terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Franquelim Alves. Trabalhar na SLN “foi o grande erro da minha vida” profissional




Ana Suspiro – Jornal i – foto António Cotrim

Passou pela Sociedade Lusa de Negócios, dona do BPN antes da nacionalização. Ouvido na comissão de inquérito em 2009, Franquelim Alves defendeu que a intervenção do Estado deveria ter incluído a área não financeira da SLN

“Se eu soubesse jamais teria posto os pés naquela casa”. O desabafo de Franquelim Alves foi feito a 24 de Março de 2009 perante a primeira comissão parlamentar de inquérito à nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN).

O novo secretário de Estado da Empreendedorismo, Competitividade e Inovação foi administrador da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) para os negócios não financeiros da holding que controlava o BPN quando os accionistas tentavam afastar Oliveira e Costa. Nesta altura, foram descobertas as maiores irregularidades e fraudes que vieram a resultar na nacionalização, em Novembro de 2008. Convidado por Joaquim Coimbra, um dos principais accionistas da SLN em Novembro de 2007, só em Janeiro de 2008 é que a sua nomeação para a administração da SLN é consumada. Em Fevereiro sai Oliveira e Costa que é substituído por Abdool Vakil.

Apesar de ter passado pelo governo do PSD (com o CDS), Franquelim Alves tem um currículo de gestor que o distingue de outros ex-governantes (sobretudo cavaquistas) que passaram pelo BPN e a SLN, – esteve na Lusomundo, Jerónimo Martins e PT. A sua missão era tomar conta do negócio não financeiro do grupo, preparando a sua divisão da área financeira. A SLN era um conglomerado que operava na saúde, cimentos, componentes automóveis, tecnologia e muito imobiliário. Eram mais de 100 empresas com 4000 trabalhadores e operações fora do país. O “desafio” que prometia ser “bastante difícil” acabou por se transformar em “drama”, a ponto de Franquelim Alves classificar a experiência como tendo sido “provavelmente o pior erro da minha vida, em termos profissionais”. Aos deputados, o gestor explicou que faltavam fundos, mas também quadros com know-how, para além de informação rigorosa e credível sobre o universo empresarial.

Franquelim Alves estava na administração da SLN quando foi detectada a situação do Banco Insular, banco em Cabo Verde por onde passaram centenas de milhões de euros de operações irregulares e perdas não reconhecidas e que vieram a ser imputadas ao BPN. A descoberta do buraco chega às reuniões da administração em Março e os deputados, em particular Nuno de Melo do CDS, quiseram saber porque é que só foi comunicado ao Banco de Portugal a 2 de Junho de 2007. “Houve acima de tudo uma atitude de prudência de apenas comunicar ao Banco de Portugal as situações no momento em que havia certeza inequívoca que havia casos de irrregularidades, e, no caso do Banco Insular, de fraude efectiva”. Só em Maio, respondeu Franquelim Alves, “tive informação exaustiva daquilo que estávamos a falar”.

Na audição, o gestor defende que “face à dimensão dos problemas, era necessária uma intervenção do Estado” que não teria necessariamente que ser a nacionalização, mas que deveria ter passado por uma solução integrada com a SLN. “É o meu entendimento de que a área não financeira, deixada isolada da solução do banco, dificilmente sobrevive”. E estávamos a falar de negócios que na sua dimensão total empregavam mais de 6000 pessoas. Esta foi a divergência que teve com Miguel Cadilhe, que assumiu a liderança do BPN no Verão, e que o levou a apresentar a demissão em Outubro por discordar de uma estratégia para o saneamento centralizada no BPN.

Franquelim Alves foi ouvido uma vez na comissão de inquérito e tanto quando é publico nunca foi constituído arguido em qualquer processo ligado ao BPN.

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