialistas. Seu apoio pode ser útil para impedir que a coalizão de
centro-direita de Berlusconi consiga maioria no Senado.
Novo governo, velho
caminho?
A economia está
minguando, e o desemprego está alto. A dívida pública já chega a 130% do
Produto Interno Bruto (PIB). Nesse contexto, diz o diretor da Câmara de Comércio
Ítalo-Alemã em Milão, Norbert Pudzich, não há grande alternativa para a
consolidação do orçamento estatal e para mais reformas na Itália.
"Quando se
olha para as declarações e o programa de cada partido, os grandes blocos de
centro-esquerda e centro-direita concordam amplamente na apresentação dos
objetivos. Mas todos aguardam ansiosos como isso será posto em prática no fim
das contas", opina.
Também na sede da
União Europeia, em Bruxelas, esperam-se com ansiedade os resultados da eleição.
Em janeiro, no Parlamento Europeu, o comissário europeu para Assuntos
Econômicos e Monetários, Olli Rehn, alertou sobre uma possível volta de Silvio
Berlusconi. No auge da crise financeira na Itália em 2011, disse o comissário,
o então premiê fez promessas que não cumpriu.
Isso levou a um
impasse político. Até aqui, a Itália não recorreu a qualquer socorro financeiro
da União Europeia. Pelo contrário: hoje, o país é o terceiro maior contribuidor
dos fundos de resgate, atrás apenas da Alemanha e da França.
As urnas fecham na
segunda-feira, às 15h (11h em Brasília). Informações confiáveis sobre a
distribuição das cadeiras no Parlamento só devem chegar à noite, devido ao
complicado sistema eleitoral italiano. Segundo pesquisa do jornal Corriere
della Sera, entre 25% e 30% dos eleitores ainda estão indecisos.
Autor: Bernd
Riegert (rpr) - Revisão: Augusto Valente
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