Voz da Rússia
A falta de água
pode travar o progresso técnico – advertem os especialistas da ONU em seu
relatório com o título assustador de "Gestão dos Recursos Hídricos em
Condições de Indefinição e Risco". Os autores do documento exortam a
planejar a distribuição da água e lembram que um bilhão de pessoas no planeta
não tem acesso a ela. A Rússia, com os seus recursos, pode contribuir para
melhorar a situação.
Haverá no planeta
uma guerra pela água? Os especialistas tentam responder a esta questão. O
relatório da ONU diz que, até meados do século, o consumo de água doce no setor
agropecuário aumentará em mais 20%. Isto está relacionado com o aumento das
necessidades de água na produção. Grande parte do líquido vai para regar as
culturas agrícolas. Por exemplo, são necessários cerca de 500 litros para se
obter um quilo de trigo.
Entretanto, as
causas da escassez de água doce no planeta estão não apenas no aumento da
procura de géneros alimentícios. Importante papel nesse processo é desempenhado
pela mudança do clima no planeta –explica o co-presidente do grupo ecológico
russo Ecozashita (Ecodefesa) Vladimir Sliviak.
"A mudança do
clima é um desequilíbrio, um caos natural, que provoca, por exemplo, mudança
muito brusca e frequente das temperaturas, neve no verão. A influência desse
processo será tal que, nas zonas onde caem muitas precipitações, estas
aumentarão ainda mais. Pelo contrário, nas regiões onde falta água, haverá
ainda menos."
Entretanto, nem
todos os especialistas concordam que as oscilações da temperatura possam
influir sobre o abastecimento de certas regiões. Sobretudo, o problema está não
na escassez do líquido como tal – considera o ecologista Alexander Bogoliubov.
"Não há
lugares na Terra onde não haja água a uma certa profundidade.. A questão é que
alguns países não têm possibilidade de escavar poços de um quilómetro e tirar
essa água. Se nesse local existir um país civilizado com os equipamentos
técnicos necessários, não haverá tais problemas."
Mais de dez países
no planeta estão situados em territórios áridos. São eles o Egito, a Arábia
Saudita, o Iémene e outros. Mas este é um problema que pode ser resolvido –
salientam os especialistas. A saída mais simples e racional da situação é a
distribuição dos recursos. Na opinião dos ecologistas, o Brasil poderia ser uma
espécie de “doador”. Para a Rússia, a água poderia se tornar uma fonte de
renda, igual ao petróleo ou gás. O diretor geral do Centro Principal de Testes
Hídricos, Iuri Gontchar, tece as suas considerações.
"Atualmente os
empresários russos estão estudando programas de construção de condutas de água
da região do Cáucaso para os portos. Nestes, seriam enchidos tanques para o
transporte de água para o Sul da Europa e África. Faz sentido estudar apenas o
uso racional dos recursos e redistribuição sem consequências, sem desviar rios
nem bombear um rio para outro."
A prática de
mudança de cursos de rios é muito popular agora. O governo da China gastou
dezenas de bilhões de dólares para fazer um rio mudar de curso e abastecer o
norte do país. Os ecologistas consideram que semelhantes ações não ficarão sem
consequências. O mesmo acontece com o bombeamento ativo de água do subsolo na
Arábia Saudita. Segundo previsões dos especialistas, as reservas subterrâneas
do líquido neste país podem terminar já dentro de 40 anos se a política de
abastecimento de água da região não mudar. É verdade que em Er Riad já tomaram
consciência da envergadura do problema e passaram a adquirir ativamente terras
para a agricultura em outros países, para além de desenvolverem tecnologias
para obtenção de água potável. Iuri Gontchar fala sobre um desses sistemas:
"A Arábia
Saudita investe dinheiro em membranas para dessalinização da água (nos últimos
5 anos mais de 10 bilhões de dólares) Através de membranas porosas especiais, a
água é destilada, sendo os sais retidos. Mas isto é para países ricos. Por
isso, nos países pobres fala-se de programas de dotações."
O problema do
abastecimento de água da população exerce influência considerável sobre a
economia dos países. A escassez de água pode levar à emigração da população dos
países pobres e, no caso dos países ricos, à dependência das regiões com
grandes reservas de recursos hídricos. Quer em um ou em outro caso, a
instabilidade social pode levar ao surgimento de conflitos. A luta pelo acesso
à água pode se transformar literalmente em oposição armada.
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